OPINIÃO

Educação ambiental: um desafio transdisciplinar

Maria Eugenia Turra Gastaldello / Publicado em 7 de outubro de 1997

A questão ambiental não pode ser reduzida ao campo específico das ciências da natureza ou das ciências humanas. Ela convoca diversos campos do saber, pois a questão ambiental, na verdade, diz respeito ao modo como a sociedade se relaciona com a natureza.

Estão aí implicadas, portanto, as enigmáticas relações sociais e as complexas relações entre o mundo físico-químico, energia e mundo orgânico. Assim sendo, nenhuma área de co-nhecimento específico tem competência para tomar decisões isoladas a cerca da questão ambiental, mas todas elas estão intimadas a contribuir.

A questão ambiental é assim mais que um campo interdisciplinar, pois nela se intercruzam o conhecimento técnico-científico, as normas e valores, o estético-cultural, regidos por razões diferenciadas, porém não dicotômicas. Ela requer um campo de comunicação intersubjetiva, não viciado e não manipulado, para que a região comunicativa possa se dar efetivamente. Enfim, requer fundamentalmente democracia. Vemo-nos, assim, lançados no terreno da polis, da política, ou seja, dos limites que os homens livres, autonomamente, se auto-impõem.

Mais do que nunca, a natureza encontra-se inexoravelmente vinculada à cultura. Portanto, precisamos aprender a pensar transversalmente as alterações entre ecossistemas, mecanosfera e universos de referências sociais e individuais, visto que cada vez mais, os equilíbrios naturais dependerão das intervenções do homem. Pois, é na articulação da subjetividade em estado nascente, dos sócios em estado pulsante e do meio em estado mutante, que reside a possibilidade de encontrar soluções para as crise econômica, energética e ambiental em que a humanidade encontra-se mergulhada, todas elas subsidiadas de alguma forma pela crise ético-moral, causando riscos enormes ao equilíbrio da Terra e à sobrevivência das futuras gerações humanas.

As agressões ao meio ambiente decorrem de opções equivocadas na estrutura dos sistemas produtivos e econômicos, exigindo não somente uma revisão, mas, sobretudo, uma urgente reversão, processo no qual a educação pode oferecer relevantes contribuições.

Embora necessárias, as políticas em defesa da natureza têm se mostrado insuficientes, visto que a complexidade da situação extrapola a mera concepção conservacionista, exigindo talvez um posicionamento mais intervencionista, como o sugerido pelo paradigma do desenvolvimento auto-sustentável, que se bem revisado, exigirá novas relações interativas entre sujeito, sociedade e meio ambiente.

Somente um design educativo com horizontes mais promissores, será capaz de instaurar novos sistemas de valoração, geradores de um patamar atitudinal que sustente outras normas de conduta, possibilitando o uso racional/sensato/equilibrado dos recursos naturais, através de melhor eficiência do sistema sócio produtivo com minimização dos riscos ambientais associados. Portanto, outros sistemas de valor precisam ser levados em conta quando a meta é conviver respeitosamente com as espécies que habitam a biosfera terrestre, zelando pela rede de recursos que a ela oferece guarida.

Assim sendo, passa a ser cada vez mais legítima e salutar a insistência no desenvolvimento de matrizes ético-morais reguladoras do instinto predatório humano, instigados da busca do lucro econômico a qualquer preço.

Ao colocar em cenário o modus vivendi de cada cultura, a questão ambiental denuncia que, quando se sabe o preço de tudo e o valor de nada, os projetos que buscam qualidade são reduzidos a vagas quimeras.

Para reverter esse quadro, não basta conscientizar, é preciso, sobretudo, mobilizar para a ação concreta. Não basta informar, é fundamental educar.

Portanto, somente propostas de educação ambiental ancoradas em atividades de pesquisa podem contribuir efetivamente quanto ao mapeamento nuclear de problemas, evidenciando respectivas interfaces peculiares à abordagem sistêmica. Dessa forma, evitar-se-á que premissas falaciosas continuem subsidiando tomadas de decisões interesseiras e por isso nada interessantes à sociedade.

Já é possível detectar os promissores resultados epistêmicos decorrentes do trânsito entre as diversas áreas do conhecimento, visto que daí se obtém habilidades não só para construir como para desconstruir e reconstruir enunciados a cerca dos objetos de estudo, permitindo assim diminuir os equívocos e ampliar a probabilidade de intervenções construtivas.

* Maria Eugenia Turra Gastaldello é professora na Universidade de Caxias do Sul, mestre em Educação pela UFRGS, secretária de Educação e Cultura da FETEE-SUL.

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