MOVIMENTO

Sindicato unido jamais será vencido

Antônio Barcelos / Publicado em 23 de novembro de 1999

Entidades de trabalhadores apostam cada vez mais na formação de estrategistas para combater fenômeno da globalização

A persistente estagnação da economia brasileira – registrada especialmente nos governos de Fernando Henrique Cardoso – provocou um forte processo de debilidade nos sindicatos como instituições tradicionais de mobilização, reivindicações e conquistas da classe trabalhadora. De organismos de ampliação das conquistas, os sindicatos foram se transformando em organismos de manutenção das conquistas. Por trás desse movimento, aparecem com destaque os índices crescentes de desemprego.

“Nós estamos vivendo agora um momento de refluxo, de reavaliação do papel dos sindicatos, tendo que aprender a conviver com essa nova realidade”, admite o secretário-geral da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Marco Maia. Com o desemprego em alta, fica mais difícil levar adiante negociações favoráveis em qualquer categoria profissional: “Os trabalhadores ficam mais distantes do sindicato, mais acanhados nas suas reivindicações e com medo de perder o trabalho. Todos estes elementos são muito fortes e determinam uma espécie de crise no movimento sindical brasileiro”, destaca Maia.

O presidente nacional da CGT (Central Geral dos Trabalhadores), Antonio Carlos dos Reis, acha que o trabalhador vê, num primeiro momento, o sindicato como o grande responsável pelo desemprego e pela retração salarial. Mas, segundo ele, os efeitos da crise só não são mais devastadores graças ao movimento sindical, que é atuante e combate em todos os momentos e em todas as frentes o modelo neoliberal de administração da economia.

Diante desse quadro adverso, o sindicalismo tenta redescobrir seu papel ao buscar uma série de estratégias globais para fazer frente aos desafios da economia neoliberal. E a posição de Jorge Mattoso, professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade de Campinas), é de que na negociação sindical não há condições de reverter a recessão: “Uma outra conjuntura não pode ser gerada no campo da luta tipicamente sindical, mas no campo político”, explica o professor.

A própria denúncia do crescente desemprego, segundo ele, só vai gerar resultado quando for transformada num fator político de pressão, visando a instituição de um novo projeto econômico e social. “A resistência dos sindicatos, isolados por categoria ou não, é indispensável para garantir perdas menores às suas categorias ou setores”, ressalva.

O secretário-geral do Sindicato dos Comerciários de Porto Alegre e diretor de Formação da Força Sindical no RS, Gilson Souza da Silva, sabe bem como isso é importante. Durante a negociação sobre a abertura do comércio aos domingos foi fundamental a postura ativa e conscientizada da categoria para garantir os direitos dos trabalhadores. “Com recessão não há renda e, sem renda, não há consumo”, argumenta Gilson, emendando que uma das razões para a crise vem do outro lado do mundo: “O que acontece hoje na China repercute amanhã no comércio local”, diz.

Por isso, afirma o sindicalista, o objetivo das entidades deve ser perseguir a atualização e o conhecimento em todas as áreas. Objetivo não só dos líderes sindicais, mas de todos os trabalhadores vinculados à categoria. “O trabalhador deve estar acompanhando plenamente o processo, entendendo, participando, sugerindo e reivindicando”, completa. Sem isso, na visão de Gilson, não há como acompanhar a crescente complexidade das negociações sindicais.

Os desafios da informatização e da globalização também preocupam o diretor de Educação Sindical do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Porto Alegre, Gelson Santana. “O dirigente sindical de hoje tem de estar, obrigatoriamente, bem preparado e ciente de todos acontecimentos que envolvem a economia e a sociedade para desempenhar as suas funções”, constata. Na realidade o dirigente tem de saber um pouco de todos assuntos.

E as centrais sindicais, nesse caso, vem se revelando como importante alicerce de preparação dos dirigentes para um novo período nas relações de trabalho. “O movimento sindical hoje está preocupado não só com salário e emprego, mas também em resgatar a cidadania do trabalhador”, aponta Gelson. No entanto, ele observa que, na maioria das entidades sindicais, os dirigentes não estão preparados e nem estão preocupados em se preparar para este novo quadro. “Entre os jovens dirigentes é que há uma preocupação crescente com qualificação”, diz.

O coordenador da Secretaria de Políticas Sociais do Sinpro/ RS, Ângelo Dal Cin, lembra que as políticas de comunicação são fundamentais nas tarefas atuais dos sindicatos, para neutralizar o discurso dominante de uma política econômica do neoliberalismo. como preparação para relações movimento preocupado emprego, cidadania trabalhador”, ele das dirigentes e se“Nesse aspecto, é necessário ter seus próprios veículos para fazer uma comunicação que privilegie a cidadania”, defende.

O sociólogo Paulo Peixoto Albuquerque, da Unisinos, usa uma expressão interessante para caracterizar um sindicalista moderno. “Ele tem de ter uma formação de fronteira, ou seja, que o permita transitar em diferentes espaços”, explica.

Outro caminho, apontado por Antônio Carlos dos Reis (CGT), é globalizar a pauta de reivindicações. “Cada setor não pode ficar apenas discutindo suas situações específicas, deixando de lado o desemprego e a extinção de conquistas históricas”, diz. Marco Maia, da CUT, lembra que a classe trabalhadora sempre soube reformular o seu projeto e as suas propostas ao enfrentar as crises econômicas. “Hoje temos propostas que não eram nossas no passado. Estamos negociando participação nos lucros, discutindo produtividade, qualidade e até competitividade”, explica.

Entre as propostas de recuperação do papel sindical está também a de Eliziário Toledo, da Fetag (Federação dos Trabalhadores na Agricultura). Ele defende a descentralização da ação dos sindicatos, “levando- os onde estão os associados, nos lugares mais distantes”. Também vê um caminho essencial no estabelecimento de novas alianças, onde os trabalhadores se identifiquem por suas origens nacional e social, por opções políticas e religiosas, por idade ou sexo, e que compartilham os mesmos objetivos dos sindicatos.

Dicas para ser um estrategista

– Tenha capacidade de reconhecer e identificar na realidade do trabalho que outros tipos de atividades econô-micas vão além da lógica do mercado e que sejam relevantes numa econo-mia globalizada

– Tenha uma prática fundada no princí-pio da responsabilidade social. Atue a partir do pressuposto de uma econo-mia cidadã

– Favoreça, na sua prática, um projeto de sociedade que articule ações locais com perspectivas de estratégias globais

– Trabalhe na elaboração de um novo paradigma econômico e político. No campo político, privilegie a emanci-pação da cidadania como forma de romper a tradicional representação

Fonte: Paulo Peixoto Albuquerque/Unisinos

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