CULTURA

A história da imprensa brasileira

Museu Ivo Caggiani, que será aberto neste mês de maio em Santana do Livramento, possui em seu acervo originais e cópias de quase todos os jornais da região, desde o final do século 19, além de 600 peças re
Por Cleber Dioni Tentardini / Publicado em 17 de maio de 2009

O município de Santana do Livramento, na fronteira-oeste do estado, dá um importante passo este mês no resgate da memória da imprensa brasileira com a inauguração do Museu Ivo Caggiani, antigo Museu da Folha Popular. Em seu acervo estão originais e cópias de quase todos os jornais da região da fronteira, desde o final do século 19, além de dezenas de livros e documentos.

O museu, que leva o nome de um dos mais destacados historiadores gaúchos, falecido em 2000, possui ainda mais de 600 peças relacionadas à vida política e militar de Livramento, além de fragmentos arqueológicos.

Uma área de 180 metros quadrados no subsolo do Palácio do Comércio está sendo reformada para receber as peças do museu, que funcionava numa chácara no Cerro do Registro. Está fechado já há alguns anos.

A Associação Comercial e Industrial do município (Acil) está à frente da iniciativa. Em 2004, o então presidente da entidade, Vitor Hugo Fialho, buscou autorização da família de Caggiani e recursos financeiros para transferir as peças do museu.

A ideia inicial era construir um prédio anexo ao do Comércio, as obras foram iniciadas, mas pararam por falta de dinheiro. O subsolo virou alternativa só depois do término do contrato com um locatário. A entrada principal será defronte à Praça Internacional.

A secretária-executiva da Acil, Maira Araújo, se encarregou da catalogação do acervo. “Nós procuramos a dona Jurema e felizmente encontramos um museu muito bem conservado”, explica.

Ela calcula que o total gasto com as reformas gire em torno dos R$ 18 mil. “Depois de recebermos um aval técnico de um arquiteto para avaliar se o subsolo era apropriado, fomos em busca dos recursos”, explica Maira. Além dos associados, a Eletrosul se engajou no projeto e disponibilizou R$ 7 mil como apoio cultural. A Acil está bancando todo material e o 7º Regimento de Cavalaria do Exército disponibilizou a mão-de-obra para as reformas.

Maira salienta, no entanto, que a Acil não desistiu da construção do prédio. “O espaço aqui não comporta todo o acervo. Algumas esculturas e material bélico poderiam ser melhor aproveitados se tivéssemos um local maior para abrigá-los”, destaca a secretária-executiva. Ela lembra ainda que há o acervo literário de Caggiani, guardado na casa da viúva. Tem livros de sua autoria e de terceiros, trabalhos científicos do historiador, exemplares de diversos jornais e dos cadernos literários escritos por Caggiani. “A proposta a médio e longo prazos é digitalizar todo esse material”, explica Maira.

Entre chimangos e maragatos

As peças começaram a ser catalogadas em dezembro de 2005. “Calculo que tenha mais de 600 peças”, diz Maira. Embora fosse republicano, Caggiani colecionou objetos de líderes maragatos como Honório Lemes e Rafael Cabeda.

Consta na relação do acervo fotos antigas da cidade e de quase todos os intendentes municipais, além de roupas, armas e objetos pessoais de Caggiani e outras personalidades, como a primeira máquina de escrever usada no jornal A Platéia, do jornalista Carlos Varella; um uniforme e o chapéu usados pelo general santanense José Antonio Flores da Cunha; objetos do general João Francisco Pereira de Souza, do jornalista, líder federalista de 1893 e deputado federal Rafael Cabeda, e do poeta e jornalista Manoel Cabeda Perez, cópias de documentos relativos à fundação de Livramento; e cópias e originais de jornais que circularam em vários municípios, como o Correio do Sul, O Pallas, O Republicano, O Popular (S. Livramento), A Thezoura (Jaguarão), A Grinalda, O Diógenes (Porto Alegre),Aurora (São Borja), A Lyra (Bagé), O Cidadão (Quaraí) e O Porvir (Pelotas).

“O Caggiani tinha uns 20 anos quando o seu professor, o historiador Dante de Laytano, o incumbiu de três missões: escrever a história da cidade, criar um museu e escrever a biografia do Canabarro, mas ele fez muito mais pelos santanenses e pela própria cidade, não é?”, afirma dona Jurema.

Jornalista sofreu 27 prisões

Ivo Nicolás Caggiani, santanense, nasceu no dia 27 de maio de 1932. Foi casado com Jurema Fernandes, e teve uma filha, Ester. Exerceu cargos públicos e foi membro de instituições culturais. Dirigiu as redações de O Republicano, Diário do Sul, O Anglicano e Folha Popular, todos em Livramento.

Na Folha Popular, cujo jornal Caggiani reabriu em fevereiro de 1955, o jornalista enfrentou sérios problemas com os militares a partir de 1961, quando ele criou um comitê de apoio ao Movimento da Legalidade, liderado pelo então governador Leonel Brizola. O jornal sofreu várias intervenções e Caggiani foi preso 27 vezes.

Dentre as 26 obras publicadas de sua autoria, mais da metade abordam fatos históricos de Livramento, como Vultos de Sant’Ana (1° e 2° vol), Sant’Ana do Livramento – 150 anos de história, três volumes, e O Poder Legislativo em S. do Livramento. Dentre as biografias, destacam-se Carlos Cavaco, Vitélio Gazapina, um Benemérito de Sant’Ana, João Francisco – A Hiena do Cati, David Canabarro, de Tenente a General, Flores da Cunha – Livro Biográfico, e Rafael Cabeda – Símbolo de Federalismo. Caggiani faleceu em 19 de abril de 2000.

Comentários