CULTURA

Thomas Mann: A Gênese do Doutor Fausto – Romance sobre um Romance

César Fraga / Publicado em 3 de julho de 2001

Exatamente um ano e meio depois de publicar uma de suas obras mais conhecidas, Doutor Fausto, Thomas Mann, aos 74 anos de idade, resolveu escrever, em 1949, passo a passo a gênese deste que foi seu grande livro da velhice. Trata-se de A gênese do Doutor Fausto – Romance sobre um romance (editora Mandarim, 184 páginas). Nele, o escritor reconstitui com fôlego, o seu próprio processo de elaboração.

Em princípio, Mann partiu das anotações de seu diário íntimo, que depois de devidamente estruturado, transformou-se em um romance dentro de outro romance, como diz o subtítulo do livro, um relato pessoal e confessional do homem-autor-da-obra.

Mas o que o motivaria a querer esmiuçar em detalhes a história do seu próprio livro como quem investiga algo misterioso? É que Mann, ao escrever sobre Doutor Fausto, experimentava técnicas novas de narrativa, sobrepondo planos temporais, ficção e realidade. Com isso pegava emprestado o trágico destino de Nietzsche, a música de Schöenberg e dramas de Shakespeare. O próprio Adorno, o filósofo, segundo Mann, teve participação fundamental na elaboração de Doutor Fausto. Revela também muito conteúdo autobiográfico, mencionando o suicídio das irmãs e seu deslumbramento pelo neto, Frido.

Mas não pense que se trata apenas de uma decifração do que foi o trabalho original. A gênese do Doutor Fausto remonta o método, as pesquisas, as leituras, a forma de raciocinar a obra. Para isso, o escritor acaba tendo de repassar séculos de referências literárias e filosóficas, além de comentar obras de seus contemporâneos, Stendhal e Hauptmann. Não bastasse, a gênese ainda apresenta uma paisagem literária do que era aquele período de final de segunda guerra e início da guerra fria.

Não podemos esquecer que Mann havia sido expulso pelos nazistas, assim pôde circular nos meios diplomáticos, norte-americanos e pela atmosfera glamourosa de Hollywood , onde viveu conflitos ideológicos com seus conterrâneos exilados. Assim, o texto afiado revive esses debates com Brecht, Arthur Rubinstein e Charles Chaplin.

O escritor alemão Thomas Mann, nascido na cidade Lübeck, em 1875, recebeu o Nobel de Literatura em 1929. No auge do nazismo, foi morar nos Estados Unidos, onde assumiu a cátedra da Princeton University. Faleceu em Zurique, na Suiça, em 1955.

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