POLÍTICA

STF suspende mandato, mas nega prisão de Aécio Neves

Delação de empresários ao STF relaciona Michel Temer a esquema de corrupção para sabotar a Lava Jato e incrimina senador tucano
Da Redação / Publicado em 18 de maio de 2017
Agentes da PF com roupas civis cumpriram mandatos de busca e apreensão no Congresso

Foto: TV Globo/ Reprodução

Agentes da PF com roupas civis cumpriram mandatos de busca e apreensão no Congresso

Foto: TV Globo/ Reprodução

A irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Andrea Neves, foi presa na manhã desta quinta-feira, 18, pela Polícia Federal, em cumprimento a um mandado de prisão expedido pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Andrea foi presa em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Fachin determinou o afastamento de Aécio Neves do mandato de senador e optou por não decretar a prisão do tucano como havia determinado a Procuradoria Geral da República (PGR). A eventual prisão de Aécio seria submetida ao plenário do Supremo, mas o ministro voltou atrás e rejeitou de forma unilateral o pedido de prisão expedido pela PGR. Pela manhã, a operação fez buscas em apartamentos e no gabinete do senador tucano.

O até agora intocável senador Aécio Neves é investigado na Lava Jato

Foto: Divulgação/ PSDB

O até agora intocável senador Aécio Neves é investigado na Lava Jato

Foto: Divulgação/ PSDB

A operação da PF foi deflagrada a partir da delação da JBS, revelada pelo jornal O Globo no início da noite de quarta-feira, em que gravações mostram Aécio Neves pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, dono da maior exportadora de proteína animal do mundo, sob a justificativa de que precisava da quantia para pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato. O dinheiro foi entregue a um primo de Aécio, conforme vídeo entregue pelo delator aos agentes. Ao rastrear o caminho do dinheiro, a PF descobriu que o montante foi depositado numa empresa do senador Zezé Perrella. Batista revelou ainda que, durante a campanha de Aécio à presidência, em 2014, pagou R$ 60 milhões em propinas ao tucano através da emissão de notas fiscais frias.

A delação envolve o presidente Michel Temer, que segundo a reportagem de O Globo, é ouvido nas gravações avalizando a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, que está preso desde outubro em Curitiba. De acordo com a reportagem do colunista de política Lauro Jardim, “o presidente Michel Temer foi gravado em um diálogo embaraçoso”, indicando “o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F (holding que controla a JBS)”. Loures foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil enviados por Joesley. O relator da Lava Jato determinou a abertura de inquérito para investigar formalmente o presidente Temer.

A tentativa de obstruir a Lava Jato teria ocorrido há dois meses, ou seja, durante o mandato de Temer, o que motivou a apresentação de ao menos um pedido de impeachment do presidente, protocolado na noite de quarta-feira pelo deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ), ou embasar um processo criminal contra o peemedebista. Michel Temer já havia citado nas delações da Odebrecht, mas não pôde ser investigado porque as acusações referem-se a crimes cometidos antes de ele assumir a presidência.

A Polícia Federal cumpriu ainda mandado de prisão contra o procurador da República Ângelo Goulart Villela, cooptado pela JBS para vender informações sigilosas das operações Greernfiled e Lava-Jato.

Pânico no Congresso

Viaturas descaracterizadas da PF em uma das entradas do Congresso. Agentes fazem buscas nos gabinetes dos senadores Aécio Neves e Zezé Perrela, e do deputado Rocha Loures

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Viaturas descaracterizadas da PF em uma das entradas do Congresso. Agentes fazem buscas nos gabinetes dos senadores Aécio Neves e Zezé Perrela, e do deputado Rocha Loures

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Desde as 6h15 desta quinta-feira, agentes da Polícia Federal cumpriram mandados de busca e apreensão nos gabinetes dos senadores Aécio Neves, Zezé Perrela (PMDB-MG) e do deputado Rocha Loures (PMDB-PR). A assessoria de Aécio Neves divulgou nota na qual explica que a relação com Joesley Batista “era estritamente pessoal, sem qualquer envolvimento com o setor público”. As sessões da Câmara dos Deputados e do Senado foram suspensas depois da divulgação da reportagem. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encerrou a sessão que analisava medidas provisórias (MPs) que trancam a pauta da Casa, sem concluir a votação da MP 755/16, que trata dos repasses de recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) a estados e municípios. Maia disse que “não havia mais clima para a continuidade dos trabalhos”. Ele saiu apressadamente, falando ao telefone, e admitiu que as denúncias são graves.

Após a divulgação da reportagem, o líder do PSOL, Glauber Braga (RJ), foi à tribuna. “Acaba de sair uma revelação, a notícia de uma gravação onde [o presidente] Michel Temer dá orientações para manter Eduardo Cunha calado na unidade prisional em que se encontra”, disse Braga, e deputados da oposição passaram a gritar palavras de ordem pedindo a saída de Temer.

O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) informou que protocolou um pedido de impeachment de Temer. “As denúncias mostram um comportamento incompatível com a função de presidente, com o decoro do cargo. […] Não há outra saída para o presidente [da Câmara] Rodrigo Maia a não ser receber esse pedido”, afirmou Molon.

Dois pedidos de impeachment de Temer foram recebidos na noite de quarta-feira, pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Dois pedidos de impeachment de Temer foram recebidos na noite de quarta-feira, pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Depois o deputado JHC (PSB-AL) protocolou um segundo pedido de impeachment contra o presidente. No documento, o deputado diz que a denúncia contra Temer revela “sua total ausência de condições mínimas para liderar o país rumo à saída da maior crise econômica de sua história”.

Os deputados disseram que vão obstruir as votações enquanto o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), não colocar para deliberação do colegiado uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de autoria do deputado Miro Teixeira (REDE-RJ), que prevê eleições diretas para a Presidência da República, caso o presidente Michel Temer seja cassado ou renuncie ao mandato. Segundo o líder da minoria, José Guimarães (PT-CE), os partidos de oposição vão trabalhar em três direções: a renúncia, “que deixaria o país mais tranquilo, com a convocação de novas eleições.

Comentários