OPINIÃO

O Brasil sonhado pelo MBL

Publicado em 10 de novembro de 2016

No dia 27 de maio de 2015, o MBL teve um encontro com o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para discutir o impeachment de Dilma Rousseff. Em sua página no Facebook, o movimento comemorou o encontro

O Movimento Brasil Livre (MBL) surgiu na cena política brasileira em novembro de 2014, logo após a reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT) com mais de 54 milhões de votos. Apresentando-se como uma organização não governamental apartidária defensora do liberalismo, o MBL passou a organizar, juntamente com outros grupos, manifestações de rua que mobilizaram milhares de pessoas em todo o país contra o governo Dilma. Embora suas principais lideranças insistissem em se apresentar como “apartidários”, as vinculações com os principais partidos de oposição ao governo do PT foram se tornando evidentes. O movimento acabou desempenhando um papel importante na construção do desgaste social do governo Dilma e do processo de impeachment da presidenta eleita em 2014.

O Brasil sonhado pelo MBL

Foto: Reprodução/Web

Foto: Reprodução/Web


No dia 27 de maio de 2015, o MBL teve um encontro com o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para discutir o impeachment de Dilma Rousseff. Em sua página no Facebook, o movimento comemorou o encontro: “Foi uma grande vitória do povo que teve sua voz ouvida. Agora precisamos reforçar a pressão junto aos deputados para que endossem e apoiem o impeachment na Câmara” (foto). Esse encontro resultou em uma foto onde aparecem reunidos, com Eduardo Cunha, algumas das principais lideranças do movimento e dos partidos que lideraram o processo de deposição da presidenta eleita pelo voto popular em 2014. Na sessão que votou o impeachment na Câmara dos Deputados, lideranças do MBL ganharam de Eduardo Cunha crachás especiais reservados a autoridades para transitar livremente pela Casa.

O MBL sempre sustentou que suas atividades e manifestações eram financiadas pela contribuição de seus membros. No entanto, gravações de áudio reveladas em 2016 pelo portal UOL mostraram um líder do MBL reconhecendo que o movimento havia recebido ajuda de partidos de oposição ao governo Dilma, como DEM, PMDB, PSDB e Solidariedade. Após a divulgação dos áudios, o MBL afirmou que o conteúdo dos mesmos estava “fora do contexto” e “distorcido”. Nas eleições municipais de 2016 o suposto caráter apartidário do MBL caiu por terra definitivamente. O movimento lançou e apoiou candidatos a prefeito por todo o Brasil. Entre os partidos escolhidos, estavam aqueles que as gravações reveladas pelo UOL apontaram como alguns dos financiadores do movimento.

Um dos personagens citados nestes áudios é Moreira Franco, braço direito de Michel Temer, que teria ajudado a custear 20 mil panfletos para o MBL por meio da Fundação Ulysses Guimarães, que traziam o lema “esse impeachment é meu”. Em outra gravação, Renan Santos, um dos líderes do movimento, confirmou a articulação do MBL com partidos políticos.

O MBL na eleição de Porto Alegre

Na eleição para a Prefeitura de Porto Alegre, o MBL apoiou a candidatura do deputado federal Nelson Marchezan Júnior, do PSDB, e acabou adquirindo um protagonismo polêmico no segundo turno. O candidato do PMDB à prefeitura da capital gaúcha, Sebastião Melo, acusou o movimento de perseguir um dos coordenadores de sua campanha, Plínio Zalewski, que acabou sendo encontrado morto no banheiro do comitê de campanha de Melo. Segundo as investigações preliminares da polícia, todos os indícios indicaram que se tratava de um suicídio.

Na abertura do segundo turno, Melo questionou os métodos de campanha utilizados por Marchezan e sugeriu uma ligação entre a campanha do tucano e o MBL. “Tens que parar, Marchezan. Tens que parar e explicar qual a tua relação com o Movimento Brasil Livre, o MBL, que persegue pessoas como fizeram com o nosso querido amigo Plínio, que acabou perdendo a sua vida”, afirmou o candidato do PMDB. “O mais grave neste movimento é que ele não respeita quem pensa diferente”, acrescentou Sebastião Melo. Questionado sobre o apoio do MBL a sua campanha e sobre as ações do movimento contra Plínio Zalewski, Marchezan sustentou que o apoio é normal dentro de uma disputa eleitoral.  “não me parece que isso pode levar alguém ao suicídio”, disse o candidato do PSDB.

Defensor de um ultraliberalismo ao estilo da ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher, o MBL defende, entre outras propostas, o projeto Escola sem Partido, a privatização dos bancos públicos, a redução de impostos das escolas privadas, a substituição do SUS por um sistema de planos de saúde, a substituição do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) por um sistema facultativo de seguro privado para a demissão, o fim da função social da propriedade, a privatização de presídios e o fim da restrição de calibre para o armamento das polícias. Esse é o Brasil sonhado pelo MBL que passa a contar, a partir deste ano, com mandatos eleitos em vários partidos.

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