OPINIÃO

Tributo aos professores do Brasil

Por Gabriel Grabowski / Publicado em 4 de outubro de 2017

Tributo aos professores do Brasil

Foto: Elza Fiuza Agência Brasil

Foto: Elza Fiuza Agência Brasil


No mês de outubro, entre muitas datas comemorativas, o Dia das Crianças e o Dia do Professor merecem nossa atenção e reflexão. Entre o surgimento de uma e outra quase um século as separa, mas a educação as une. Uma sociedade e um país com consciência e responsabilidade com o seu futuro devem ter um cuidado especial com suas crianças e com seus educadores.

O maior investimento que se pode fazer com as crianças é amá-las, prepará-las e educá-las bem para a vida, desenvolvendo sua autonomia e habilitando-as para vida compartilhada em coletividade. Tal missão deve ser um esforço compartilhado entre as famílias e responsáveis, a sociedade e os profissionais do ensino. Um processo que se estende começa na infância, passa pela adolescência e juventude, estendendo-se por toda a vida.

Todos os países que são referência positiva em desenvolvimento social, educação de qualidade, honestidade, progresso científico e tecnológico, valorização da cultura e da literatura, começaram pela educação infantil e com professores qualificados, valorizados e com carreira de Estado. Educação de qualidade requer investimentos e prioridade absoluta. Vacilar com uma geração já compromete o desenvolvimento de nação.

No Brasil, mesmo com os salários abaixo da média mundial, com condições de trabalho pouco favoráveis e com maiores turmas de alunos, as carreiras na área da educação são mais populares do que na maioria dos países membros ou parceiras da OCDE. Em 2015, 20% dos graduados optaram por este campo de estudos e as licenciaturas em 2016 totalizaram 1.520.494 alunos/matrículas. Por quê? O que mobiliza jovens, a maioria mulheres (71%) a optarem, investirem e dedicarem sua vida nesta carreira tão desprestigiada no Brasil?

O Sentido e o Valor da docência não se revelam somente nos salários e prestígios da profissão. Há uma razão e uma essência no ato de educar que não são perceptíveis aos sentidos, nem nas conquistas materiais e muito menos nos reconhecimentos oficiais através de prêmios da ideologia meritocrática. Então, onde encontrar estes encantos da atividade de educar? Vou, singelamente, destacar alguns.

O primeiro deles é poder compartilhar com os estudantes momentos únicos de ensinar e aprender juntos, pois professores e alunos são sujeitos cognitivos, apesar de serem diferentes. Dizia Paulo Freire: “ensinar ensina o ensinante a ensinar”. Esta simbiose na relação da discência e da docência oportunizam uma experiência que somente o processo educativo proporciona.

A natureza humana, segundo Paulo Freire, é baseada na Esperança. É na “inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente. Mulheres e homens se tornam educáveis na medida em que se reconhecem inacabados”. Esta incompletude humana impõe ao educador uma “exigência ontológica” que se alicerça na esperança. Esperança do verbo esperançar, não desistir, buscar, ou seja, uma esperança ativa. A docência é esta possibilidade de viver e acreditar na esperança, não a esperança por pura teimosia, mas por imperativo existencial e histórico.

Em sociedade genuinamente democrática, segundo John Dewey, todas as profissões são consideradas igualmente valiosas ou dignas, por serem serviços sociais competentes, necessários e úteis à comunidade humana. Nenhuma profissão dispensa por completo o trabalho corpóreo e todas merecem a recompensa estética do lazer. Daí resulta o diferencial da docência que supera o tecnicismo e a mecanização do trabalho, humanizando e socializando os estudantes. Impregnar Sentido e Valor à vida, à existência, desenvolvendo a inteligência para uma convivência harmoniosa com o outro e em coletividade é privilegio do professor.

A docência propicia muitos outros encantos na educação com crianças, adolescentes e jovens. A cada ano que passa nos rejuvenescemos mais que envelhecemos; aprendemos mais que ensinamos; nos alegramos com os progressos e nos fortalecemos nas dificuldades; nos humanizamos e tornamos pessoas melhores na construção dos conhecimentos e na convivência com os outros e, o mais dignificante, colaboramos com a formação de projetos de vida de gerações que podem fazer um mundo melhor para todos.

A educação é essencialmente um processo social e o professor é a liderança intelectual de processo. A finalidade maior não está nos resultados imediatos, na realização dos desejos e impulsos humanos, mas no exercício da inteligência do aluno à liberdade de pensar, desejar e decidir. Educar é dilatar e ampliar o horizonte dos seus desejos e das suas necessidades (Russell Lowel) e, o verdadeiro professor, defende os alunos contra a sua própria influência de mestre.

Subamos nos ombros dos sábios com humildade e aprendamos que a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o Mundo (Mandela) e se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda (P. Freire). A sociedade que não prioriza nem valoriza a educação e seus mestres não se desenvolverá e permanecerá na mediocridade. Ergamos nossas vozes e prestemos um tributo aos nossos professores brasileiros que, mesmo nas adversidades da carreira, acreditam e trabalham diariamente para formar nossas gerações e um país melhor. Obrigado educadores. Continuem a luta!

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