CULTURA

Mostra discute o racismo contra os negros e sua invisibilidade social

Encerra neste dia 15 de novembro a Mostra X na Galeria Ecarta, com curadoria de Leo Felipe e Luisa Duarte
Por Redação / Publicado em 12 de novembro de 2015

Mostra discute o racismo contra os negros e sua invisibilidade social

Fotos: Igor Sperotto

Fotos: Igor Sperotto

Três trabalhos compõem a exposição: Poder, de Carlos Vergara; Aceita?, de Moisés Patrício; e Monos, de Rafael RG; e uma biblioteca temática (com autores como Frantz Omar Fanon, Nei Lopes, Chimamanda Ngozi Adichie e Carolina de Jesus e Oliveira Silveira).

“Abordamos uma das questões mais contundentes que a sociedade brasileira precisa enfrentar para se desenvolver de forma justa e digna: o racismo direcionado aos negros”, expõe Leo Felipe, que também é coordenador da Galeria Ecarta. “Este projeto pretende trazer à luz esse problema latente”.

A Mostra conta com variada programação paralela, promovendo debates, exibição de documentários, visita guiada, performance e sarau, chegando a locais e a uma rica história construída pelos negros e ainda desconhecida por muitos gaúchos.

“A participação da Fernanda Oliveira foi fundamental”, destaca o curador.

Fernanda, doutoranda em História na Ufrgs, fez a assessoria histórica ao projeto.

“Ela foi uma importante interlocutora política e propositora de questões centrais na concepção da mostra”, afirma Léo Felipe.

A abertura da mostra, no dia 19 de setembro, foi antecedida por visita guiada a pontos de referência da cultura e da história da população negra em Porto Alegre.

A iniciativa foi viabilizada pela parceria com a Secretaria Municipal de Educação, que idealizou e realiza o projeto Territórios Negros e a Carris.

O roteiro do projeto Territórios Negros é feito com o auxílio do ônibus da Carris, especialmente liberado para o projeto, com a participação de uma historiadora, responsável por contar um pouco da história de cada local, como o Largo da Forca (Praça Brigadeiro Sampaio), o Pelourinho (Igreja Nossa Senhora das Dores), o Mercado Público, o Campo da Redenção (Parque Farroupilha), a Ilhota (perto do Centro Municipal de Cultura e da avenida Erico Verissimo) e o Quilombo do Areal da Baronesa (Travessa Luis Garanha).

“Fizemos este tour com estudantes de escolas públicas e privadas”, conta a historiadora Fátima Rosane da Silva André. “A maioria não tem nem noção do que ocorreu nesses locais e da importância de manter viva esta história”.

Mostra discute o racismo contra os negros e sua invisibilidade social

Fotos: Igor Sperotto

Fotos: Igor Sperotto

A vida e obra de Carolina de Jesus, negra, favelada, que teve seu diário publicado em livro em 1960, Quarto de despejo, entre outros, superando em vendas à época Gabriela Cravo e Canela, de Jorge Amado, foi apresentada no dia 23 de outubro, em sessão especial de filmes e debate, em parceria com o Instituto Cultural Afrosul/Odomodê.

Presentes os autores do livro Carolinas (AfroeducAÇÃO, 2014), Diego Balbino e Paola Prandini. Foram apresentados os curtas Favela: a vida na pobreza, de Christa Gottmann (Alemanha, 1971, 19 min) e Vidas de Carolina, de Jéssica Queiroz (Brasil, 2014, 10 min).

O Sarau Sopapo Poético, tradicional encontro de arte negra promovido em Porto Alegre pela Associação Negra de Cultura (ANdC), que ocorre sempre na última terça-feira do mês, integrou a programação da mostra X, no dia 27 de outubro, com a participação especial do artista Moisés Patrício e o debate sobre a sua série Aceita?.

RODA DE CONVERSA – A Mostra X contou também com duas edições do Roda de Conversa no espaço da própria Galeria, com a participação de ativistas do movimento negro, artistas e pesquisadores, nos dias 10 e 28 de outubro. Este segundo encontro contou com a performance Saravá do Patrício, em que o artista Moisés Patrício se apropria de diversas camadas da cultura, explora a religiosidade.

“Uso da ficção para problematizar a violência”, expõe. “Minha criação artística não é meramente estética. Sou jovem, negro e moro em São Paulo. Sei o quanto é difícil e, diante do crescimento atual do conservadorismo, me sinto na responsabilidade de me manifestar a respeito”.

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