EDUCAÇÃO

Reitores e parlamentares criam frente contra cortes

Universidades federais gaúchas deixaram de receber R$ 2 bilhões em recursos aprovados e não implementados em virtude de decretos do governo sobre a lei orçamentária de 2017
Cristina Ávila, de Brasília / Publicado em 23 de agosto de 2017
Encontro de parlamentares e reitores de cinco universidades gaúchas em Brasília foi convocado pela Assembleia Legislativa do RS. Na pauta, perdas orçamentárias das instituições e arbitrariedades

Foto: Caco Argemi/ ALRS/ Divulgação

Encontro de parlamentares e reitores de cinco universidades gaúchas em Brasília foi convocado pela Assembleia Legislativa do RS. Na pauta, perdas orçamentárias das instituições e arbitrariedades

Foto: Caco Argemi/ ALRS/ Divulgação

Numa sala ainda vazia na manhã desta quarta-feira, 23, na Liderança do PT na Câmara Federal, o reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Rui Vicente Oppermann, exclamou quase como para si mesmo: “Nunca imaginei estar correndo dessa forma, por esse motivo”. Ele chegava para a articulação da Frente Gaúcha de Defesa das Instituições de Ensino Federais, que será lançada no próximo dia 18 de setembro em Porto Alegre. O motivo do encontro em Brasília, convocado pela Assembleia Legislativa do RS, com parlamentares e reitores de cinco universidades do estado, são as perdas orçamentárias das instituições.

“De 2014 para cá, com edições de decretos do governo em cima da Lei Orçamentária Anual (LOA), estima-se que tenhamos deixado de receber pelo menos R$ 2 bilhões, recursos aprovados e não implementados. Somente a Ufrgs deixou de receber R$ 500 milhões, e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), outros R$ 270 milhões. Só relacionado a orçamento”, sintetizou o reitor da UFSM, Paulo Burmann.

A conclusão da reunião em Brasília é que os parlamentares deverão convencer seus pares para reflexões sobre a situação, mas as principais tarefas serão dos reitores. “Eles deverão trabalhar para sensibilizar também outros estados e o ministro da Educação, a quem pedimos audiência, especialmente neste momento em que os reitores de todo o país estão aqui em um encontro nacional”, afirma o presidente da Assembleia Legislativa do RS, deputado estadual Edgar Pretto (PT). O pedido de audiência com o ministro José Mendonça Bezerra Filho, porém, não foi atendido.

Edgar Pretto disse que a comunidade universitária está mobilizada nas cidades do interior do estado. A Frente Gaúcha de Defesa das Instituições de Ensino Federais será lançada no dia 18, em Porto Alegre, no Teatro Dante Barone. Em 30 de setembro, será o Dia D, “em que as comunidades regionais darão abraços às instituições, como comprometimento de que todos nós unidos vamos lutar para que não persista esse verdadeiro retrocesso e ataque às universidades e institutos federais de educação”, ressaltou Pretto.

Os reitores e parlamentares lembraram mobilizações históricas de estudantes e professores no país e consideram que somente com a sensibilização da população é que poderá haver mudanças na realidade, que não se restringe apenas às questões orçamentárias, mas ao cerceamento da autonomia das universidades e ao trabalho de professores. O reitor da Ufrgs afirmou que ele mesmo foi processado devido a debates políticos, no período de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

O Rio Grande do Sul tem sete universidades e três institutos federais. Segundo o deputado estadual Nelsinho Metalúrgico (PT), presente no encontro, os institutos têm 55 mil alunos, 3 mil funcionários e professores, em 46 campi, em 42 municípios. As sete universidades têm outros 100 mil alunos, em 25 campi. O deputado não dispõe de números de professores e funcionários universitários. Na reunião em Brasília, além da Ufrgs e UFSM, estiveram reitores das universidades federais de Pelotas (UFPel), Rio Grande (Furg) e de Ciência da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).        Os reitores consideram que o orçamento das universidades em 2017 será referência para os próximos 20 anos. “O governo fará tudo o que for necessário para ser o menor possível”, prevê o deputado Dionilso Marcon (PT-RS). O ano começou com corte de 15% em custeio para funcionamento e 40% em despesas com obras.

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