MOVIMENTO

Mulheres contra a reforma da Previdência

Manifestações contra as reformas previdenciária e trabalhista marcam o Dia Internacional da Mulher, com marcha de milhares em Porto Alegre e preparativos para a greve geral de 15 de março
Por Valéria Ochôa / Publicado em 8 de março de 2017
Mulheres de diversas partes do estado participaram da concentração na ponte do Guaíba e marcha até o centro da capital

Foto: Valéria Ochôa

Mulheres de diversas partes do estado participaram da concentração por volta das 5h30min na ponte do Guaíba e marcha até o centro de Porto Alegre

Foto: Valéria Ochôa

O amanhecer desta quarta-feira, 8 de março – Dia Internacional da Mulher –, em Porto Alegre (RS), foi marcado por uma marcha de milhares de mulheres, vindas de várias regiões do estado, contra a reforma da Previdência (PEC 287), proposta pelo governo Temer e em tramitação acelerada no Congresso Nacional. A concentração ocorreu às 5h, na BR 290, junto à ponte do Rio Guaíba.

Ligadas à Via Campesina, ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), às centrais sindicais e sindicatos filiados, as mulheres partiram em caminhada, por volta das 6h30, percorrendo cerca de 6 quilômetros pela Avenida Farrapos até a frente da agência do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), no centro da Capital gaúcha, quando foi realizado um grande ato contrário a reforma da Previdência, respeito profissional e por mais direitos. Cartazes foram levantados durante a caminhada por mulheres do campo e da cidade, denunciando a homofobia, o feminicídio, o racismo e outras formas de violência contra as mulheres. “Estamos aqui contra a reforma da Previdência, contra o ajuste fiscal, contra as diversas formas de violência que atingem trabalhadoras e trabalhadores e para mostrar que não aceitamos esse governo golpista do Temer”, expôs Salete Carollo, do MST, Tapes.

Diversidade: movimento contou com a adesão de trabalhadoras de diversos setores e regiões do estado

Foto: Valéria Ochôa

Diversidade: movimento contou com a adesão de trabalhadoras de diversos setores e regiões do estado

Foto: Valéria Ochôa

Depois do ato, saíram em caminhada até a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, na Praça da Matriz, para participarem do seminário O Impacto da Reforma da Previdência na Vida das Mulheres. Foram recebidas pelo deputado Edegar Pretto (PT), presidente do Legislativo, e lotaram o Teatro Dante Barone. Pretto reafirmou o seu compromisso de atuar contra a aprovação da reforma da Previdência. “Não ficaremos em cima do muro”, destacou. “Temos posição e ela é clara: somos contra qualquer tentativa de retirada de direitos consagrados pela Constituição”.

No painel, a presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), Jane Berwanger, afirmou que a proposta de reforma da Previdência é o fim da Previdência Social no Brasil. “Estabelecer a idade mínima para mulheres em 65 anos é o mais nefasto de todos os aspectos ruins dessa proposta”. Jane Berwanger lembrou que as estimativas apontam que 47% das trabalhadoras brasileiras não conseguirão se aposentar caso a reforma seja aprovada. Além disso, as agricultoras serão simplesmente excluídas do sistema, já que as novas regras em discussão no Congresso estabelecem a necessidade de contribuição individual também no meio rural. “Com isso, só os homens contribuirão, e as mulheres ficarão de fora, como era antes da Constituição de 1988”, destacou.

Já a presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-4), Beatriz Renck, destacou que a idade diferenciada para a aposentadoria de homens e mulheres não é um privilégio, mas o reconhecimento da desigualdade de gênero que impera no país. E elencou: os salários das mulheres são em média 24% menores; elas são as principais responsáveis pelas tarefas domésticas e pela educação dos filhos e, ainda, são alvos preferenciais de assédio moral e sexual no trabalho. “Tratar de forma desigual os desiguais é uma forma de buscar a igualdade”, preconizou.

Concentração e ato em frente à sede do INSS no centro da capital

Foto: Igor Sperotto

Concentração e ato em frente à sede do INSS no centro da capital

Foto: Igor Sperotto

Participaram do seminário, também, o representante da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal, César Roxo Machado, que assegurou que a Previdência não está falida; e, por videoconferência, o senador Paulo Paim (PT/RS) e a deputada federal Maria do Rosário (PT/RS).

Ao final do seminário foi aprovada uma carta para ser enviada aos deputados federais e senadores reivindicando a rejeição da proposta de reforma e a instalação imediata de uma CPI para apurar eventuais irregularidades no sistema. O documento também propõe o combate à sonegação, a redução das renúncias fiscais e o fim das manobras orçamentárias, representadas pela desvinculação de recursos de áreas essenciais.

MAIS AGENDA
Outras atividades estão previstas ainda para a tarde desta quarta-feira. Em Porto Alegre, devem ocorrer eventos culturais na Praça da Matriz e uma nova marcha, com concentração a partir das 17h na Esquina Democrática.

Durante a marcha, mulheres denunciaram a homofobia, o feminicídio, o racismo e outras formas de violência de gênero

Foto: Igor Sperotto

Durante a marcha, mulheres denunciaram a homofobia, o feminicídio, o racismo e outras formas de violência de gênero

Foto: Igor Sperotto

O Dia Internacional da Mulher também está sendo marcado por manifestações em cidades do interior do Rio Grande do Sul e em outros estados. Os movimentos feministas promovem paralisações em mais de 30 países.

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