ECONOMIA

Mais produtividade, menos trabalho

Marcio Pochmann / Publicado em 26 de abril de 2008

A vertente do pensamento liberal-conservador e suas ações concretas implementadas na reorientação das políticas públicas dos governos dos anos 90 criaram, entre outros, o falso mito da geração dos inempregáveis, tendo em vista a dicotomia entre a perspectiva do determinismo tecnológico na supressão dos postos de trabalho e o avanço na oferta de mão-de-obra. Por conta disso, pregava-se que o setor industrial não mais geraria emprego, assim como o assalariamento estaria com os dias contados, restando, em contrapartida, o salvese quem puder pelo auto-emprego (empreendedorismo) ou pelos cursos de qualificação profissional.

À medida que o Brasil vai se distanciando da visão neoliberal, o emprego assalariado volta a crescer com queda no desemprego. O país está longe do ideal, mas, se a economia nacional mantiver o ritmo de expansão acima dos 5% ao ano acompanhado de um novo padrão de políticas públicas, poderemos reduzir o desemprego a taxas inferiores aos 3% da população economicamente ativa, patamares vigentes até o início dos anos 1980.

Além dessa possibilidade real e alvissareira, estamos passando por profundas mudanças no mundo do trabalho.

No início do século passado, o ingresso na vida laboral se dava aos cinco ou seis anos de idade e se encerrava somente com a morte, geralmente em torno dos 35 anos, que representava a expectativa média de vida dos brasileiros do início do século 20. Ao se acrescentar ainda a ausência da regulação do tempo de trabalho (48 horas semanais, férias, descanso semanal, feriados) e de medidas de aposentadoria e pensão, o tempo de trabalho podia equivaler a mais de 5,5 mil horas de trabalho por ano.

Com o desenvolvimento urbano e industrial ocorrido a partir dos anos 30, tornou-se possível reduzir o peso do trabalho heterônomo (realizado em troca de uma remuneração pela sobrevivência) para um quinto do tempo de vida.

Isso porque o ingresso no mercado de trabalho foi postergado para os 15 anos de idade, após o acesso ao Ensino Básico, enquanto a saída para a inatividade se deu a partir da contribuição por 35 anos ao fundo previdenciário. Contando com a duplicação da longevidade ao longo do século 20 (de 35 para 70 anos), percebe-se que o desenvolvimento nacional permitiu à propriedade social alargar o tempo de vida, bem como direcioná-lo à sociabilidade moderna, com mais educação, saúde, consumo e investimento humano.

Agora, no limiar do século 21, há a perspectiva de elevação da longevidade para acima dos cem anos de idade e uma profunda ampliação da produtividade do trabalho. Tudo isso motiva preparar, em novas bases, as ações estratégicas para o desenvolvimento brasileiro de longo prazo. Para quem vai viver cem anos, com a intensificação da produtividade, ampliam-se as possibilidades de ingresso no mercado de trabalho após os 25 anos de idade – conforme já ocorre para os filhos dos ricos – , assim como o tempo de trabalho em menor escala.

O futuro econômico de Porto Alegre:
uma questão pouco discutida
José Antônio Alonso
A interpretação do desenvolvimento econômico de cidades como Porto Alegre pode, eventualmente, levar os analistas a equívocos ao observar o comportamento dos principais agregados econômicos. As séries referentes à participação do parque industrial porto-alegrense no total da indústria do estado revela uma queda relativa expressiva, de algo em torno de 27% em 1970 para, aproximadamente, 9% em 2005. A mesma tendência é observada com relação aos serviços, cuja oferta em Porto Alegre representava 33,27% em 1970 e 25,62% em 2005. Tal evidência empírica tem levado muitos analistas a concluir que a metrópole gaúcha caminha inexoravelmente para o esvaziamento econômico. Essa foi a avaliação de importante dirigente municipal na última Conferência Mundial Sobre Desenvolvimento de Cidades, ocorrida em fevereiro, em Porto Alegre.

Trata-se de uma leitura apressada, sem considerar a história, o desenvolvimento do capitalismo e as respectivas metamorfoses por que passam as economias das metrópoles. As transformações são de caráter estrutural, como as mudanças na composição do produto e do emprego, e também de caráter territorial. A perda relativa da função industrial que Porto Alegre desempenhou no passado não significa que essa atividade venha a desaparecer, em termos absolutos, da capital. Há espaço, sim, para atividades industriais que operem com tecnologias limpas, que não consumam muito espaço físico, que movimentem matérias-primas e bens finais de pequenos volumes, o que significa baixa pressão sobre a circulação. Um excelente exemplo desse tipo de atividade é, sem dúvida, o Ceitec.

O vislumbre sobre o futuro econômico da capital gaúcha exige um olhar mais fino sobre as mudanças em curso. Com efeito, a dinâmica de Porto Alegre vem sendo, progressivamente, comandada pelo moderno complexo de serviços que nela se estabeleceu ao longo da história. Observe-se que essa é uma característica das metrópoles contemporâneas, onde os serviços ampliaram seu papel e passaram também a exercer, nesses espaços, a função de indutores do desenvolvimento. Todavia, tem se percebido, em anos recentes, um suave declínio na oferta de alguns tipos de serviços na capital quando comparados com o resto da RMPA. Esse movimento não implica, no curto prazo, perda de hegemonia da economia de Porto Alegre. Entretanto, numa perspectiva de longo prazo, impõe-se acompanhar com mais atenção a tendência locacional dos serviços na RMPA.

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