OPINIÃO

Salário pra quê?

Por Marcelo Frizon* / Publicado em 17 de dezembro de 2010

Arte: D3 Comunicação

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Certa vez, sugeri a um professor que seu descontentamento com o salário que recebia podia afetar a qualidade do ensino, ao que fui prontamente repreendido. Desde sempre penso que salário pode não fazer a diferença na qualidade do ensino, mas ajuda e, a meu ver, quem nega isso demonstra ignorância.

Comandado por William Waack, o programa Globo News Painel do último dia 13 de novembro discutiu os investimentos feitos na educação nos últimos anos, que alcançaram os níveis de países desenvolvidos. Essa melhoria, no entanto, ainda não teve reflexo na qualidade da educação, tanto no ensino público quanto no privado. O economista Gustavo Ioschpe, o educador Mozart Neves Ramos, membro da ONG Todos Pela Educação, e Renato Corona Fernandes, engenheiro da Fiesp, debateram, especialmente, o salário do professorado.

A discussão foi rasa, como costuma ser esse tipo de debate, mas Ioschpe foi incisivo em negar a relação entre bom salário e qualidade de ensino. Realmente, uma boa aula depende principalmente da formação do professor, mas também da continuação de seus estudos. Para um professor de literatura, como eu, é necessário ir além dos livros de Machado de Assis, é preciso ler o que já se disse e o que se está dizendo sobre Machado. Depois, é preciso pensar em como transmitir esse conhecimento a alunos que normalmente não gostam de ler. Então, é preciso dinheiro para comprar os livros necessários e tempo para estudá-los. Mas esse professor precisa ir a cinema, teatro, exposições, espetáculos musicais, porque isso também influencia o trabalho. E ele precisa pagar suas contas, incluindo aí o acesso à TV a cabo e à internet banda larga.

Ser professor da universidade federal é um dos melhores postos que se pode alcançar na carreira do magistério. Geralmente, isso ocorre quando o professor tem por volta de 40 anos. Seu salário inicial é de cerca de 6 mil reais brutos, aumentando de acordo com sua progressão. Esse professor normalmente já é casado, tem filhos e paga a prestação de sua casa. E ele não vai colocar seus filhos no ensino público. Então, quanto sobra no final do mês? Como bancar isso tudo sem um bom salário? Gostaria que o economista Gustavo Ioschpe refletisse sobre isso, porque ele estaria, enfim, discutindo um assunto que deve dominar. Marcelo Frizon* VERISSIMO 03 EXTRA CLASSE Dezembro/2010 C H

*Professor de Literatura do Colégio Rainha do Brasil.

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