OPINIÃO

Mestre Simões Lopes Neto

Barbosa Lessa / Publicado em 2 de julho de 1998

Hoje não nos é totalmente desconhecido o nome de João Simões Lopes Neto – pioneiro e maior nome de nossa literatura de inspiração regional. Poucos sabem, porém, que ele se fez escritor não por mero devaneio ou passatempo mas, sim, como consciente colaboração para minimizar um problema político que começava a assustá-lo nos idos de 1903.

Superada então a crise estadual decorrente da queda da Monarquia e esquecidas as degolas da Revolução de 93, cumpria unir esforços para a consolidação da República. Nessa época Simões aproximava-se dos quarenta anos de idade, era comerciário em Pelotas, convivia com seus colegas no Clube Caixeiral e lhes despertava curiosidade pela lucidez na abordagem da conjuntura mundial.

Terminou sendo convidado para proferir palestra no auditório da nobre Biblioteca Pública Pelotense. Um sucesso. Ao longo do ano seguinte, peregrinação proferindo conferências em Rio Grande, Bagé, São Gabriel, Santa Maria e até Porto Alegre, onde foi aplaudido pelos companheiros de Cezimbra Jacques no Grêmio Gaúcho. Em 1905, edição e ampla distribuição de um livreto com a síntese de seu pensamento.

Ele começava dizendo que as velhas nações européias, e já também os Estados Unidos, procuravam expandir-se para encontrar em outras terras remédio para seus problemas. “E ai da cobiçada presa que não tiver dentes firmes e garras possantes para se resguardar e defender”.

Mais adiante: “Nos grandes países, o nacionalismo e o patriotismo são hoje paixões raciocinadas, laboradas por constante educação. Mas a escola brasileira não teve, e não tem ainda, influência decisiva na formação do sentimento nacional. O livro de leitura, que é acaso a mola real do ensino, tem páginas cheias de historietas ridiculamente traduzidas, e só páginas brancas para nossa Geografia, nossa História, nossas tradições e costumes.

Os poucos compêndios, de perguntas e respostas, limitam-se a uma enfadonha nomenclatura de reis, governadores e capitães-mores, ou de fatos áridos, secamente expostos. Tomada a lição, há dois entes satisfeitos: o aluno, que não mais precisará ler aquele trecho, e o professor que cumpriu a obrigação oficial”.

Dando sua contribuição à campanha que preconizava, em 1910 lançou a coletânea popular “Cancioneiro Guasca”, em 1912 o clássico “Contos Gauchescos” e em 1913 as preciosas “Lendas do Sul”. Maravilhosamente fez a sua parte, sem dúvida. Mas ainda hoje pode alguém perguntar: “Pra quê…”

* Luiz Carlos Barbosa Lessa é historiador, folclorista e escritor.

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