GERAL

O “não” como símbolo da dignidade e autoridade do professor

Quais são os obstáculos que impedem o professor de dizer não aos excessos?
Por Roséli Olabarriaga Cabistani* / Publicado em 6 de outubro de 2013

A relação do professor com sua profissão é uma relação muito particular. Ao referirem-se a ela, os professores mencionam a paixão como um componente fundamental, o que indica que muitos comparecem a sua função docente munidos de uma formação que inclui o laço emocional com o trabalho, compreendido como o campo de relações com seus alunos e a própria “missão” de educar. Ocorre que essa peculiaridade do fazer docente vem sendo cada vez mais invadida por demandas de atividades sem fim. Essas atividades exigem ir muito além das horas contratadas pelas escolas.

Nosso propósito é interrogar quais são os obstáculos que impedem o professor de dizer não a esses excessos.

Faz parte dos processos mais primitivos do pensamento a enunciação do não. É através da negativa que inicialmente nosso eu se afirma. O excesso de trabalho, a insegurança do vínculo profissional, o tratamento do professor como alguém que deve satisfazer o aluno-cliente vêm provocando uma erosão na autoestima do professor. Este acaba esquecendo que seu trabalho envolve um grande poder, o poder conferido pela atividade de educar e pelo vínculo afetivo que se estabelece entre ele e seu aluno.

A organização do trabalho obriga os professores a correrem cada vez mais, impedindo-os de pensar e criar e, principalmente, o cenário de competitividade construído pela sociedade consumista e individualista em que vivemos faz com que os laços de solidariedade, compartilhamento e apoio que poderiam encontrar em seus colegas se fragilizem. Cada um vive a sua situação na mais extrema solidão, julgando-se o único responsável pelos méritos e fracassos que possa vir a encontrar. Como então bancar uma resistência se estão constantemente ameaçados?

Embora seja este um cenário alarmante, não podemos esquecer que a angústia, produzida por essas novas formas de viver as relações no ambiente escolar, pode impedir-nos de ver que não somos escravos. Podemos acabar nos habituando a uma “servidão voluntária”, impeditiva do exercício do nosso inalienável direito de liberdade, de descanso e lazer.

*Psicanalista (APPOA), doutora em Educação (Ufrgs). Professora da Ufrgs e assessora do NAP.

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