GERAL

A mídia e a crise econômica Internacional

Antonio Carlos Fraquelli / Publicado em 19 de novembro de 2001

A conjuntura internacional tomava um curso até o início da manhã do dia 11 de setembro, com a desaceleração da economia norte-americana ocupando a capa dos jornais mais importantes do Primeiro Mundo. As manchetes dos periódicos destacavam, em primeiro plano, que a queda no ritmo de crescimento da maior economia do planeta poderia ainda se agravar, tranformando o quadro vigente em uma recessão. A propósito, esta última ocorre sempre que há decréscimos do Produto Interno Bruto (PIB) durante dois trimestres sucessivos, fato esse que aconteceu a última vez naquele país durante o verão de 1990.

Tomada isoladamente, a economia dos Estados Unidos é maior que a soma das atividades produzidas, em conjunto, pelo Japão, Alemanha e França. Daí, pode-se dizer, em sentido figurado, que ela representa uma locomotiva para a economia mundial. Quando se desloca, carrega consigo a ordem econômica; quando pára, o ambiente econômico global se ressente imediatamente. E, assim, até aquele dia 11 de setembro, a mídia tratava duas possibilidades: a desaceleração – redução na velocidade da máquina – ou a recessão – a locomotiva passava a deslocar-se de marcha ré.

Acontece que o ataque às torres gêmeas de Nova York apressou a definição do cenário. Nos dias subseqüentes, os consumidores trocaram as compras pela permanência em casa, acompanhando de perto os desdobramentos dos ataques terroristas. A possível diminuição do consumo era a peça que faltava para que a conjuntura econômica tomasse o impulso rumo à esperada definição do comportamento da economia dos Estados Unidos. Se o consumidor não aparece, há retração nos investimentos e cai o ritmo da atividade econômica.

Paralelamente, a mídia passou a relatar os desdobramentos do ataque terrorista, a preparação para o conflito bélico e, por fim, o início da tão malfadada guerra. O editorial do Japan Times, em sua edição do dia 17 de outubro, analisou o impacto da guerra sobre a economia. O texto afirma que a escuridão, o desânimo, e não a sina ou o destino, são as palavras mais indicadas para descrever a situação econômica mundial. De concreto, fica a convicção do depoimento do Presidente do Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos, Alan Greenspan – o canal da CNNfn colocou-o no ar – que, ao depor perante a comissão do Congresso dos Estados Unidos, afirmou que tinha três preocupações no presente momento: o consumo não se manteria elevado, a economia mostrava sinais de maior fragilidade e o aquecido setor da construção civil começava a esfriar.

Uma outra faceta da crise projeta-se na dimensão política. De um lado, Osama bin Laden é o vilão, de outro, segundo matéria divulgada pelo Canal Discovery, os inimigos de hoje são o produto de uma parceria de ontem. Em outras palavras, à época da Guerra-Fria era preciso criar um “Vietnã para os soviéticos”, e, assim, os norte-americanos apoiaram no passado os inimigos do presente. A mídia de cá prescinde da presença do barbudo saudita na televisão. Acolá, a cadeia Al-Jazeera, criada pelo emir do Qatar, em 1996, e que se apresenta como a nova opção entre os árabes, insiste em divulgar os pronunciamentos do inimigo Número Um das forças da Otan.

E, enquanto a crise prossegue, Osama bin Laden utiliza-se de um jornalista do Paquistão, Hamid Mir, para divulgar as suas posições políticas. Há poucos dias, a BBC colocou-o no ar em um programa denominado Simpson´ world. Quando o jornalista britânico indagou-o se acreditava que o saudita era realmente o autor da queda das torres em Nova York, Hamid respondeu que achava pouco provável que alguém que vive tão distante, sem internet, telefone e televisão fosse capaz de armar tamanha destruição.

Opiniões à parte, a mídia trabalha duas idéias com muita desenvoltura neste final de outubro. A primeira diz respeito à necessidade que a vitória aliada se concretize nos próximos 30 dias porque depois será muito difícil superar o inimigo em pleno inverno afegão. Nos anos 50, os norte-americanos tiveram que firmar – contrariados – um armistício na Guerra da Coréia para não ficarem congelados nas montanhas cobertas de neve. Agora, certamente, não querem repetir a experiência. Em segundo lugar, a mídia está à espera de uma terceira onda terrorista. As duas primeiras foram o ataque às torres e o antrax. E, aí, o poder da imaginação transcende à realidade e avança em algo próximo à ficção.

Enquanto essas duas questões permanecem em aberto no campo político, a economia norte-americana mantém-se no interregno de uma desaceleração que já aconteceu e de uma retomada do crescimento econômico que há de vir nos próximos meses. A lição que se extraiu da Guerra do Golfo Pérsico é que um crescimento econômico pujante aconteceu após o final do conflito. Neste momento, a mídia está apostando que a dose será repetida.

Mais alguns dias e o leitor poderá confirmar a hipótese. Caso contrário, novos diagnósticos serão necessários, tendo em vista que esta é a primeira guerra do século XXI. A esta altura, é preciso apostar que sobre ainda um pouco de bom senso entre as lideranças mundiais para que a economia global volte a crescer e os problemas sociais possam, de vez, voltar a ser priorizados.

 

Comentários