MOVIMENTO

100 famílias da periferia ocupam prédio em Porto Alegre

300 pessoas do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) o0cuparam prédio público estadual de quatro andares na capital. É a primeira ocupação do movimento no estado
Valéria Ochôa e César Fraga / Publicado em 14 de novembro de 2015
MLB organizou por nove meses a ocupação do antigo prédio do Ministério Público Estadual

Foto: Igor Sperotto

MLB organizou por nove meses a ocupação do antigo prédio do Ministério Público Estadual

Foto: Igor Sperotto

Durante a madrugada de sábado, 14 de novembro, 100 famílias – cerca de 300 pessoas – do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocuparam um prédio público estadual de quatro andares na esquina das ruas General Câmara e Andrade Neves, no centro de Porto Alegre. O local era sede do Ministério Público do Estado. Por volta das 16h, a Brigada Militar chegou ao local e o movimento fechou a porta de entrada do prédio para impedir a entrada da polícia.

A jornalista Valéria Ochôa, que estava no interior do prédio, foi a única repórter a acompanhar os acontecimentos de dentro da ocupação. A situação inicialmente ficou tensa, as portas foram fechadas, mas aos poucos foi se acalmando. Daí em diante ninguém mais saiu ou entrou no prédio. Havia crianças, mulheres, adolescentes e idosos entre os ocupantes. São famílias provenientes do Morro da Cruz, Nova Chocolatão e Lomba do Pinheiro. Essa foi a primeira ocupação do MLB no estado. Criado em Pernambuco, o movimento existe há 16 anos e há um ano se organiza no Rio Grande do Sul, a partir de um mapeamento de prédios vazios e ociosos da capital.

Foto:Igor Sperotto

Foto: Igor Sperotto

Com a presença da BM as portas ficaram fechadas até a chegada de representantes do governo

Foto: Igor Sperotto

De acordo com Nana Sanches, da coordenação do MLB, os ocupantes “são trabalhadores em busca de alternativa de moradia e sem condições de pagar aluguel ou financiamentos”. Para ela, é importante chamar a atenção para a falta de oferta de bons serviços públicos e alternativas para essas pessoas nas áreas de periferia.

Renato Pereira da Silva, 28 anos, casado, pai de uma menina de 10 anos, integra a ocupação pra tentar fugir do aluguel. Oriundo da Lomba do Pinheiro, ele é servente de pedreiro e a esposa trabalha como faxineira. “Quando não vivemos de aluguel, moramos de favor. Queremos a nossa casa”, ressaltou.

Jussara Vaz dos Santos, 60 anos, acompanhava o marido, a filha e dois netos na ocupação. Ela relatou que mora de aluguel em uma casa pequena na Protásio Alves, com várias  famílias. O marido, eletricista, é aposentado por invalidez.. “Nao é fácil morar de aluguel e ainda pagar luz e água”, explicou.

Foto Valéria Ochôa

Foto: Valéria Ochôa

Com a chegada da polícia, ocupantes trancaram as portas do prédio

Foto: Valéria Ochôa

Batizada de Lanceiros Negros, a ocupação faz referência ao episódio do Massacre dos Porongos, ocorrido durante a Revolução Farroupilha, em que o esquadrão formado por 150 escravos negros foi dizimado por tropas imperiais. O massacre, perpetrado com a conivência de oficiais, ocorreu na mesma data, 14 de novembro, há 171 anos.

No interior no prédio ocupado ainda há velhas máquinas de escrever, computadores e muitos armários que o MP deixou para trás na mudança. Enquanto os adultos observavam apreensivos, das janelas, a movimentação de policiais do lado de fora do prédio, no seu interior as crianças brincavam animadas, explorando as repartições do prédio.

Foto: Igor Sperrotto

Foto: Igor Sperrotto

Famílias de trabalhadores vieram da periferia da capital em busca de moradia

Foto: Igor Sperrotto

 

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