CULTURA

Canto lírico no Laranjal

Doris Fialcoff / Publicado em 6 de março de 1998

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Montserrat Caballé, soprano espanhola, um dos grandes nomes do canto lírico internacional, se apresentará no próximo dia 28 de março em Pelotas. O espetáculo, que conta com o apoio cultural do Sinpro/RS, será realizado no Condomínio Horizontal Costa Verde, às margens da Lagoa dos Patos, na praia do Laranjal. A Orquestra Sinfônica de Porto Alegre estará acompanhando a cantora, sob a regência de seu maestro titular, Cláudio Ribeiro.

Os ingressos para o evento estão à venda nas lojas Renner de todo estado, a preços que variam entre R$ 10 e R$ 50. Os sócios do Sinpro/RS podem adquiri-los com desconto de 20%, apresentando o Cartão do Associado.

Montserrat Caballé estreou na Basiléia, em 1965, e logo estava cantando na Espanha, Alemanha e Portugal. Mas a sua carreira internacional começou, de fato, em Nova Iorque, quando foi convidada para interpretar Lucrezia Borgia na American Opera Society. O sucesso foi tanto que, depois da primeira ária, foi homenageada com vinte minutos de aplausos. Desde então, a soprano tem circulado pelos maiores teatros de ópera do mundo, como o Scala de Milão, Metropolitan de Nova Iorque, Staatsoper de Viena, Royal Opera House Covent Garden de Londres, Opera de Paris, Gran Teatro del Licco de Barcelona, e por aí vai.

Como Caballé tem alternado suas apresentações operísticas com recitais e concertos, é comum vê-la também em grandes salas como a Royal Festival Hall de Londres, a NHK Hall de Tóquio, o Théatre des Champs Elysées de Paris. Como solista, ela tem cantado com as mais prestigiadas orquestras e famosos diretores, entre eles James Levine, Claudio Abbado, Seiji Ozawa, Sir Colin Davis e Leonard Bernstein.

Com um repertório imenso, que vai desde Luisa Miller à Salome, de Pamina até Isolde, a cantora é mais conhecida pelas suas interpretações das grandes rainhas das tragédias de Donizetti. Apesar de ser a diva da música lírica, sua participação no álbum Barcelona, de Freddie Mercury, a faz chegar a outros públicos, trabalho que está dando continuidade em um novo projeto com o Vangelis.

A cidade de Pelotas foi escolhida para a realização do concerto como um marco inicial da campanha de restauração do seu Teatro Sete de Abril, o mais antigo do Sul do país, além de fazer parte de projeto do Governo do Estado de recolocar o Rio Grande do Sul na rota dos grandes espetáculos operísticos, bem como popularizar este gênero musical. O evento tem a pro-moção da Secretaria da Cultura do Estado e Prefeitura Municipal de Pelotas. As Lojas Renner e a empresa Josapar (arroz Tio João) são os patrocinadores.

Montserrat Caballé estará em casa

Beto Rodrigues

No último dia 8 de fevereiro, Montserrat Caballé foi visitada, em Barcelona, pelo videomaker e produtor Beto Rodrigues, colaborador de Extra Classe, e concedeu a seguinte entrevista:

Beto Rodrigues – A senhora já se apresentou alguma vez no Brasil?
Montserrat Caballé – Sim, várias vezes. Estive no Municipal do Rio de Janeiro e no Municipal de São Paulo. A primeira vez que estive em seu país faz já 25 anos.

BR – E como lhe pareceu a acolhida do público brasileiro?
MC – Surpreendente e calorosa. Descobri que a sensibilidade musical do brasileiro comporta vários estilos e formas de expressão musical e que o público para a música lírica é bem significativo.

BR – Qual a sua expectativa em apresentar-se no Sul do Brasil pela primeira vez?
MC – É muito grande. Eu sei da relação próxima do Rio Grande do Sul com a cultura espanhola e de que me sentirei em casa ali. Eu tenho, inclusive, muitos amigos que vivem na região do Cone Sul da América Latina, vários deles espanhóis.

BR – A senhora conhece alguma coisa da música lírica e de concerto brasileiras?
MC – Sim, eu inclusive interpretei As Bachianas de Villa Lobos a primeira vez em que estive no Brasil. Nesta ocasião e nas posteriores, eu tive a oportunidade de adquirir vários discos de música brasileira, também de música popular e me encantei com sua sonoridade.

