EDUCAÇÃO

Ensino privado condena ranking

Proposto pelo Ministério da Educação como ferramenta para avaliar a qualidade da Educação e embasar políticas pedagógicas, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), vem sendo usado por instituições do ensin
Da Redação / Publicado em 25 de maio de 2008

Em 2007, quase 4 milhões de estudantes se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio. Como a participação na avaliação não é obrigatória, somente 2,8 milhões realizaram a prova. Aliados a uma participação menos massiva do que o esperado, outros pontos geram debate sobre o aproveitamento do Enem como avaliador da qualidade da Educação e ferramenta para aperfeiçoar a pedagogia aplicada em escolas públicas e particulares.

Os resultados do Enem apontam o Rio Grande do Sul com a mais alta média geral do país: 56,27 pontos diante de 51,52 da média nacional. Mas também revelam um dado inquietante sobre as escolas privadas gaúchas. Das 20 particulares melhor qualificadas do país, nenhuma é gaúcha. Entre as melhores escolas públicas, apenas uma do estado conseguiu se posicionar: o Colégio Militar de Porto Alegre, instituição federal, que aparece na 20ª posição. Enquanto a média das instituições gaúchas é a melhor do país, a das particulares fica em 10ª lugar.

Douglas Schmidt e Thomaz Barros, alunos do Colégio Militar, conprovam a tese de que a prova é vista por muitos alunos da rede pública como passaporte para o Ensino Superior. Eles pensaram na Ufrgs na hora de se decidir pela participação no Enem. “Quero uma vaga na Engenharia”, diz Douglas. Seu colega prefere seguir carreira no Exército, mas não descarta o Enem como ferramenta para cursar uma faculdade. “Se precisar, tenho o ingresso facilitado”, aposta Thomaz.

Prova preparatória

O presidente do sindicato das instituições de ensino privadas do estado, Osvino Toillier, argumenta que os alunos são penalizados por terem que pagar taxa de inscrição, da qual estão isentos os alunos de escolas públicas. Ele também aponta que a prova é realizada fora dos turnos escolares, o que inviabiliza um acompanhamento das instituições. “Além de tudo, a prova é num domingo e o estudante vai por conta própria”, queixa-se.

Entre as instituições particulares já é usual propor aulas de reforço ou fornecer materiais de estudo semanas antes do Enem. As direções negam que isso seja uma estratégia para forçar um bom resultado e garantem que os alunos apenas são estimulados a participar. Mas, no Sinpro/RS, chegam diversas denúncias trazidas por professores sobre dirigentes que pressionam determinados estudantes a prestar o exame e boicotam a participação de outros, que teriam menos condições de obter boas notas.

“Estão dando o estímulo errado aos alunos: a formação de um ranking incentiva as escolas a escolher e até mesmo pagar para que seus melhores alunos façam o teste”, critica a secretária estadual de Educação, Mariza Abreu. O presidente do Sinepe se diz preocupado com as possíveis tentativas das escolas em se favorecer do desempenho dos seus alunos no Enem. Mas ele admite que o ranking confere um caráter de jogo ao processo: “o ranking é danoso, pois fortalece a idéia de campeonato. E pode haver não apenas preparação do time, mas especialmente escalação de quem vai entrar em campo”.

Um bom termômetro para medir o quanto as instituições particulares estão interessadas numa avaliação positiva dos seus alunos no Enem é a reação das instituições aos resultados divulgados em abril. O ranking provocou protestos. O presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, defende a divulgação das notas com o argumento de que isso permite “às instituições e às pessoas fazerem boas escolhas”. “Fomos ao Inep dizer que o ranking não faz sentido, mas não fomos atendidos”, reage Toillier.

Melhor colocado em 2006, o Colégio Israelita comemora o bom desempenho dos alunos também na prova de 2007. Mas além da superintendente educacional, Mônica Timm de Carvalho, e dos 24 formandos que fizeram a prova, ninguém mais soube do resultado, porque o Israelita foi excluído da classificação divulgada no site do Inep. “Podem pensar que a escola foi tão mal que nem entrou na lista”, protesta ela, dizendo que “a imagem da escola foi prejudicada”. Além do Israelita, os colégios Maristas também não aparecem na avaliação devido a problemas na hora do preenchimento dos requisitos formais.

O Sinpro/RS vem acompanhando a aplicação e os resultados do Enem. “Consideramos importante a avaliação da Educação no país, mas há distorções que comprometem a intenção do exame nacional”, avalia a diretora de Administração do Sindicato, Cecília Farias.

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