CULTURA

As áreas indígenas de Xadalu

Publicado em 12 de junho de 2017

Foto: Bruno Alencastro

Foto: Bruno Alencastro

Depois do livro Xadalu – Movimento Urbano, que contextualiza a obra de Dione Martins, um dos mais importantes artistas contemporâneos do Rio Grande do Sul, lançado em abril, a obra do artista também ganhará um documentário, ainda sem data de lançamento, e que está sendo produzido pela Zeppelin Filmes.

Dione nasceu em Alegrete em 1985 e vive em Porto Alegre desde 1997, quando se mudou com sua avó e sua mãe para a vila São Vicente, mais conhecida como Complexo da Funil. No início, perambulava pelas ruas da capital para recolher material reciclável, que garantia o sustento da casa. Depois, seu primeiro emprego foi como gari na Prefeitura de Porto Alegre, varrendo outras tantas ruas. “Em pouco tempo já estava íntimo das ruas e mal sabia que nunca mais iria conseguir viver sem elas. Essa mistura de periferia com asfalto (ruas) tornou empírico meu DNA marginal. Tanto a periferia quanto a rua, sinto elas como a extensão do meu corpo, fazem parte de mim”, explica Xadalu em um trecho do seu livro.

O primeiro contato com a serigrafia foi numa gráfica em que trabalhou, onde o proprietário deixava que ele usasse os materiais e equipamentos para produzir suas primeiras obras. Na época, as aulas de história sobre a destruição da cultura indígena o inspiraram. Por sugestão do amigo e também artista urbano Celo Pax, ele criou o personagem do indiozinho Xadalu e, em 2005, realizou a primeira colagem urbana, tendo como matriz artística seu trabalho serigráfico. Foi assim que disseminou a figura do indiozinho, que se tornou uma das representações mais marcantes do imaginário porto-alegrense contemporâneo.

Em 2012 foi eleito Melhor Artista na Expo Colex, Mostra Internacional de Sticker Art em Santos (SP). Em 2014 ganhou o Prêmio Humanidades 2014 do Instituto Brasileiro da Pessoa, como homenagem pela defesa da causa indígena aliada às questões socioculturais deste tempo. Tem obras em acervos de instituições como o Margs, MACRS e Memorial do Rio Grande do Sul.

Hoje, quando Xadalu não está envolvido com trabalhos sociais com os índios da aldeia no bairro do Lami, está trabalhando suas impressões artísticas em seu ateliê, localizado no Distrito Criativo da capital, ou colando sua arte pelas ruas e avenidas de Porto Alegre.

LIVRO – O livro, lançado em abril, foi publicado em edição trilíngue, português, inglês e guarani, e aborda os dois grandes temas da trajetória do artista: a arte urbana e a arte por causa, representados, principalmente, pelo famoso personagem do indiozinho Xadalu, que estampa adesivos e cartazes espalhados nas grandes metrópoles e em mais de 60 países pelo mundo.

Foi ideia do próprio artista tornar o livro acessível na língua guarani. Em seu texto no livro, Xadalu confessa: “Em cada aldeia por onde passo tento deixar um pedaço de meu coração. E no lugar desse vazio trago os amores e dores de uma cultura linda e sofrida, quase destruída, mas ainda resistente e persistente. Me sinto como o jabuti, o mensageiro que leva e traz a informação”.

Além do depoimento de Dione, o livro traz textos de Vitor Mesquita, Francisco Dalcol, André Venzon, Patrícia Ferreira e Adauany Zimovski, que apresenta as séries de obras mais relevantes da carreira do artista. Os primeiros trabalhos mostram uma variedade de técnicas e já anunciam a expressividade e variedade de seu repertório visual. Destes, surgem os stickers (adesivos), e é através da linguagem da sticker art que Xadalu monta uma rede de trocas e intercâmbios (pelo correio e internet) com artistas e colaboradores, que ajudam a espalhar suas obras pelas cidades do mundo. A série de colagens e pinturas Elementos Urbanos é resultado de uma vivência urbana intensa, aliada a um olhar sensível para as particularidades da vida nas ruas. A série Área Indígena – cartazes e adesivos em forma de placas de sinalização, instalados nos espaços da zona central de Porto Alegre – denuncia o choque cultural entre índios e brancos. A presença indígena no centro da cidade desdobrou-se na série Seres Invisíveis – fotografias impressas em grande formato, coladas repetidamente em pontos estratégicos da capital gaúcha – ampliando o debate sobre marginalização, preconceito e a invisibilidade indígena. Por fim, a série Fauna Guarani – pinturas em tons neon sobre papel, que representam os animais sagrados da cultura guarani e reconhecidos no artesanato em madeira produzidos pelos índios – alerta sobre os problemas sociais que afetam as comunidades indígenas e a natureza como um todo.

O livro reproduz também a transcrição de uma conversa entre Xadalu e Toniolo, artista pioneiro na arte urbana contemporânea de Porto Alegre, amigo e influente na carreira de Dione. A conversa é mediada pela produtora cultural Carla Joner, diretora-geral do projeto.

CADERNO PEDAGÓGICO – Além de textos e imagens, a publicação traz um caderno pedagógico destinado ao público infanto-juvenil. Com a colaboração de Patrícia Ferreira (Kerexu) – moradora da Aldeia Mbya-Guarani Koenju (São Miguel das Missões/RS) e integrante do projeto Vídeo nas Aldeias – o caderno traz, além de páginas para colorir, o conceito de espacialidade, lugar, paisagem e sonho na perspectiva guarani, propondo exercícios reflexivos a partir desses termos.

O caderno pedagógico será usado nas disciplinas de Educação Artística das escolas de quatro comunidades indígenas do Rio Grande do Sul – Aldeia Koenju (São Miguel das Missões), Aldeia Pindó Mirim (Itapuã, município de Viamão), Aldeia Nhundy (Águas Claras, no município de Viamão) e Aldeia Pindó Poty (bairro Lami, município de Porto Alegre) – que receberão, ainda, a doação de 40% da tiragem dos livros.  Essas aldeias também têm permissão para vender os livros, possibilitando um incremento na geração de renda dessas comunidades.

O projeto é  realizado pela Joner Produções com financiamento do Pró-Cultura-RS/FAC/Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer do RS/Governo do Estado do Rio Grande do Sul e apoio da Gráfica Coan.

Além da publicação, um aplicativo com recurso de Realidade Aumentada está sendo desenvolvido para o projeto. Por meio de cartazes e adesivos colados em diversos pontos de Porto Alegre, os transeuntes poderão acessar um conteúdo virtual relacionado ao projeto e às redes sociais, usando smartphones ou tablets.

O livro em formato impresso pode ser comprado na Livraria Bamboletras, em Porto Alegre.

DOWNLOAD GRATUITO
O livro estará disponível para download gratuito no site do artista (www.xadalu.com) e da Joner Produções (www.jonerproducoes.com.br). Facebook: xadalumovimentourbano  Instagram: @xadalu_movimento_urbano

 

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