OPINIÃO

Professor: atribuições, realização e cansaço…

Jorge Renato Johann / Publicado em 26 de abril de 2008

Depois de 34 anos em sala de aula, tenho a dimensão da tarefa que assumi profissionalmente. Do encantamento dos primeiros tempos à maturidade serena de uma missão inconclusa, percebo as mudanças que ocorreram.

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Ilustração: Claudete Sieber

Ilustração: Claudete Sieber

Há mais de três décadas, o sonho de todo jovem professor era conseguir dois contratos, de 20 horas, numa escola pública estadual. Com 20 horas dava para comprar um fusca, e com dois contratos dava para comprar o apartamento e casar. A saúde era garantida pelo respaldo completo do Instituto de Previdência do Estado. Conseguir trabalho em escolas particulares era a complementação de uma trajetória de sucesso, em qualquer nível de atuação. As férias eram, no inverno, de mês inteiro, e de três meses, no verão. Com estas condições, ser professor era uma possibilidade de realização sob todos os aspectos, além do status de uma bela profissão. Com isso, quem almejasse a continuidade de seus estudos, imediatamente se candidatava ao ingresso nos diversos programas de pósgraduação. Assim se podia fazer cursos de especialização, de mestrado e até mesmo de doutorado, embora a oferta fosse reduzida por aqui. Sobrava um dinheiro para comprar livros, e usufruir de todos os tipos de atividades culturais que se apresentassem. Do cinema ao teatro, não havia dificuldades maiores de se aproveitar o que aparecesse. Escolas de excelência proliferavam tanto no âmbito público, quanto no particular. Era uma questão de escolha onde se queria que os filhos fossem educados. Ser professor ou filho de professor conferia sentimentos de dignidade e de respeito.

Paradoxalmente, o mundo evolui e seu desenvolvimento não representa necessariamente um processo continuado e ascendente. Sabemos das razões pelas quais a Educação foi sucumbindo a uma condição de precariedade lamentável. O certo é que a máquina de entortar as melhores coisas girou contra a Educação e os educadores. O trabalho foi se aviltando e os trabalhadores da Educação mergulhando em sentimentos de baixa auto-estima e de uma auto-imagem desprezível. Sua jornada de trabalho se multiplicou em obrigatórios três turnos diários para garantir uma precária sobrevivência. As exigências profissionais foram aumentando, enquanto o tempo e as condições para usufruir uma qualidade de vida confortável foram minguando cada vez mais.

O aperfeiçoamento profissional passou a ser inviabilizado por absoluta falta de meios disponíveis. E os reflexos de toda uma depreciação educacional se evidenciam tanto nos professores e nos alunos, quanto nos espaços físicos das escolas. A frustração e o cansaço dos primeiros se revela na reação displicente e agressiva dos últimos. Os belos espaços escolares não escondem mais a deterioração que vai por dentro. Resulta que a Educação e educadores pedem socorro. Enquanto a mercantilização do ensino cria guetos de excelência para uma sociedade marcada por diferenças e privilégios, é preciso urgentemente que se funde a esperança de que ainda é tempo de construirmos uma escola de qualidade para todos.

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