OPINIÃO

A persistência da infâmia

Rafael Souza Gonçalves* / Publicado em 7 de setembro de 2011

Palavra de Professor

Foto: Fábio Alves/D3 Comunicação

Foto: Fábio Alves/D3 Comunicação

Há anos estudiosos como o historiador gaúcho Paulo Vizentini apontam a existência, na Europa, de dezenas de agremiações em geral de caráter nazifascista (Alemanha 34 e Bélgica 30, por exemplo, além de mais de 20 grupos internacionais ). A Noruega não é o país de maior incidência de extremistas, embora tenha quatro grupos. O problema é que o estrago causado, não por células terroristas, mas por uma única pessoa, no caso, Anders Behring Breivik, mentor e autor dos atentados de 22 de julho na Noruega – a explosão de um carro-bomba, em Oslo, e o massacre de civis na ilha de Utoya, que provocaram mais de 70 mortes – foi imenso, por vários motivos.

Primeiro, o matador, Anders Breivik, tem ciência do que fez, mas diz ter sido necessário. Os europeus usavam o mesmo argumento da “missão civilizadora” para dominar a África nos tempos do Neocolonialismo. Tal pretexto se ouviu também em Nuremberg. Portanto, o argumento não é inédito nem ingênuo.

Segundo, a crise econômica abate a Europa há alguns anos. Em vários países assolados reapareceram os discursos que associam crise, desemprego e violência a estrangeiros/imigrantes etc. Questão delicada, que não recebe a devida atenção dos governos envolvidos.

Finalmente (aqui, pois a questão não se esgota), o assassino colocou o governo em um jogo de xadrez: o governo anunciou que a questão será resolvida de maneira democrática; aí vem o problema. Os fascistas rejeitam a democracia, considerada regime fraco, ineficiente − por isso são totalitários. Tal questão, extrema, sendo tratada de maneira rigorosamente democrática não gerará a punição que merece (a lei do país permite 21 anos de detenção, a menos que o crime seja enquadrado como ‘contra a humanidade’, que possibilita 30 anos – nada perante dezenas de vítimas), dando argumento para os demais defensores da ideologia. Mas tratar a questão com ‘mão de ferro’ para garantir o desfecho ideal para o assassino, servindo de exemplo aos outros, aproximaria o governo de um totalitarismo, defendido por tais grupos. Questão complexa.

Enfim, o estrago causado por Breivik certamente não terminou naquela sexta-feira…

*Especialista em História Contemporânea e professor de História do Colégio Murialdo Porto Alegre e da Escola Estadual Caldas Júnior.

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