EDUCAÇÃO

Escolas buscarão pós-graduados

Márcia Camarano / Publicado em 8 de setembro de 1997

Qualificação docente. O Sinpro/RS está muito interessado em meter sua colher nesse assunto e, para tanto, realizou o Colóquio Estadual de Qualificação Docente, dias 12 e 13 de setembro, na PUC. A razão do evento está no número cada vez maior de pessoas com a expectativa de qualificar seu trabalho, procurando cursos de especialização, mestrado ou doutorado. Marcos Fuhr, dirigente do Sinpro/RS assevera que não dá apenas para assistir o que as instituições estão fazendo: “o sindicato deve ter uma política específica para a questão”.

Por isso, professores, representantes da Unisinos, PUC, Capes e Fapergs debateram alternativas e expuseram o que está sendo feito para qualificar o corpo docente. No final do Colóquio, a constatação de que as bolsas para mestrado e doutorado, bem como recursos para isso, continuam limitados. E a preocupação é de que as instituições particulares invistam na formação de mestres e doutores somente até alcançar os 33% do corpo docente, como define a nova LDB.

O professor Darci Dilemburg, do Instituto de Física da UFRGS e representante da Capes, apresentou um levantamento feito pela entidade em 1996, apontando que, até março de 94, havia concedido nove mil bolsas. Também havia quatro mil mestres com bolsas. Até o fim de 96, tinham se doutorado mais de quatro mil bolsistas. Conforme ele, no Rio Grande do Sul, quem mais utilizou o programa foram as universidades públicas: UFRGS, Santa Maria, Pelotas, FURG e, depois, as particulares.

Quanto à titulação dos docentes em ensino superior em 1994, constatou que, de um total de 43.566 professores, 21% das federais têm doutorado, índice que sobe para 29,5% nas estaduais, despenca para 4,2% nas municipais e 6,8% nas particulares. Dilemburg reconhece que o resultado em 20 anos de Capes e CNPq é bastante aquém do necessário.

Da plenária, um professor questionou o fato das bolsas irem especialmente para professores da área pública, preterindo quem está na universidade particular. Para Dilemburg, não há política de privilégios. Para ele, o que acontece é que, nas particulares, os professores têm mais dificuldades em buscar essas bolsas. Carlos Daudt, diretor científico da Fapergs, argumentou que, às vezes, as pessoas não se informam bem e o jogo tem regras. “Mas esse é um sistema sério que precisa ser preservado”.

Daudt, que também é professor da UFSM há 31 anos, lembra que a Fapergs não é uma agência de bolsas, ao contrário da Capes. Ela surgiu para fomentar pesquisa. E está com sérios problemas de recursos. Segundo ele, tudo estaria bem se fosse repassado 1,5% dos recursos líquidos do Estado, como está previsto na Constituição. Mas isto não acontece e a conseqüência é que a Fundação tem de se contentar com as migalhas liberadas.

“Buscamos dinheiro com a Finepe e outras instituições no Brasil: 5% dos recursos são gastos com a participação e organização de eventos; 45% são dedicados a editais em várias áreas do conhecimento; 25% são aplicados em transferência de tecnologia e os outros 25% na formação de recursos humanos”. A Fapergs tem hoje aproximadamente 1.500 bolsistas e dois mil pesquisadores.

Participando do Colóquio, o professor Francisco Jardim, presidente do Sinepe, foi polêmico em dois pontos: disse que nunca foi favorável a inserir o plano de carreira (que envolve qualificação) dentro do dissídio, “porque é um processo individualizado”. O outro ponto é que “o fato do professor ter mestrado ou doutorado não é suficiente para ser considerado o melhor”. Conforme ele, tem de haver um planejamento, porque o investimento é grande. “Na PUC, por exemplo, têm professores que não são doutores ou mestres e que, no processo de avaliação, são excelentes”, citou.

Wilson da Cruz, representante das Instituições de Ensino Superior Comunitárias (Coming) e reitor na Unisc, alertou que daqui a quatro anos haverá uma caçada a mestres e doutores, a fim de que as escolas de ensino superior cumpram a exigência mínima da LDB. “Portanto, quem puder, estude”.

A assessora para Pesquisa e da PUC, Délcia Enricone não gostou de ver publicada a informação de que as escolas particulares estavam importando mestres e doutores aposentados das públicas. Ela garante que sua universidade está investindo firme nos seus próprios professo-res. Possui 16 mestrados e oito doutorados e, esse ano, 457 professores estão realizando cursos. “É um trabalho grande para uma universidade particular que ainda mantém convênios com outras instituições”, argumenta.

Mariazinha Beck, da pró-reitoria de Ensino e Pesquisa da Unisinos, foi bem explícita nos planos da universidade. A estratégia foi aprovada em 93 e a meta deverá ser atingida em 10 anos: 30% de doutores, 50% de mestres e 20% de especialistas. “Para atingir isso, bolsas de estudos tiveram de ser deslocadas, bolsas de 40 horas no exterior não serão concedidas. Serão para doutores. E o tempo de duração também está sendo reduzido”.

Após conhecerem as posições das instituições que participaram do painel, os professores acharam interessante começar a traçar sua própria política de qualificação profissional. Várias propostas surgiram. A mais contundente é a criação de um Fundo Rotativo de Apoio à Qualificação Docente. A idéia é que o Sindicato tenha uma política permanente para a questão. Trata-se apenas de um esboço do que deva ser. O principal é que seja planejado de tal forma que não se traduza em frustração pelo fato de poucos conseguirem uma bolsa e muitos ficarem na lista de espera. A conversa está apenas no início, concluíram os professores.

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