OPINIÃO

Editorial

Publicado em 10 de setembro de 2000

Enquanto fechávamos esta edição do Extra Classe, os jornais diários anunciavam a

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Ilustração: Santiago

Ilustração: Santiago

descoberta de focos de febre aftosa no Estado. Embora a agricultura não seja a área específica de cobertura deste jornal, seria impossível ficar alheio a significância dos fatos. Por muitos anos, a febre aftosa, uma doença que dizima os rebanhos e funciona como um fortíssimo obstáculo à exportação de carne, ficou de fora das fronteiras do Rio Grande do Sul. Agora, como coelho da cartola, em plena época de Expointer, quando o Estado estava a ponto de conseguir a certificação de organismos internacionais como zona livre da doença, focos de aftosa explodem “misteriosamente”. Sabendo-se das desavenças entre os grandes produtores rurais do RS e o governo comandado por Olívio Dutra com atuação destacada do secretário da Agricultura, José Hermeto Hoffmann, e sabendo-se que as primeiras investigações sobre o assunto indicam possibilidade de ter havido até mesmo uma espécie de “terrorismo químico” com a inoculação proposital da doença ou, no mínimo, um extremo desleixo de alguns criadores ao insistir no “contrabando” de gado contaminado, a situação gerou um quadro que deixou estarrecida a opinião pública. De qualquer maneira, tudo soa a uma grande reação ao governo do PT por uma parcela da sociedade que teme tanto as mudanças possíveis ou imagináveis que prefere a autoimolação de seu rebanhos em nome de uma aparente estabilidade que muitas vezes está mais próxima da estagnação do que de uma almejada paz perpétua. A situação, paradoxal, é a do homem em pânico, o qual por um medo insano de perder o que possui, põe a perder o que todos possuem, corroendo o bem comum e gerando uma situação de caos. Essas pessoas querem manter intacto seu pequeno mundo conquistado e manipulá-lo independente da vontade da maioria, mas como nas palavras do milenar Tao Te King, “querer conquistar o mundo, sei por experiência que não dá certo. Quem o manipula o destrói, quem quiser segurá-lo, perde-o.”

Nossa Capa

Na capa desta edição utilizamos uma reprodução parcial da obra “O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes?”, de Richard Hamilton. Esta colagem, de 1956, é o marco inicial da Pop Art, que privilegiou a utilização dos símbolos da comunicação de massa, de propaganda e do consumo, influenciando definitivamente a visão ocidental contemporânea do belo.

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