MOVIMENTO

Em greve há 66 dias, professores decidem manter paralisação

Com voto direto, os professores ignoraram os apelos do Conselho Geral do Cpers para encerrar o movimento – foram 1.160 votos a favor da manutenção do movimento e 578 contra
Por Flávio Ilha / Publicado em 10 de novembro de 2017

 

Manifestação dos professore diante do Palácio Piratini no último dia 7 de novembro

Foto: Cpers/Divulgação

Manifestação dos professores diante do Palácio Piratini no último dia 7 de novembro

Foto: Cpers/Divulgação

Em assembleia realizada no Parque da Harmonia nesta sexta-feira, 10 de novembro, em Porto Alegre, os professores estaduais e funcionários de escola decidiram manter a greve da categoria, que completou 66 dias. Numa reunião agitada, com voto direto distribuído entre 10 urnas, os professores ignoraram os apelos do Conselho Geral do Cpers/Sindicato para encerrar o movimento – foram 1.160 votos a favor da manutenção do movimento e 578 contra.

Segundo o Conselho, que se reuniu pela manhã para avaliar o movimento, 4.593 professores e funcionários de escola estavam em greve nesta sexta-feira – número que cairá, segundo a presidente do Sindicato, Helenir Aguiar, para 2.024 na próxima segunda-feira (13).

Em greve há 66 dias, professores decidem manter paralisação

Foto: Facebook/Reprodução

Foto: Facebook/Reprodução

Sob vaias, a dirigente defendeu um “recuo estratégico” na greve. “É dever do Conselho Geral trazer a realidade para esta assembleia, que é soberana para decidir. Mas é preciso entender a enorme responsabilidade que é levar uma greve”, discursou.

A presidente informou ainda que apenas cinco dos 38 núcleos regionais do Cpers continuam em greve. Helenir reconheceu que a proposta do governo era insuficiente, mas disse que viu “avanços” no movimento.

“Recebemos a primeira proposta com 54 dias de greve, o que mostra a indisposição do governo em avançar. Uma proposta muito aquém. Mas conseguimos puxar o pagamento em dia dos salários para dezembro, em vez de fevereiro do ano que vem, e obtivemos ganhos na proposta de cedências para o sindicato. Também instituímos uma mesa de negociação para discutir os 21,85% de reposição salarial dos últimos três anos. É insuficiente, mas são avanços obtidos pela categoria”, disse a presidente.

Em meio a discursos raivosos contra o governador José Ivo Sartori (PMDB), acusado de ser autoritário e de perseguir a categoria, milhares de professores participaram da assembleia. Lembraram a reforma das leis trabalhistas, que entra em vigor neste sábado (11), como mais um instrumento que ataca frontalmente os sindicatos que representam categorias de trabalhadores.

Na última reunião de negociação, realizada na tarde da terça-feira (7), governo e comando de greve não chegaram a um acordo sobre as propostas à categoria para tentar pôr fim à greve.

No documento apresentado aos professores, o governo reafirmou a necessidade de cumprir o calendário escolar assim que as aulas forem retomadas, mas reforçou que pretende retirar da pauta da Assembleia Legislativa o projeto que muda o prazo de pagamento da folha dos servidores e que não irá punir nem demitir professores contratados por envolvimento com a greve.

O governo também afirma estar “buscando soluções para acabar com o parcelamento dos salários e pagar em dia o 13º” já a partir de dezembro e acenou com essa possibilidade diante da venda de parte das ações do Banrisul, anunciada em outubro e que deverá render, segundo fontes do mercado, cerca de R$ 2,6 bilhões aos cofres públicos.

Há expectativa de melhora nas combalidas finanças do Estado também com a renegociação da dívida com a União, atrelada à venda da CEEE, da Sulgás e da Companhia Rio-grandense de Mineração (CRM). O comando de greve, entretanto, não aceita que a solução dos problemas salariais da categoria dependa dessa alternativa.

O Conselho do Cpers elaborou uma contraproposta prevendo a recuperação de parte das aulas deste ano em 2018, para não comprometer o período de férias da comunidade escolar no verão. As férias de 45 dias do magistério estão previstas em lei e devem ser usufruídas entre janeiro e fevereiro de cada ano.

Reunidos no Parque Farroupilha, professores contrariaram orientação do Cpers e votaram por permanecer em greve

Foto: Facebook/Divulgação

Reunidos no Parque Farroupilha, professores contrariaram orientação do Cpers e votaram por permanecer em greve

Foto: Facebook/Divulgação

A presidente do CPERS/Sindicato, Helenir Schürer, defendeu o direito os professores usufruírem seu período legal de férias e afirmou que a parada seria positiva também para os alunos, que poderiam ter uma folga antes de retomarem as atividades. A solução para a acumulação de parte das aulas de 2017 no ano letivo de 2018, porém, não foi aventada na proposta do CPERS/Sindicato.

“Temos buscado negociar com o governo, que atrasa sistematicamente nossos salários há 23 meses, desde o primeiro dia de greve. Mais uma vez, no entanto, a expectativa é de que não avance a possibilidade de um acordo”, disse Helenir.

A Secretaria da Educação rejeitou a proposta e advertiu para a possibilidade de os alunos perderem o ano letivo caso a greve não seja encerrada na assembleia desta sexta-feira.

Além disso, a proposta prevê o pagamento do 13º salário até o dia 20 de dezembro, garantia de fim de parcelamento dos salários e manutenção da data de pagamento dos salários do funcionalismo. Os professores também não querem a extinção da licença-prêmio e da alteração do tempo de serviço para contribuição previdencial.

Segundo a Secretaria de Educação, 2,8% das escolas estão totalmente paralisadas, e 30% apresentam greve parcial.

 

Comentários