CULTURA

Pedalar é bom demais!

Por Clarinha Glock / Publicado em 12 de julho de 2017
Soster, professor da Unisc: sentidos e descobertas na estrada

Foto: Acervo Pessoal

Soster, professor da Unisc: sentidos e descobertas na estrada

Foto: Acervo Pessoal

Há cerca de dois anos, Demétrio de Azeredo Soster estava viajando para o Uruguai a passeio com a família quando avistou na estrada um casal de ciclistas. A imagem fisgou o coração e a mente do professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Ao chegarem ao Chuí, na fronteira do Brasil, lá estava o mesmo casal. Os dois contaram que haviam pedalado até Colônia de Sacramento. Dali por diante, Soster passou a prestar atenção na estrada, e a perceber outros grupos de ciclistas. “Não tinha me dado conta de que se podia viajar de bicicleta”, conta. Lembrou da magrelinha que havia ganhado da mulher, Fabiana Piccinin, jornalista e parceira na sua editora Catarse, e decidiu que se tornaria um cicloturista. Em 13 de janeiro deste ano, iniciou a jornada de 1.130 km, em 10 dias, até Buenos Aires, solito. Quando o cansaço e a solidão quase o fizeram desistir, encontrou no pórtico de Montevidéu outros ciclistas que o estimularam a completar o percurso.

"Operação Banda Oriental": diário de uma cicloviagem

Foto: Reprodução

“Operação Banda Oriental”: diário de uma cicloviagem

Foto: Reprodução

A descoberta da bicicleta como meio de viagem coincidiu com momentos de perda, como a morte da mãe, e outras dores. Ajudou a retomar o fôlego para seguir a vida. Agora, às vésperas do lançamento do livro Operação Banda Oriental, em que relata em forma de diário sua primeira cicloviagem, Soster, de 50 anos, não tem dúvida de que muita coisa mudou. Não foi apenas o preparo físico, mental e alimentar – cultiva uma horta para a família, e compartilha os produtos com amigos. Entre a sala de aula, as pesquisas e o movimento sobre duas rodas, está a Literatura. Rendeu-se à “senhora” poesia, como ele chama, e assumiu que, além de professor, é escritor.  Tem quatro livros de poesia publicados. A obra mais recente, O Livro das Sombras, Jazz & outros Poemas (Catarse, 2016), é finalista no Prêmio da Associação Gaúcha de Escritores (AGES) na categoria Livro do Ano 2017. No seu único livro de crônicas, intitulado Pérolas de Pedro, registrou o engatinhar de palavras e frases “geniais” do filho caçula, hoje com oito anos.

No princípio, meio e fim de tudo, Soster reconhece o prazer do movimento e de se sentir parte de um todo maior. “Pedalar é bom demais!”, avisa. Virou sua filosofia: “A vida está sempre se transformando”. Ele explica: cicloturismo tem a ver com sustentabilidade, autossuficiência, despoluição. Traz na memória do pedalar o cheiro do fogão a lenha de casas próximas, trechos de diálogos ouvidos nos caminhos, a figura de animais com que cruzou. “As pessoas te acolhem, gera uma empatia natural”, conta.

O espírito do cicloturismo se incorporou às aulas. Na lista de titulações que acumula na Academia, Soster tem um estágio pós-doutoral em andamento na Unisinos e atuação em grupos de pesquisa, que somou à experiência anterior de assessor de imprensa, repórter, editor e gerente de redação. Leciona Jornalismo e é pesquisador e professor do Programa de Pós-graduação em Letras da Unisc. “Hoje procuro fazer com meus alunos um diálogo o mais largo possível.” Transita nas aulas como quem passeia de bicicleta, unindo a técnica com o humano. E Soster já está se preparando para a próxima cicloviagem ao Chile, em janeiro de 2018.

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