OPINIÃO

Amor pelos desfechos (I)

Elisa Lucinda / Publicado em 17 de agosto de 2002

Chuvinha fina porém decidida, eu entro no taxi mandado a me buscar e que me aguardava à porta de casa, já há uns quinze minutos. Boa noite, aonde vamos? Perguntou o motorista.
– Não sei, o senhor não sabe?
– Essa é boa: é a primeira vez que pego uma passageira que não sabe pra onde vai! Vou te contar…
– Peralá, o senhor foi contratado pra me levar numa corrida para a qual já foi até pago… e não sabe?
– Não senhora. A empresa apenasmente me bipa e eu venho no endereço. Certo?
– Bem, o que eu sei é que vamos para o Recreio na casa de Ana Carolina , a can
– A cantora? Pô essa mulher é fera! E como é que a gente chega lá?
– Ana Carolina? (Eu já de celular em punho falando com a própria) Como é que eu faço pra chegar aí.., etc e tal … patatipatatá?…
– Mas essa menina canta muito bem. Aliás, essa musica que está tocando aí dela na novela é uma versão boa, mas a primeira foi a do José Augusto. Sabe quem é? “Agora agüenta, coração…”
– Sei, mas eu não conheço a versão dele pra essa música que a Ana gravou com a versão dela.
– Ah, é muito bonita! Quer ouvir?
Pois não é que Marcos (era esse o nome dele) sacou do seu CD o melhor de José Augusto e o colocou no excelente som de seu carro imediatamente?
Seguimos na estrada ouvindo aquela breguice em silêncio, cada um de nós fazendo suas comparações e suas escolhas; ele preferia a dele, eu disparadamente a dela e a conversa vai até quando éramos pequenos, cada um no seu mundo, o gosto pela música já aparecendo na infância e coisa e tal.
A conversa seguia boa até que ele perguntou:
– Será que Ana Carolina sabe que existe outra versão dessa música?
– Não sei, mas eu vou contar a ela.
– JURA?
– Juro.
– Vai dizer que eu mostrei o disco e tudo?
– Claro, vou contar a estória desde a hora em que ainda não sabíamos para onde íamos.
A chuva caía lá fora e, à noite, o Recreio dos Bandeirantes me parece mais longe e mais desconhecido. Vamos seguindo errando ali, entrando na possível rua acolá, adivinhando uma esquina, a cor vermelha do edifício, conforme a própria dona da casa havia me dito pelo telefone, parecia ser num outro bloco mais adiante.
– Quer dizer que a senhora vai contar a ela o assunto dessa nossa corrida? Que eu sou fã dela e tudo?
– Claro que eu vou!
– É, a gente fica pensando… Será que ela vai gostar de saber?
– Talvez ela já saiba. Mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
– Mas dá vontade de ser uma mosquinha e assistir tudo o que vai acontecer lá quando você contar. Não é que eu seja curioso não, sabe?
– Não, você é uma espécie de enxerido científico, eu entendo.
– É, é essa que é a tristeza do motorista de táxi.

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