ECONOMIA

Reajustes de gás e energia elétrica pressionam inflação

Prévia da inflação de dezembro não reflete realidade de reajustes do gás de cozinha, eletricidade e combustíveis, que devem se intensificar em 2018
Por Gilson Camargo / Publicado em 26 de dezembro de 2017
De acordo com o Dieese, salário mínimo deveria ser de R$ 3.731,39

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

De acordo com o Dieese, salário mínimo deveria ser de R$ 3.731,39

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) – que mede a oscilação dos preços no mercado varejista e o custo de vida da população – teve variação de 0,35% em dezembro, pouco acima da taxa de 0,32% de novembro. Dessa forma, o acumulado fechou o ano de 2017 em 2,94%, menor resultado desde 1998, quando havia registrado 1,66%. No entanto, não considera o impacto de médio prazo dos reajustes recentes do gás de cozinha e da gasolina. “A inflação é uma média da variação dos preços e dos serviços que nem sempre reflete a realidade”, adverte Ricardo Franzoi, supervisor técnico do Dieese/RS. De acordo com o economista, as distorções se devem à variação de preços de produtos de características diferentes, como alimentos que podem ser substituídos por outros ou simplesmente cortados do orçamento; e dos bens e serviços oligopolizados, como telefonia, combustíveis, medicamentos, aos quais não há alternativas para substituir o consumo e cujos reajustes têm impacto na inflação futura.

Para o cálculo do IPCA-15 os preços foram coletados no período de 14 de novembro a 13 de dezembro (referência) e comparados com aqueles vigentes de 12 de outubro a 13 de novembro (base). O indicador refere-se às famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos e abrange as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e Goiânia. A metodologia utilizada é a mesma do IPCA, a diferença está no período de coleta dos preços e na abrangência geográfica.

Por conta da falta de chuvas e do alegado aumento dos encargos do setor elétrico, os reajustes de eletricidade em 2017 devem totalizar 14% e a previsão das operadoras é de mais aumento em 2018. A projeção de reajustes da tarifa para o próximo ano é de 9,4%. Em 5 de dezembro, a Petrobras autorizou reajuste médio, nas refinarias, de 8,90% no preço do gás de cozinha vendido em botijões de 13kg, o que não aparece na prévia do IPCA de dezembro, que registra apenas o reajuste de 0,80%. São índices muito superiores ao IPCA projetado para 2017 (menos de 3%) e de 2018, que não deve passar de 4%.

Fonte: IBGE

Fonte: IBGE

OSCILAÇÃO – Três dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados apresentaram resultados em queda: artigos de residência (-0,27%), Comunicação (-0,26%) e Alimentação e Bebidas (-0,02%). A queda de 0,02% em Alimentação e Bebidas foi menos intensa que a registrada nos seis meses anteriores. Vários produtos influenciaram o resultado, a exemplo do feijão-carioca (-5,02%), da batata-inglesa (-3,75%), do tomate (-2,88%), das frutas (-1,40%) e das carnes industrializadas (-1,29%). Mesmo com o grupo em queda, alguns alimentos apresentaram aumento de preços, especialmente, o óleo de soja (1,92%) e as carnes (0,41%). Nos Artigos de Residência (-0,27%), a queda foi influenciada pelos itens: TV, som e informática (-1,61%) e eletrodomésticos (-0,51%). No grupo Comunicação (-0,26%), além das quedas no item aparelho telefônico (-2,24%), o telefone fixo (-0,76%) registrou o realinhamento nos valores do minuto e da assinatura nos planos de algumas operadoras a partir de 8 de novembro.

ENERGIA ELÉTRICA – Nos itens que pressionam a alta da inflação, a energia elétrica (0,77%), do grupo Habitação (0,43%), desacelerou em relação ao mês de novembro (4,42%). Isto devido à vigência, a partir de 1º de dezembro, da bandeira tarifária vermelha patamar 1, com custo adicional de R$ 0,03 a cada quilowatt-hora consumido, nas tarifas cobradas aos consumidores em substituição à bandeira tarifária vermelha patamar 2, que implicava em um custo adicional de R$ 0,05 por cada quilowatt-hora consumido. Ocorreu ainda, em Goiânia (5,86%), reajuste médio de 15,70% no valor das tarifas a partir de 22 de outubro. Na mesma data, em Brasília (0,07%), passou a vigorar o reajuste médio de 6,84% e, em uma das empresas pesquisadas na região metropolitana de São Paulo (1,06%), houve reajuste de 22,59% a partir de 23 de outubro.

