OPINIÃO

Carta ao meu Adão

Publicado em 22 de agosto de 2004

Ó amado
preciso te ver todas a manhãs
caminhando ou de bicicleta vou te ver, eu vou.
(escondida do rei)
Te busco peregrina
é dia claro
eu sem burca
me revelo
embora saia disfarçada
vestida das roupas que tirarei
diante do teu olhar imperador, ó inominável!
Caminho à tua beira e tuas súditas águas
se esparramam, se apressam em apagar meus passos
meus vestígios de mulher traicioneira.
Poemas de amor por ti? Muitos.
Pensamentos de loucura, lascívia e luxúria? Incontáveis.
Amo a tua bravura
a estrutura doce do teu sal
tua doçura insuspeitável.
De minha janela me chamas lindo,
um príncipe azul de lindo és quando assim me procuras.
Adão dessa cor e seus matizes, tu, meu amante espalhafatoso
imponente e importante és aquele que me dizes
O que sou, pra onde vou, quem eu sou e o que posso.
Ó Zeus do maleável,
Idealizador da tolerância
Fundador da serenidade
Justificador das tormentas
Explicador dos afogados,
Ó , és tu quem me tentas.
Não só te amo, é mais que isso,
transbordo.
Sem ir ao teu fundo, por medo, humildade e respeito
ainda assim sou tua e tu inundas meu fundo. Eu deixo, eu deixo…
(Quando era pequena minha calcinha de biquíni ficava cheia de areia e eu nem ligava, mas hoje essa imagem expõe a natureza do nosso negócio)
Te venero,
rei dos meus princípios
conselheiro de minhas vontades
tutor das possibilidades dos limites do meu juízo.
Te preciso todas as manhãs
e nesses quarenta dias longe de minha terra
fui ao teu encontro sorrateira e indiscutível,
como uma mulher busca o seu homem como uma puta ao seu cliente mais assíduo
como uma dama ao seu cavalheiro
como uma galinha ao seu galo,
uma fêmea ao seu macho parceiro.

Pois bem:
Amanhã acordarei com sol e irei ao nosso encontro,
aqui derradeiro.
Tu, ó misterioso senhor,
estarás contudo em outra parte
na costa de minha pátria já a me esperar sob os barcos,
e invadirás certamente algum convés a me buscar,
ó infinito persistente e uno que és!
Eu amanhã me despeço aqui de ti pra dizer que estarei sempre a teus pés com os meus pés, esses mesmos pés a quem primeiro beijas, antes de visitares todo o meu corpo,
A quem primeiro tocas antes de levar-me ao topo,
A quem primeiro batizas antes de eu chamar-te louco, desvairado amante,
Tresloucado céu invertido, meu Deus, meu pai, meu amigo, meu par!
Gracias pelos versos, por estes versos,
por teres me dado
equilíbrio, liberdade, abrigo e lar
Gracias por te amar, ó mar!

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