OPINIÃO

Autismo e inclusão

Por Carla Guterres Graña* / Publicado em 7 de setembro de 2012

O autismo caracteriza-se por dificuldades significativas na comunicação e na interação social, além de alterações de comportamento, expressas principalmente na repetição de movimentos, como balançar o corpo, rodar uma caneta, apegar-se a objetos ou enfileirá-los de maneira estereotipada. Todas essas alterações costumam aparecer antes mesmo dos três anos de idade, especialmente em crianças do sexo masculino.

Essa desordem faz parte de um grupo de síndromes chamado Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) ou Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID). Mais recentemente utiliza-se o termo Transtorno do Espectro Autista (TEA) para englobar o Autismo e a Síndrome de Asperger. A utilização do termo espectro autístico se dá em função da existência de vários graus de autismo.

A educação inclusiva, conforme determina a LDBen, deve ser oferecida aos alunos portadores de necessidades educativas especiais em todas as instituições comuns do ensino regular, sendo obrigação da escola fazer adaptações nos seus recursos didáticos, no seu ambiente escolar e nas suas práticas pedagógicas para a melhor inclusão desses alunos. A legislação é clara e precisa, assim como a dificuldade humana de acolher o que não seja somente seu retrato, sua imagem especular.

Por exemplo, no caso do autismo a prioridade é facilitar e possibilitar situações de interações para tentar minimizar a dificuldade de convívio social, e a escola pode ser um ótimo ambiente para que isso aconteça. Respeitar o limite da criança autista, ser claro nos enunciados, ampliar o tempo para que ele realize as atividades e sempre comunicar mudanças na rotina antecipadamente podem ajudar a inserção dessa criança no ambiente escolar. Descobrir e explorar as ‘eficiências’ do autista é um bom caminho para ajudá-lo no seu desenvolvimento.

Por tudo isso, devemos saudar as escolas que se permitem ser penetradas por essas questões. A missão de aceitar a diferença e propagar a inclusão está associada com a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro como um “outro”, propriamente, inevitavelmente diverso, assegurando-lhe assim a prerrogativa de conviver e compartilhar com o diferente externo a nós. Que não cessa, entretanto, de manifestar-se no interior de nós mesmos, como demonstrou Sigmund Freud ao descobrir o inconsciente, esse eterno desconhecido que nos habita tão obscuramente.

Portanto, a indisciplina escolar, enquanto problema a ser resolvido, é da responsabilidade de todos os atores da comunidade escolar. Exige-se dos pais uma paternidade/maternidade responsável, pautada num “amor exigente”. Exige-se do educador um “olhar viajante”. Exige-se da escola um espaço de acolhida e valorização da pessoa humana. Exige-se do educando respeito aos princípios de convivência construídos pelo e para o coletivo.

*Coordenadora do departamento de Fonoaudiologia do Instituto Contemporâneo de Psicanálise e Transdisciplinaridade (ICPT), professora do curso de extensão Espectro Infantil e psicoses da infância inicial do ICPT e professora convidada da Fundação Ecarta no projeto Conversa de professor

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