Ainda no grupo Habitação, o gás de botijão registrou variação de 0,80%. Em 5 de dezembro, a Petrobras autorizou reajuste médio, nas refinarias, de 8,90% no preço do gás de cozinha vendido em botijões de 13kg. Além disso, a partir de 1º de novembro, o gás encanado, com variação de 0,48%, reflete o reajuste de 1,54% ocorrido no Rio de Janeiro (0,93%) em 1º de novembro. A taxa de água e esgoto, com variação de 0,92%, refere-se ao reajuste de 7,89% nas tarifas em São Paulo (3,55%) a partir de 10 de novembro.

A mais elevada variação de grupo ficou com Transportes (1,16%), sob pressão da gasolina (2,75%), item que liderou o ranking dos principais impactos individuais, com 0,11 ponto percentual. Houve pressão, também, dos itens passagens aéreas (22,34%) e etanol (4,34%). Cabe destacar que o item ônibus urbano (-1,04%), exerceu o maior impacto negativo no índice do mês (-0,03) em razão da redução de tarifa ocorrida no Rio de Janeiro (-5,28%) a partir de 15 de novembro.

Outros destaques em alta foram: plano de saúde (1,06%), empregado doméstico (0,52%) e roupa masculina (0,99%). Quanto aos índices regionais, o mais elevado foi registrado em Brasília (0,83%), onde a gasolina (4,91%) e as passagens aéreas (16,50%) se destacaram com, respectivamente, 0,28 p.p. e 0,26 p.p. de impacto no índice do mês. O menor resultado foi o de Salvador (-0,09%), sob influência do resultado de -2,10% da refeição fora e de -5,17% das frutas.

A seguir, tabela com os resultados por região pesquisada:

Fonte: IBGE

Fonte: IBGE

Alta da gasolina pressiona prévia da inflação em dezembro

O aumento de 2,75% no preço da gasolina em dezembro frente a novembro foi um dos fatores que mais contribuíram para a alta de 0,35% na prévia da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). O indicador, divulgado hoje pelo IBGE, acumulou 2,94% no ano, o menor resultado acumulado desde 1998, quando tinha sido registrado 1,66%. Em dezembro de 2016, o índice tinha ficado em 0,19%.

O grupo de Transportes teve o maior impacto no índice geral, contribuindo com 0,21 pontos percentuais na formação dos 0,35% registrados no mês. A gasolina (2,75%) liderou o ranking dos impactos individuais, com 0,11 p.p.

Vários fatores podem ter influenciado essa alta, desde o reajuste nas refinarias até os repasses feitos pelos postos de combustíveis à população. No mesmo grupo, outros aumentos foram das passagens aéreas (22,34%) e etanol (4,34%). Por outro lado, os ônibus urbanos tiveram impacto negativo (-0,03 p. p.) devido à redução da tarifa no Rio de Janeiro em 15 de novembro.

A energia elétrica, que tinha puxado a alta no índice de novembro apresentou desaceleração em dezembro, devido à vigência da bandeira tarifária vermelha patamar 1, com custo adicional de R$ 0,03 a cada quilowatt-hora consumido nas tarifas cobradas aos consumidores, em substituição à bandeira tarifária vermelha patamar 2, que implicava em um custo adicional de R$ 0,05. Já o grupo de Alimentação e Bebidas segue a tendência de variação negativa registrada desde junho, com -0,02%.

Fonte: IBGE

Fonte: IBGE

DESEMPREGO – O ano registrou índices de desemprego crescente desde o primeiro trimestre na comparação com o ano anterior. O país fechou o segundo semestre com um total de 26,3 milhões de trabalhadores desempregados ou subocupados, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) de 17 de agosto. A taxa de desemprego do primeiro trimestre havia sido de 13,6%, a maior para trimestres terminados em abril desde o início da série histórica, em 2012, o que representa 1,1 milhão de desempregados a mais em relação ao último trimestre de 2016. Se a comparação for com igual período, ou seja, com o primeiro trimestre de 2016, a diferença é de 2,6 milhões a mais de pessoas que foram excluídas do mercado de trabalho. Apesar de apresentar quedas mês a mês – o que é vem sendo destacado pelo noticiário e pelo governo como positivo –, o índice ainda é o maior da série história iniciada em 2012 para o período de agosto a outubro. A população desocupada somou 12,7 milhões de pessoas, recorde para o mês de outubro desde o ano de 2012. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, o aumento foi de 698 mil desempregados e mais do que o dobro de dezembro de 2013, quando o país vivia o pleno emprego e o menor desemprego da série – 6.052 desocupados.

 

Not available

Not available

SALÁRIO MÍNIMO – Com base na pesquisa da Cesta Básica de Alimentos, o Dieese projeta que o salário mínimo necessário para suprir as despesas de um trabalhador e de sua família no mês de novembro deveria ser de R$ 3.731,39, quase quatro vezes o salário mínimo nominal vigente, que é de R$ 937,00.

Comentários