BR – A senhora acredita que o público brasileiro está motivado para a música lírica?
MC – Sem dúvida. Eu creio que existe um grande número de aficcionados da música lírica e operística no Brasil inteiro. Existem importantes teatros com temporadas operísticas e quase todos os grandes nomes do canto lírico tem se apresentado no país. A minha própria experiência atesta isso.

BR – E como será o seu concerto em Pelotas?
MC – Eu estou preparando um programa que agradará bastante ao público…

BR – E a senhora pode nos adiantar algo deste programa?
MC – Sim, claro. Penso em cantar árias de Rossini, Verdi, Puccini e compositores espanhóis também. Talvez seja incluído no repertório também música de autores populares como Vangelis.

BR – A senhora inclusive contribui para a aproximação entre a música lírica e música pop.
MC – Sim, não foram muitas experiências, mas foram maravilhosas. No ano passado, inclusive, tivemos um concerto em comemoração aos dez anos da gravação que eu havia realizado junto com Freddy Mercury. Este concerto resultou em um grande disco, onde participaram muitos artistas do mundo lírico e da música pop, a exemplo de Vangelis.

BR – Como a senhora vê o futuro da música lírica?
MC – Eu acredito muito no futuro da música lírica e do espetáculo operístico. Não há dúvida que o fato de termos superado o limite das quatro paredes do teatro ajudou muito na popularização do gênero. Os grandes concertos ao ar livre, especialmente os dos grandes tenores e sopranos, ajudaram a atrair novas faixas etárias. Muitos grupos de jovens tem comparecido a estes concertos e com isto motivado sua curiosidade e interesse em ir ao teatro assistir óperas…

BR – E a aproximação com outros gêneros musicais?
MC – Sem dúvida que isto também tem contribuído. Experiências como as que mencionamos antes, em aproximar o canto lírico da música pop, têm reforçado esta tendência ao rejuvenecimento do interesse pela música e canto erudito. Eu mesmo tenho me deparado em meus concertos com grupos de jovens que querem me conhecer no palco, pois ouviram os discos em que cantei com artistas populares e se sentiram estimulados a conhecer melhor o espetáculo lírico. Hoje em dia isto tem estimulado muito as montagens de óperas, que antes tinham menos oportunidades de acesso ao grande público.

Programação de 98 promete

Doris Fialcoff

Quando os gaúchos conversam com pessoas de qualquer estado do Brasil, acabam sempremargs.gif (66134 bytes) ouvindo elogios, seja pelos artistas de sua terra, pela qualidade do público que compõe, suas salas e teatros, pela educação cultural. Nesta primeira edição de 1998, o Extra Classe dá apenas algumas pinceladas do que será o ano, e assinala que a tal fama não é boato.

Para começar, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) será reaberto à população totalmente restaurado, em condições de receber qualquer acervo, de acordo com as exigências técnicas de padrões internacionais. A reinauguração está prevista para o dia 19 de março, a partir das 20 horas, quando também estará acontecendo a Noite da Cultura, que apresentará o calendário cultural do Rio Grande do Sul no primeiro semestre. Na mesma ocasião será feita a entrega do Prêmio Gaúcho de Fotografia ao autor do trabalho vencedor. Mas a celebração não acaba por aí, ainda acontecerá uma performance teatral, coordenada pelo diretor Luiz Arthur Nunes, um show da cantora Adriana Calcanhoto, a exibição de um filme sobre o pintor Iberê Camargo, realizado pelo cineasta Joel Pizzini, e o lançamento dos principais programas da Secretaria de Estado da Cultura para este ano, como a Temporada Lírica, o III Conesul Dança e o projeto Cultura Interior RS.

PORTO ALEGRE – A SEC também já adiantou o calendário e as atrações da segunda edição do Retratos do Brasil. O projeto será novamente realizado no Teatro da Ospa e nas noites de quarta-feira (quinzenalmente), a partir de 22 de julho. O formato continua o mesmo: um artista local antecede o show de um grande nome da música popular brasileira. Os artistas nacionais serão Zé Ramalho, Jair Rodrigues, Cláudia Telles e Tito Madi, Chico César, Pena Branca & Xavantinho, Egberto Gismonti, Baby do Brasil, Sá e Guarabira, Oswaldo Montenegro e Dominguinhos. E, para abrir as noites do Sul, músicos do Sul: Jerônimo Jardim, Lourdes Rodrigues, Lea Cyntra, Gélson Oliveira, Chico Sarati, Nei Lisboa, Cristiana Pretto, Sérgio Rojas, Dado Jaeger & Mauro Marques e Zé Caradípia.

A Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre também já tem um mapa principal da programação para 1998, e vale lembrar aos que tem produção escondida na gaveta, que mais uma vez terá a chance de colocá-la na vitrine. Existem o Prêmio Açorianos de Literatura (inscrição em março, divulgação dos resultados em 16 dezembro, na Noite do Livro), Projeto Poemas no Ônibus (inscrição em junho, resultados durante a Feira do Livro), Prêmio Tibicuera de Artes Cênicas (dezembro). E tem mais, para muitos gostos e várias idades. O Projeto Em Ceninha, de 18 a 24 de maio, é para a garotada; serão manhãs e tardes de apresentação de peças infantis, com entrada franca. O Projeto em Conto é o encontro do conto, mensalmente, sempre na última terça-feira do mês, na Sala Álvaro Moreyra, das 19h às 21h, com entrada franca. No dia 29 de março, às 17 horas, no auditório Araújo Vianna, acontecerá a abertura do Banda Municipal Convida…, com Hique Gomes. Esse projeto será sempre no último domingo do mês, com convidados variados e também com entrada franca. O Chorinho na Casa Godoy inicia em março, com periodicidade mensal. Na Casa Godoy, Avenida Independência, 456. Entrada franca. E mais: exposições na Galeria Iberê Camargo, na Usina do Gasômetro, no saguão do Centro Municipal de Cultura, etc. E, claro, não dá para esquecer da Semana de Porto Alegre (março), do 5º Porto Alegre em Cena (setembro), Aniversário de Usina (novembro), I Festival de Música de Porto Alegre (novembro), Aniversário do Mercado Público (outubro). Quanto custa? É de graça, não tem desculpa, Porto Alegre já está borbulhando. Aproveite.

A prosa iluminada

Dois Santos dos Santos*

No início dos noventa, este escrivinhador levou para publicação no jornal O Continente !doissan.gif (13148 bytes)trabalhos de Cândido Rolim. Havia lá alguém com um calhamaço, esperando ser editado. O sujeito passou os olhos nos textos à sua frente, e na hora deu o veredicto: “Tudo muito bonito, mas não tem nenhum compromisso com a realidade”.

O caso vem a propósito de Exemplos alados, livrinho de C. R. cujo lançamento deve-se a uma pequena editora do Ceará (pois não encontrou editor no RS). Esse admirável escritor nunca se deixou seduzir pelo realismo ordinário, cru e rasteiro que infesta parte da literatura. Vai contra a corrente e alicia a prosa, fazendo-a levitar para a alegria nossa.

Ao lê-lo, temos a impressão de caminhar em terra fofa de roça, recém molhada pela chuva, o cheiro de água e poeira no ar, os pés afundando maciamente, e a vontade de andar mais. Que o autor fale por si mesmo: “À medida que falo, buscando nos enigmas o equivalente incorpóreo às ruínas do rosto; que sento à mesa e comungo com o homem de suas diásporas; que balbucio e lanço pontes de improviso para ter sempre ao alcance da pele uma respiração; que soletro algarismos tanto mais maduros para um convívio e uma sobrevivência a um, a dois, a mil, mais me aproximo de algo primordial como o grito ou o silêncio”.

ALQUIMIA – Quem escreve assim hoje? Pouquíssimos. Raros possuem o dom de transformar prosa em poesia. O inverso é verdadeiro, e a maioria o faz implacável e impunemente. O leitor sensato, que exige histórias reais, pedestres e transitáveis, perguntará: E daí, o que se ganha com isso? Esse tipo é herdeiro daquele Platão que desejava expulsar os poetas da República para que a Pólis pudesse ser normalizada e ordenada pela burocracia legiferante. O poder sente-se ameaçado por uma prosa dúbia, vaga, incerta e descontrolada. A poesia é imprestável para governar. Nela convivem o surrealismo, o caos, o sonho, a imaginação e a fantasia, obstáculos ao enrijecimento da linguagem. Cândido Rolim transmuta o prosaico alquimicamente. Ouçamo-lo: “Sentou-se na cama para recordar, sem pensamento, como se vivesse não uma memória, mas uma chuva. súbito, uma pena invade a janela. pôs os olhos no espaço à procura do pássaro. céu intacto. a paisagem está muda. o que vê são recordações do olho. nada contraria a face do infinito. nada diz que as mãos agarram o vestígio de uma dispersão. e o que lhe queima os olhos não é a memória ateando fogo às vestes, mas a asa de um signo afugentado do zodíaco”.1

