OPINIÃO

A classe trabalhadora não tem tempo para nutrir sentimento de derrota

2016 foi o ano da marcha ré, em direção ao atraso e à precarização das políticas sociais, ao desemprego, à informalidade e ao temor do que virá pela frente
Por Claudir Nespolo * / Publicado em 22 de dezembro de 2016
O Parlamento gaúcho sitiado durante votação do pacote: "Não nos esqueceremos dessa negociata promovida por Sartori e dos partidos e deputados que o apoiam"

Foto: Igor Sperotto

O Parlamento gaúcho sitiado durante votação do pacote: “Não nos esqueceremos dessa negociata promovida por Sartori e dos partidos e deputados que o apoiam”

Foto: Igor Sperotto

Certas datas ficam gravadas na memória do povo brasileiro. Assim como abril de 1964, agosto de 2016 entrará para a história, pois foi o ano em que sofremos um segundo golpe patrocinado pelas elites empresariais, sustentado ideologicamente pelo Partido da Mídia Golpista (PIG), com o beneplácito do Judiciário e monitorado pelos EUA, principal interessado na entrega do Pré-sal e das nossas riquezas e disposto a restabelecer a hegemonia no continente. 2016 foi o ano da marcha ré, em direção ao atraso e à precarização das políticas sociais, ao desemprego, à informalidade e ao temor do que virá pela frente. Futuramente, lembraremos desse ano por termos sido impedidos de seguir avançando na construção de um país mais igualitário, justo e solidário.

O ano de 2016 também entrará para história como o ano das manifestações de rua, das grandes marchas, das greves e paralisações, das ocupações, das aulas públicas e da resistência política e cultural. O ano em que o povo que vive do trabalho do setor público e privado, do campo e da cidade, saiu às ruas ao lado da juventude para dizer: nenhum direito a menos, nenhuma mulher a menos, nenhum negro e negra a menos, nenhum jovem a menos, nenhum indígena a menos, nenhum estudante a menos, nenhum LGBT a menos. O ano em que restauramos a resistência, a luta de classes e que contribuímos para que a sociedade brasileira comece a identificar os seus verdadeiros inimigos.

Com toda essa energia, saudamos primeiramente a nossa base sindical, que travou o bom combate contra a ganância das federações empresariais durante as campanhas salariais, que enfrentou o golpe e se destacou na luta contra a retirada de direitos. Para tanto, buscamos construir a unidade da classe trabalhadora, como condição indispensável para combatermos o capitalismo.

Alimentamo-nos da luta empreendida pelas mulheres, gigantes no enfrentamento ao golpe e na defesa da democracia, e nutrimo-nos da esperança e destemor dos estudantes que quebraram a normalidade das escolas, dos institutos federais e das universidades públicas e privadas com as experiências das ocupações. Celebramos a grande unidade proporcionada pela Frente Brasil Popular, as dezenas de marchas e protestos que protagonizamos e que nos ensinaram que unidos somos fortes e podemos fazer além do possível e avançar.

Solidarizamo-nos com os milhares de homens e mulheres que perderam os seus empregos devido ao desmonte da política industrial, à crise econômica forjada pelos rentistas e endinheirados. Com os 3,2 mil demitidos recentemente pela Ecovix, no Polo Naval de Rio Grande. E os cerca de 1,2 mil funcionários públicos estaduais que chegam ao Natal aviltados pelo governador José Ivo Sartori (PMDB) e sua base aliada na Assembleia Legislativa, que aprovaram a extinção de nove fundações, da Corag e da SPH como parte do projeto de estado mínimo e entrega do Rio Grande do Sul para atender aos interesses das federações empresariais e da RBS. Não nos esqueceremos dessa negociata promovida por Sartori e dos partidos e deputados que o apoiam.

Lutamos ombro a ombro com diferentes atores e atrizes sociais contra os retrocessos e o conservadorismo político que o sustenta. É com esse caldo de cultura militante e com disposição de continuar batalhando pela classe trabalhadora que ingressaremos em 2017.

Não temos tempo para nutrir sentimentos de derrota. Tampouco temos tempo para lamentações. Não subestimemos a nossa força e o nosso papel na história. A verdade é que impedimos que a pauta dos golpistas fosse implementada na sua totalidade e virulência. Eles não terão a nossa rendição. Não daremos trégua aos golpistas. Para nós, restabelecer a democracia tem nome: Diretas Já!

A nossa prioridade nos primeiros meses de 2017 será impedir a reforma da Previdência e a reforma trabalhista. O Fórum Social das Resistências, previsto para o período de 17 a 21 de janeiro, em Porto Alegre, deverá entrar na agenda dos lutadores e lutadoras sociais. Será o momento de reencontro de quem acredita que um “outro mundo é possível” e de retomada da resistência coletiva e organizada. Também precisamos organizar um referendo sobre a PEC 55, que congela gastos com saúde e educação por 20 anos.

Tudo faremos no ano que vem chegando para realizar uma greve geral vitoriosa, a fim de derrotar o governo ilegítimo e golpista de Michel Temer (PMDB) e debelar as reformas que conspiram contra os trabalhadores e a sociedade.

Vamos nos encontrar em 2017 nas ruas e nos locais de trabalho, fortalecendo a mobilização na base das categorias e contribuindo para a conscientização do povo. A classe trabalhadora não fugirá das suas responsabilidades e de seus compromissos na luta por um país soberano e democrático com trabalho decente e justiça social.

* Presidente da CUT/RS

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