CULTURA

Memória, conto e romance

Por Gilson Camargo / Publicado em 17 de maio de 2009

Se a internet oferece atalhos e fartura de informação para leitores apressados, nada se compara ao prazer de manusear um livro no seu formato físico, apreciar o ritual da leitura em todos os seus detalhes. Da orelha ao projeto gráfico, passando pela textura do papel, a qualidade das imagens e os detalhes gráficos, os lançamentos da Editora Libretos podem ser considerados banquetes para essa modalidade de leitor – a que saboreia livros em sua plenitude. Pois o selo – dez anos de mercado editorial e três prêmios Açorianos – acaba de tirar do prelo três boas publicações.

A enchente de 41, de Rafael Guimaraens, retrata a maior inundação da história de Porto Alegre, ocorrida entre 10 de abril e 12 de maio de 1941 e que deixou 70 mil pessoas desabrigadas (um quarto da população da capital na época). Financiado pelo Fumproarte, o livro reúne 120 imagens de fotógrafos da época e textos de Guimaraens. As grades do céu, de Susana Vernieri, reúne 13 contos, que relacionam a loucura e o desejo, em texto costurado com imaginação e refinada ironia. A autora parte da observação de tratamentos psiquiátricos para compor personagens anacrônicos que se equilibram no limite com seus enigmas e códigos delirantes. Já o romance de estreia de Pedro Câncio, Correntezas, narra a história de Paulina, Maria Santa, Martim e André, uma família que vive às margens dos Rios Ibicuí e Uruguai. Recria, com descrições de fauna e flora, uma atmosfera particular a esse pedaço da terra gaúcha, em que a vida e a correnteza andam sempre juntas.

RIQUEZA E MISÉRIA


A crise econômico-financeira gerada pelo calote das hipotecas imobiliárias nos Estados Unidos, no final do ano passado, que levou à quebradeira de bancos e ainda faz estragos na economia mundial, é analisada por pensadores como Leonardo Boff, Luiz Eduardo Wanderley, Plínio de Arruda Sampaio Bueno, Marcio Pochmann, entre outros, no livroAlternativas à Crise – Por uma economia social e ecologicamente responsável (Ed. Cortez, 152 p.). A obra é organizada por José Oscar Beozzo e Cremildo Volanin e reúne ensaios de sete autores. A Cortez também lançou Proprietários – Concentração e continuidade, organizado por Pochmann, Ricardo Amorim, Alexandre Guerra e Ronnie Aldrin, terceiro volume do Atlas da Nova Estratificação Social no Brasil. Tratase de uma cartografia sobre as origens da concentração de renda e da desigualdade social no país.

PARADOXO DO TEMPO
A paradoxal situação do homem contemporâneo e a sua relação com a temporalidade são o tema central de O Tempo Messiânico – Tempo histórico e tempo vivido, do filósofo Gérard Bensussan, com tradução de Antonio Sidekum (Ed. Nova Harmonia, 204 p.). Se estamos condenados ao presente, nem por isso abandonamos a tênue força messiânica que deixou sua marca em todas as é pocas da história da humanidade, sentencia Bensussan, que é professor da Universidade Ernst Bloch de Strasbourg (França). Para situar o leitor, a apresentação da obra, assinada pelo doutor da Unicamp Márcio Seligmann-Silva, constata que “os deuses não vêm mais sob uma vestimenta grega, judaica ou cristã, mas são buscados por todos na superfície lisa e fria das telas dos monitores, no espaço atópico da web e nas telas superdimensionadas dos televisores de plasma.

FIÉIS INCÔMODOS
O Deus exilado – Breve história de uma heresia(Civilização Brasileira, 303 p.), de Marilia Fiorillo, trata do movimento gnóstico cristão, de anarquistas espirituais, crentes na igualdade, que se consideravam os verdadeiros seguidores de Jesus. Extremamente influentes no Egito, na Síria e na Ásia Menor, se tornaram populares e incômodos o suficiente para desencadear a primeira campanha anti-herética de uma Igreja Católica ainda incipiente. Professora de História da Filosofia e Doutrinas Políticas na Escola de Comunicação e Artes da USP, doutora em História Social, a autora desata os complicados nós da teologia cristã e fornece pistas para se entender as religiões atuais.

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