CULTURA

Canções para um mundo imperfeito

Por César Fraga / Publicado em 26 de abril de 2008

Depois do show de lançamento do CD duplo, Mundo Perfeito, no Theatro São Pedro, no final de 2007, o guitarrista e compositor Nei Van Soria (ex-TNT e Os Cascavelettes) segue percorrendo os teatros das principais cidades do estado, apresentando suas novas e clássicas composições. No dia 12 de abril ele se apresenta em Caxias do Sul, no Teatro São Carlos e, no dia 10 de maio, em Pelotas, no Teatro 7 de Abril. Novidades como Tardes de Verão, Começar de Novo e Sobre o Amor, do novo álbum, dividem espaço com melodias que já ficaram marcadas nos tímpanos de diferentes gerações, como a balada Sob um Céu de Blues (um dos maiores clássicos do rock gaúcho, gravada originalmente por Os Cascavelettes), e também Jardim Inglês, Susie e Isso Inclui Você (de seus trabalhos anteriores). Mundo Perfeito é o sexto álbum da carreira de Nei Van Soria em mais de 20 anos de estrada. Destes, 16 são trabalhos solo. Vale lembrar que TNT e Cascavelettes integram uma espécie de cânone do rock gaúcho e figuram entre as principais influências, reconhecidas ou não, de grupos como Cachorro Grande e assemelhados.

Tanto o disco como o show mostram a versão mais madura do artista em toda a sua trajetória. Nei é exímio guitarrista – mas que sabe tocar sem firulas desnecessárias – e um cantor de registro vocal bastante peculiar. Suas canções são simples e diretas, com belos arranjos instrumentais calcados no rock dos anos 60 e 70. Ao vivo e no disco, o músico alterna momentos ao piano e acústicos para dar seu recado. Destaque também para a excelente banda que o acompanha. Trata-se, sem dúvida, de um raro show de rock especialmente preparado para teatro, com uma produção que respeita a audiência por prezar detalhes como sonorização, iluminação e cenografia acima da média. Tudo muito simples e sofisticado ao mesmo tempo. O cuidado visual, inclusive, já está presente no trabalho gráfico do CD, a capa com acabamento em papel e discos com aparência de vinil.

Lançar um álbum duplo com show para teatro em plena era do efêmero – quando se assiste a clipes no You Tube e se ouve música de graça em MP3 – é um ato de coragem e de resistência, na contramão da tendência do mercado. Porém, o músico está consciente disso e mira justamente nessa percepção, mais como forma de comunicação com o público do que de estratégia comercial. É um trabalho voltado para quem gosta de colocar os olhos e os ouvidos em um conjunto de canções feitas com prazer e por prazer, principalmente em uma época em que a rebeldia pré-fabricada dá o tom. Talvez Van Soria tenha percebido que a rebeldia possível nos dias de hoje deva ser menos estereotipada do que a das gerações anteriores. E passa mais pelo resgate de valores mínimos e observação da vida como ela é, muito além do mundinho do rock, do que pelos figurinos datados e atitudes decoradas em um manual de “escola de rock”.

Van Soria utiliza suas canções para lançar um olhar musical sobre a trajetória dos indivíduos de sua geração, a dos que foram adolescentes nos anos 80, e podem ser vistos hoje como jovens de 40. As letras falam desde os verões no litoral até a chegada da maturidade, passando pelas dores de amor, paixão, amizade e perda das ilusões. Tudo muito trivial, como é a vida real que o rock tantas vezes negou.

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