PROSAPOESIA – O mal, o perturbador em Cândido Rolim é que, ao misturar poções e palavras, ele inventa uma arte contaminada. Porquanto a poesia ainda será tolerada, espécie de bordel de luxo freqüentado por eleitos, mas que a prosa – espírito que rege o mundo – sofra a maldição do contágio, é insuportável. Talvez o rapaz do calhamaço tenha razão. Para que serve a prosapoesia, se é matéria inútil? Serve para nos levantar do chão, transportar-nos a atmosferas rarefeitas, onde chegam os que foram iluminados por uma visão onírica das coisas e da vida, os que fizeram do belo e da leveza a sua nave; serve para alcançar a lucidez, à maneira de Fernando Pessoa em Mensagem, segunda parte do poema D. Sebastião, Rei de Portugal – “…Minha loucura outros que me a tomem/ Com o que nela ia/ Sem a loucura que é o homem/ Mais que a besta sadia/ Cadáver adiado que procria?”

1 Cândido Rolim nunca usa maiúscula, mesmo depois de ponto.

* dois Santos dos Santos é poeta

Notas 

Show na copa 98
Bebeto Alves, Gelson Oliveira, Papas da Língua, Totonho Villeroy, Carlinhos Brown, Banda Eva, Gilberto Gil, Fernanda Abreu são alguns dos artistas brasileiros que participarão do Brahma Bière Festival (nome ainda improvisado), que será realizado entre 21 e 28 de junho, na cidade francesa de Sanary Sur Mer. Os shows acontecem durante a Copa. Uma preliminar do festival deverá reunir todas as atrações em maio, na cervejaria Brahma, em Porto Alegre (Avenida Cristóvão Colombo). A produção do Brahma Bière Festival é da gaúcha Opinião Produtora. Metade do custo será bancado pela Cervejaria Brahma através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Outra metade será custeada por patrocinadores franceses.

Centenário de Brecht
Montagem de peças, lançamento de livros e exposições estão marcando em todo o mundo as comemorações do centenário do dramaturgo, ensaísta e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956), completado no último dia 10 de fevereiro. Brecht nasceu em Augsburg, Alemanha, filho de um industrial, e é considerado um dos maiores dramaturgos do mundo. A editora alemã Suhrkamp acaba de lançar, assinalando o centenário, os três últimos volumes da obra completa e comentada de Brecht. São cerca de 2.400 cartas escritas pelo autor, muitas até então desconhecidas.

100 anos de Borges
Considerado um dos maiores escritores do mundo, o centenário de nascimento do argentino Jorge Luis Borges terá uma comemoração itinerante. Em janeiro do ano que vem, uma exposição sobre o autor será inaugurada na Universidade de Veneza, Itália. Depois, os trabalhos partem para outras cidades do mundo, entre elas, algumas da preferência de Borges, Nova York, Munique, Paris, Barcelona e Cocha-bamba. O Brasil também está na lista, ainda não totalmente definida. A previsão é de que a exposição tenha seu ponto alto em 24 de agosto de 1999, data em que se comemora o centenário, quando a vida e a obra de Borges serão apresentadas em Buenos Aires.

Congresso de escritores
A direção do Instituto Estadual do Livro (IEL) está ultimando os preparativos para o Congresso de Escritores do Extremo Sul, programado para junho ou julho deste ano, e que deverá reunir grandes nomes da literatura e os escritores que estão no interior do estado. Entre os temas que serão debatidos está o direito autoral e as dificuldades de atravessar as fronteiras, mesmo em plena vigência do Mercosul.

Festival de cinema e vídeo
A data limite para inscrição de trabalhos no 4? Festival de Cinema e Vídeo sobre Segurança e Saúde no Trabalho é 30 de abril deste ano. O evento será realizado paralelo ao XV Congresso Mundial sobre Segurança e Saúde no Trabalho, de 12 a 16 de abril de 1999, em São Paulo, numa promoção conjunta da Associação Internacional de Segurança Social (AISS), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Ministério do Trabalho.

Filme em CD-ROM 1
O pesquisador e cineasta Jurandyr Noronha conseguiu uma proeza: reunir de forma divertida uma enciclopédia ilustrada com 771 fotos raras, 1.703 verbetes (entre empresas, produtores, diretores, atores, atrizes e técnicos em geral), 675 filmes cadastrados (documentários e ficção) e, o melhor, seqüências animadas de 25 filmes relevantes. Trata-se do CD-ROM Pioneiro do Cinema Brasileiro – 1896 a 1936, um resumo de parte significativa do cinema mudo no Brasil.

 

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