OPINIÃO

Lula tirou a Lava-Jato da mediocridade

Por Moisés Mendes / Publicado em 11 de maio de 2017

Curitiba PR Brasil o ex presidente Luiz Inacio Lula da Silva durante Ato jornada pela democracia em Curitiba

Foto: Ricardo Stuckert/APT/Fotos Públicas

Foto: Ricardo Stuckert/APT/Fotos Públicas

Os políticos não estão sozinhos no esforço para emburrecer e brutalizar o país. A grande imprensa, o Ministério Público e o Judiciário da Lava-Jato também cumprem esta tarefa. Mas Lula pode salvá-la, se for convocado outras vezes para um duelo como este que aconteceu em Curitiba. Lula deu uma sacudida na Lava-Jato.

A operação que tem a missão de ajudar a depurar o Brasil acabou por empurrar o país para a mediocridade. A Lava-Jato caiu na armadilha de ‘conversar’ com o povo, para obter dele o apoio ao que faz. Acabou por virar um caso exemplar de populismo do Ministério Público e do Judiciário.

O procurador e o juiz que chefiam a operação foram seduzidos por esta tentação de ‘falar com as pessoas’. Emitem notas, produzem entrevistas coletivas, fazem vídeos horríveis e rebaixaram a reflexão dos que pretendem ter como cúmplices. Poderia ser bom, se não fosse um marketing apenas moralista, ingênuo e discursivo.

O primeiro grande exemplo é a já famosa rosácea do powerpoint das bolinhas azuis do procurador Deltan Dallagnol. A rosácea tratou os brasileiros como seres incapazes de entender o funcionamento da corrupção sem simplificações. O desenho, o recurso gráfico, as bolinhas, Lula ao centro do esquema, tudo é simplório, infantil.

A Lava-Jato acredita que terá sustentação política se for midiática e reducionista. Isso explica por que o juiz Moro emite notas de apoio a passeatas e produz vídeos caseiros (o último, diante da cortina de casa, é lamentável) com apelos para que seu povo não vá para as ruas de Curitiba.

Temos um procurador e um juiz com ambição performática, mas sujeitos aos erros de quem faz marketing sem dominar seus fundamentos mais elementares.

Dallagnol colhe milhares de assinaturas para suas propostas ao Congresso com as 10 medidas de combate à corrupção. Mas pelo menos metade das 10 medidas não se sustenta, depois de depreciada por juristas. Mas Dallagnol acha que, além de procurador, deve cumprir sua missão como pregador e legislador.

Assim como Sergio Moro se considera um juiz com seguidores e fãs, como se estivesse permanentemente no Face Book.

Não se imagina que um juiz na Síria conflagrada faça um discurso em que tente esclarecer que não é parte num processo, que um juiz não tem parte, não tem interesse, que um juiz julga. Pois Sergio Moro fez isso. Moro sai a dizer que é um juiz, que não é parte, não acusa nem defende.

Mas, no fim, o que Dallagnol e Moro querem mesmo é politizar a Lava-Jato, com o pretexto de protegê-la contra os ataques dos que dela divergem ou com ela se sentem ameaçados.

Foto: Ricardo Stuckert/APT/Fotos Públicas

Foto: Ricardo Stuckert/APT/Fotos Públicas

Seus chefes tentam sustentar num lastro político uma operação que deveria se segurar na sua fortidão institucional e jurídica. É por isso que os dois se assustam com a decisão de Lula de aceitar o desafio de politizar a Lava-Jato. Esta é a trincheira do ex-presidente, e não deles.

A atitude de Moro, no depoimento de Lula em Curitiba, quando decide que uma câmera ficará parada, focada no petista, e que ele, Moro, não irá aparecer em nenhum momento, é a prova dessa insegurança. Moro temia, como anunciou, que as imagens fossem usadas politicamente por Lula em uma eventual campanha.

O juiz transmite a ideia de que o espaço da Justiça, o seu reduto, as suas audiências, são também parte de uma seita em que somente os réus aparecem publicamente. Os acusadores e os julgadores ficam ocultos.

Moro teme que Lula, um político, faça política. A Lava-Jato das ações seletivas e dos recados escolares está tendo o troco de quem sabe passar mensagens ao povo.

A força-tarefa de Curitiba terá de se entender com Lula. O primeiro duelo com Moro foi vencido pelo petista, mesmo que a imprensa tente dizer o contrário. O brilho pessoal de Lula poderá salvar a Lava-Jato da sua narrativa pueril e medíocre.

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