OPINIÃO

A cartilha da carreta

Publicado em 25 de maio de 2008

Eu tenho uma tese sobre a razão de tanto destrambelhamento na vida atual e o porquê do mundo andar tão desconjuntado. É falta de carretas entre nós. Basta comparar: se no tempo das carretas tudo funcionava nos eixos, a lógica manda trazer esses eixos de volta. Com eles tudo se ajeita.

Mas, dessa vez, nada de metáforas. Chega do blablablá da desobediência, voltemos ao bê-a-bá da experiência. Que saia a inércia teórica e venha o aprendizado das coisas feitas no muque. Precisamos da exemplar carreta.

Para recompor a autoridade do sistema de ensino, o projeto é simples: uma comprida carreta, com no mínimo quatro parelhas de bois. Sua função é fazer um circuito escolar revolucionário. Calma, tem fundamento.

Antes do dia aprazado da chegada da carreta, convoca-se a comunidade para o exercício do ajuste social: a diretoria da escola e professores, pais e alunos, povo e, claro, as tais autoridades políticas, civis, militares, sei lá que mais.

Com os bois reunidos à parte e a carreta num canto, as autoridades teriam a manhã para orientar a multidão na primeira montagem da carreta, conforme os ditames da desordem hoje em dia: o negócio é pôr a carreta adiante dos bois e conferir como a coisa funciona.

Como não há liderança ou bom senso, a confusão será geral: vão perder tempo com papeladas, discussões intermináveis sobre a seqüência das parelhas, análise da simbologia das cangas, tudo à luz das leis de proteção aos animais. As horas vão passar, a exaustão virá, mas, enfim, a carreta ficará pronta. Então uma autoridade local será convidada a dar o eia! inicial.

Os bois vão atender o apelo. Mas com a carreta estática lá na frente, como um obstáculo irremovível, nada conseguirão. Nenhuma viagem acontecerá. Aí já é hora do intervalo do exercício.

Na segunda parte, os educadores assumem os postos. Eles têm liberdade para impor métodos e está combinado que haverá disciplina e suas ações serão inquestionáveis. Tudo pelo bem da remontagem da carreta. A instrução agora é pôr os bois onde sempre estiveram. O mutirão segue a orientação dos professores e a pacífica tarefa é concluída.

Uma antiga professora sobe na carreta para guiar o veículo. Nem precisa gritar ou usar a vara: os oito bois fazem a carreta ranger e se movimentar. Aplausos.

A lição foi dada, a carreta segue para nova escola. Aposto que num ano a política educacional melhora.

Ou arranjem outra tese.

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