OPINIÃO

A lavagem das mãos

Publicado em 4 de maio de 2001

A que ponto chegamos em termos de ética no Brasil: basta uma confissão chorosa, de preferência em público, para que se releve tudo de errado que o réu confesso fez. Mais que isso, as soluções para os problemas de interesse público no Brasil encontram desfechos inusitados através de passes de mágica como no caso das roubalheiras da Sudam e da Sudene. Após décadas de falcatruas, o próprio Congresso Nacional, através de uma subcomissão da Câmara dos Deputados, sugere que tanto Sudam quanto Sudene sejam simplesmente extintas. A emblemática lavagem das mãos de Pôncio Pilatos assume assim proporções avassaladoras. Mais uma notícia do Planalto, que só faz crescer essa sensação de desconforto em relação às nossas mais altas casas parlamentares, dá conta de que projetos do senador Luiz Estevão, que foi cassado e chegou a ser preso pela Polícia Federal, continuam circulando e sendo discutidos no Congresso Nacional. Na edição de abril, o Extra Classe revelou boa parte das manobras muitas vezes distantes de qualquer princípio ético obradas pelo “coronel” baiano e dublê de senador Antonio Carlos Magalhães. O episódio do painel eletrônico do Senado só vem confirmar o que dizia a reportagem. É lógico que dizer simplesmente que, por esses acontecimentos, o Congresso tenha se tornado uma instituição desacreditada é dar razão aos argumentos absurdos de quem não quer a normalidade democrática. Mas também é impensável que se aceite a hipótese esfarrapada de que roupa suja se lava em casa e com isso o Congresso dê um “jeitinho” nos problemas, varrendo toda essa monumental sujeira para baixo de seu próprio tapete.

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