EDUCAÇÃO

Agressividade e violência juvenis assustam

Dóris Fialcoff / Publicado em 29 de novembro de 1998

Muitos já se perguntaram sobre o que está acontecendo com as crianças e adolescentes. Como se não bastassem os exemplos corriqueiros de vandalismo — nas vizinhanças, em alguma escola e, às vezes, na própria família —, a imprensa constantemente choca a sociedade ao noticiar tragédias deflagradas por alguém de 11, 14 ou 17, 18 anos. Esses, claro, já são casos extremos, que ultrapassaram os limites da agressividade e atingiram o patamar da violência.

Agressividade e violência são termos que parecem sinônimos, mas o psicólogo Júlio Walz, de Porto Alegre, explica a existência de uma grande diferença: “quando nos referimos à agressividade, falamos de um nível de relação humana onde ainda é possível o diálogo. Na violência, ele não é mais possível, a situação já se encaminha para atitudes extremas”, conceitua.

Segundo o psiquiatra José Ottoni Outeiral, da capital gaúcha, estatísticas mostram que no Brasil existem 20 milhões de crianças e adolescentes desassistidos, cujas famílias ganham um salário mínimo ou menos. Para ele, esses números somados ao alto índice de desempregados ( em São Paulo são 1,8 milhões e no Rio Grande do Sul mais de 850 mil), à realidade dramática do mercado, e ainda à conseqüente dificuldade de manter uma estrutura básica para a família, resultam em poderoso gerador de angústias que, por sua vez, detonam a violência.

Dados também concretos, embora sob outro contexto, só vêm confirmar que agressividade e violência não são sintomas exclusivos da população de baixa renda. Na mesma escola é um território também se manifestam essas condutas, o que, por isso mesmo, reforça o seu papel “cuidador”, termo escolhido didaticamente por Júlio Walz.

Para o psicólogo, que presta assessoria à escolas, em todo encontro humano há tensão. Ou seja: os conflitos nessa área sempre existiram, porém, a experiência tem lhe mostrado que escolas e professores estão percebendo, já há algum tempo, estarem obtendo menos controle sobre a sala-de-aula. Além dos problemas mais graves de disciplina, do aumento na atitude de afronta por parte dos alunos, e da desmotivação para os estudos, tem aumentado muito o desentendimento entre os próprios estudantes. Walz diz não saber quais são os fatores causadores desse processo, mas constata na esfera escolar problemas de convívio e também de violência.

Ele confessa que isso lhe chama a atenção “porque a escola, como o hospital, o posto de saúde, seriam, teoricamente, locais de cuidado, onde as pessoas poderiam se sentir ajudadas, mas acabam até sendo alvo de depredações e assaltos”, intriga-se. “Além da sua tarefa, parece que os “cuidadores” ainda têm de ficar convencendo os “cuidados” de que isso é bom”.

Mas e o que fazer para modificar esse quadro? Como psicólogo, Walz avalia que a tendência de pais, professores ou orientadores, diante de uma situação agressiva é ficarem com a mente aprisionada, com a idéia fixa. “E assim, parece que se exaure a capacidade de interlocução ou de resolução do conflito; e aí começa a filosofia do olho por olho, dente por dente”, acredita. Para elucidar, ele cita um exemplo prático: em uma turma de 2º grau, uma professora ao entrar na sala e puxar sua cadeira encontrou sobre ela uma salsicha e molho de tomate. Ficou brava, xingou os alunos de forma descontrolada e saiu da classe escutando risos. Levou o ocorrido à reunião de professores para discuti-lo com os colegas. Na ocasião, outra professora disse ter experimentado a mesma provocação, em outra escola. Só que ela, diante do fato, apesar de ter ficado perturbada, resolveu aliviar e perguntar quem estava com o pão e a mostarda, pois daquele jeito não dava para fazer cachorro quente. Os alunos riram, mas também ficaram sem graça. Ela colocou aquela cadeira ao lado da sua mesa, deixando-a à mostra, pegou outra, e deu prosseguimento à aula.

Na avaliação de Júlio Walz, a primeira recebeu a realidade de forma bruta, intoxicou-se e ficou com a idéia aprisionada, cuja devolução para a turma foi a descarga irada e recíproca. A outra transformou aquilo em um jogo, no qual envolveu os alunos, de forma que o material agressivo e doente não adquirisse contornos de violência. Aqueles professores chegaram a conclusão de que é importante para quem é “cuidador”, professor ou pai, não retribuir o ato agressivo na mesma moeda, mas não deixar de marcá-lo.

