EDUCAÇÃO

Escola cidadã debate globalização

Márcia Camarano / Publicado em 2 de junho de 1998

Desgastada pela mídia, a palavra globalização tem sido tratada apenas sob o enfoque economicista. Mas ela é muito mais do que unificação de moeda entre países – caso da Comunidade Econômica Européia – e troca de produtos num mercado do tamanho do planeta, trazendo conseqüências marcantes para a sociedade, também do ponto de vista político, cultural e educacional. E é o enfoque pedagógico que estará em discussão no V Seminário Internacional de Reestruturação Curricular: A Escola Cidadã no Contexto da Globalização, no Salão de Atos da UFRGS, dias 6, 7 e 8 de julho – primeira edição – e 9, 10 e 11 de julho – segunda edição – , promovido pela Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre com apoio do Sinpro/RS e outras entidades.

“Hoje, existem diferentes formas de se pensar a globalização, sempre do ponto de vista apologético, para resolver problemas econômicos. Mas é esquecido que ela traz graves problemas sociais e econômicos. O seminário quer discutir a globalização numa perspectiva diferente, a partir de uma análise crítica”, resume o argentino Pablo Gentili, professor de Filosofia Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, conferencista que abordará o tema “Educação e Exclusão Social”.

Pesquisadores do Brasil e do mundo querem aproveitar esse momento para troca de experiências e idéias em contraposição às práticas da escola tradicional – que exclui e reprova os que não se adaptam a ela, fragmentada e desvinculada da realidade social – na busca de uma escola pública voltada para os interesses da população. Os conferencistas vêm do Brasil, Estados Unidos, Espanha, Austrália, Inglaterra, África do Sul, Argentina, Canadá, mostrando que a globalização se dá na unidade de pensamento em busca de soluções para os problemas da educação.

Ensinar criticamente, no contexto de uma cultura da informação, exige que os estudantes compreendam o que está em jogo na luta pelo acesso a conhecimentos e informação no interior das redes de trocas econômicas. Esse é um tema básico que entrará em pauta através do professor norte-americano Peter McLaren na conferência “Traumas do capital: pedagogia, política e praxis no mercado global”.

O seminário será um período para formulação de críticas e apresentação de linhas de pensamento sobre um modelo alternativo à globalização. “Não queremos voltar ao provincianismo ou nacionalismo irresponsável e anti-democrático, mas que seja realmente uma forma de integração social dos países”, argumenta o professor Gentili. Os pensadores querem recuperar antigas lutas de internacionalização e de unidade entre os povos.

“Nesse momento de globalização, que chamo de globalização excludente, se aprofundam as diferenças culturais, é estimulado o nacionalismo e a xenofobia. É um modelo que amplia a exclusão social e a marginalidade, e favorece os grupos econômicos mais poderosos”, comenta o professor. Para ele, é paradoxal que a integração, de um lado, favoreça os grupos poderosos e, de outro, se aprofundem as dificuldades culturais. “Não é à toa que estejam surgindo tendências de nacionalismo e fascismo, porque a globalização excludente precisa disso”.

Países europeus avançam na integração econômica, unificam sua moeda, mas é lá mesmo o exemplo clássico de marginalização dos povos. Na Europa, os não-europeus – antes perfeitamente integrados àquele continente – estão sendo expulsos. “A Europa integrada tem lugar só para os europeus e o mesmo está acontecendo nos Estados Unidos, onde a circulação dos mexicanos está cada vez mais limitada”, comenta Gentili.

Países sem fronteiras, mas mantendo suas identidades, numa integração solidária. Pode parecer ilusão, mas os participantes do seminário acreditam que, nesse campo, a educação tem um papel fundamental para criar uma nova cultura democrática. “Existe alternativa à globalização e, para isso, vamos ter que contar muito com a educação”, resume o professor Gentili.

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