OPINIÃO

Editorial

Publicado em 9 de outubro de 2000

A entrevista desta edição do Extra Classe, feita com o patrono da Feira do Livro e nosso emérito colaborador Barbosa Lessa, foi feita pela equipe do EC seguindo os moldes das antológicas entrevistas realizadas por O Pasquim, semanário brasileiro surgido no final dos anos 60 que tornou-se ícone da imprensa independente brasileira. A idéia de fazer uma entrevista utilizando a equipe do jornal como entrevistadores em vez de apenas um repórter permite a abordagem de ângulos diversos a partir da experiência e visão de cada integrante desta equipe, procurando atingir resultados amplos e pluralistas. Os primeiros Jogos Olímpicos do novo milênio disputados na longínqua Austrália deixaram uma lição amarga para os brasileiros em algumas modalidades sobre o tão propalado espírito de equipe e o mesmo sobre o ideal olímpico, pelo qual o importante é competir e, mais que isso, fazer da competição um veículo de crescimento. A capacidade de trabalhar em equipe, o entrosamento, a compreensão de que havia fortes expectativas de toda uma população acompanhando os desenrolar dos jogos: tudo isso parece ter sido, soberba e descaradamente, chutado para escanteio. A atitude de treinadores como Wanderley Luxemburgo, procurando jogar a responsabilidade da derrota sobre os ombros dos atletas, reflete o descalabro de uma situação que pode ser ampliada para o panorama nacional. Luxemburgo saiu do Brasil sob uma penca de acusações e ainda teve o caradurismo de dizer publicamente que todas elas seriam esquecidas se ganhasse o ouro olímpico. As atuações pouco convincentes da seleção fizeram com que o técnico resolvesse culpar os jogadores pelas derrotas, esquecendo que seu trabalho como coordenador de uma equipe não é bancar o “poderoso chefão”, mas integrar-se à esta equipe e apoiá-la sempre, dividindo a responsabilidade por vitórias e derrotas. Luxemburgo, com seus ataques de mau humor e prepotência, revela um comportamento anacrônico que infelizmente ainda é uso corrente em muitas situações do cotidiano brasileiro (vide Antônio Carlos Magalhães et caterva). Posições de chefias e coordenação são, cada vez menos, posições de “mandões” e cada vez mais postos para conciliadores cientes de que, sem entendimento, ninguém vai a lugar nenhum. Afinal, a democracia plena passa pelo exercício diário e digno da cidadania e cidadania plena passa pelo exercício da convivência tolerante e solidária.

Versão brasileira

Já está na rua Diplô Brasil – Caderno de Debates do Le Monde Diplomatique, que nasce com a pretensão de ajudar a construir um novo caminho para a imprensa. Nada daquele discurso que infesta a mídia nacional, mas objetividade, isenção e imparcialidade. Trata-se de um projeto engajado na busca de alternativas ao atual modelo de globalização.

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