A psicóloga Cristiane Monteiro Burin, também de Porto Alegre, revela que em conversas com alunos, depois do acontecimento, é comum percebê-los assustados, dizendo que não era àquela a intenção, que não era tanto. Alerta que a linguagem dos adolescentes é muito mais de ação, pois, “por terem um comportamento mais regressivo, dão mais vazão ao impulso”, argumenta. Sobre essa impulsividade, o psiquiatra paulista David Léo Levisky ensina que, nessa etapa do desenvolvimento, as pessoas buscam a satisfação imediata dos desejos, sem passar pelos critérios de avaliação, simbolização e linguagem. “Percebem, não raro, as conseqüência de seus atos afetivos após a ocorrência dos fatos”, informa.

Walz reconhece a forte exigência sobre a figura do “cuidador”, porque este precisa ter mais liberdade de pensar, para não se deixar aprisionar pelo grupo, que está regressivo. Brincando com as palavras, Cristiane diz que esse período de “anormalidade”, é normal e que é preciso passar por ele. Pais e professores também. A maior dificuldade é justamente administrar os conflitos, mas acredita que a solução pode ser descoberta a partir do encontro, por exemplo, pais e filhos.

CAÇULA – “Um diretor de escola comentou comigo que tem a impressão de que nos últimos dez ou quinze anos, os professores estão iniciando no magistério cada vez mais novos”, compartilha Júlio Walz. “Ou seja, muito identificados com os adolescentes, sem eles próprios estarem resolvidos na sua adolescência”. Para o psicólogo, estes jovens professores — de 20, 22 anos — são pessoas com muita potencialidade e criatividade, mas com algumas dificuldades em se mostrar como adulto para os adolescentes, que precisam de uma identificação.

Uma interrelação entre a escola e a família é imprescindível para a psicóloga, também de Porto Alegre, Simone Faoro Bertoni, “porém não para falar sobre o que fazer com as crianças, mas o que fazer conosco, adultos”, especifica, dando um exemplo: “como vamos lidar com a manifestação de sexualidade deles, se não sabemos falar da nossa”.

Júlio Walz também pensa assim. Vê como fundamental haver um momento em que a escola possa ser a “cuidadora” dos seus professores. Acha que assim estarão oportunizando-lhes um salutar afastamento da realidade para pensarem sobre si, e não simplesmente ficar agindo. “Eu pego muito o exemplo de casa, porque ser só pai e mãe é extremamente desgastante e acabamos ficando chatos com os filhos”, compara.

Cristiane não apenas concorda com a medida, como o coloca em prática. Mantém, em uma escola onde presta serviço, o projeto Professor conselheiro, no qual, através de reuniões semanais, o quadro docente discute sobre as dificuldades do dia-a-dia. Esse grupo já estudou sobre adolescência, sexualidade e também o tema Entrevistas com os pais, pois perceberam que alguns também estão desorientados, inseguros sobre como manejar as situações em casa. “As vezes até colocam a responsabilidade na escola ou no professor, o que pode acabar naquele ping-pong, um acusando o outro”, preocupa-se Cristiane, enfatizando a necessidade de certo distanciamento, para que o profissional possa “sair do papel de que ele tem de resolver, que é o culpado e precisa ficar se defendendo. Assim poderá ter uma atitude de compreensão, de entender que também aquele pai tem dificuldades, e tentar propor-lhe uma parceria na resolução, afinal não estão um contra o outro”. Propiciar esse espaço, acredita a psicóloga, é também uma função da escola.

Como um conselho para tentar resolver essa problemática, Walz ensina que em primeiro lugar é preciso respeitar o tempo e o espaço dos alunos, contudo não só tolerar, mas criar uma atitude de tentativa de encaminhamento para passar da agressividade para a criatividade.

Excursão ao Peru

Os professores de História Silvana Alcântara e Saul Silva Santos, da Escola Adventista de Porto Alegre, estão organizando uma excursão para o Macchu Picchu, Peru, no mês de janeiro. A viagem será em ônibus leito, com três aparelhos de TV, vídeo, frigobar e forno elétrico. A saída está marcada para o dia 16, às 22 horas e o retorno será no dia 30. Na programação, visitas ao Deserto de Atacama, Minas de Cobre e Ferro e Cidade Indígena, no Chile, Macchu Picchu, ruínas Incaicas, templos coloniais e o Mercado Inca, no Peru. Com nove pernoites em hotel com café da manhã, o custo da viagem pode ser parcelado em seis vezes de R$125,00. Outras informações podem ser obtidas com Silvana e Saul pelos telefones (051) 242-4627 ou 998-8822.

Kits pedagógicos

O núcleo de educação da 24ª Bienal de São Paulo lançou no dia 12 de novembro 15 mil kits pedagógicos para serem usados como material de apoio em escolas públicas brasileiras. Os kits trazem 20 pôsteres de trabalhos de técnicas e artistas participantes da mostra. Cada imagem acompanha sugestões para atividades pedagógicas. Outras informações pelo telefone 0800-11-1951.

Comentários