OPINIÃO

O exterminador do futuro

Elvino Bohn Gass / Publicado em 6 de março de 1998

O filme O exterminador do futuro, dirigido pelo americano James Cameron, conta a história de um ciborg do futuro que vem à Terra matar uma mulher grávida de uma criança que iria mudar a História. A criança simboliza o futuro e a possibilidade de redenção de uma humanidade sem horizontes, vazia de valores, consumida por uma guerra fraticida e à mercê de interesses dos poderosos. O ciborg personifica uma imagem funesta do homem do terceiro milênio: metade homem/metade máquina, frio, obcecado e despido de qualquer barreira moral que o impeça de atingir o seu objetivo cruento.

O governador Antônio Britto, que se apresenta como um homem do futuro, moderno e comprometido com grandes transformações, tem se comportado como um verdadeiro “exterminador do futuro”. Os projetos de lei 313 e 314, de sua autoria, aniquilam, sem dó nem piedade, com a educação pública no Rio Grande do Sul e transformam o magistério em um ofício em extinção. Aliás, não é a primeira vez que Britto investe contra áreas públicas. Quando foi ministro da Previdência Social, ele deixou de repassar três bilhões de dólares para a saúde. Um golpe, cujas conseqüências até hoje são sentidas pela rede pública de saúde do Brasil.

Ao contrário do homem-máquina do futuro, Britto não se utiliza de arsenal bélico para alcançar seu intento. Suas armas são mais sutis. Ele age encoberto pelo manto da institucionalidade, utilizando uma maioria subserviente no Legislativo como principal instrumento de ação. Seus atos mais nefastos ocorrem em sessões extraordinárias, através de votações relâmpagos. Verdadeiros ritos sumários, dos quais a sociedade é estrategicamente afastada. Assim foi realizada a votação do projeto que altera o plano de carreira do magistério. Sem debate nas comissões da Assembléia e muito menos com o conjunto da categoria.

Sob falsos argumentos, como o que responsabiliza a LDB pelas alterações promovidas por Britto, a base governista passou o rolo compressor, desta vez, não sobre a oposição, mas sobre os direitos dos professores gaúchos. Conquistas históricas, como o adicional de difícil acesso, adicional para educação especial, foram reduzidas a quase nada em uma única tarde. Além disso, a base governista aprovou o mais ousado projeto de achatamento salarial de uma categoria, cujos vencimentos já se constituíam em uma vergonha para o Rio Grande do Sul.

Com isso, não só os professores perderam, mas toda a comunidade gaúcha. Milhões de gaúchos sentirão imediatamente as conseqüências desse plano mirabolante, que aponta para o completo desmonte do ensino público em nosso estado.

Depois de arrasar com os direitos do magistério, o governo deu o golpe final na rede pública estadual, ao transferir grande parte da responsabilidade para os municípios. Com as finanças publicas combalidas pela renúncia fiscal promovida por Britto e FHC, as prefeituras mal conseguem honrar seus compromissos mais corriqueiros. Muitas delas, nem isso. Neste quadro, alguma prefeitura terá condições de assumir mais encargos? É claro que não e, assim, estará aberta a temporada de privatização da escola pública.

A educação como um direito constitucional está deixando de existir no Rio Grande do Sul. O que se anuncia para um futuro muito próximo é a educação-mercadoria. Como em uma prateleira de supermercado, o cidadão-consumidor terá o direito de escolher – desde que seu dinheiro possa pagar – entre uma educação de primeira (para a elite) e outra de segunda para os menos afortunados.

Assim como na tela do cinema, o futuro de nosso estado está comprometido por um processo irresponsável e criminoso, promovido por aqueles que travam uma verdadeira cruzada de extermínio dos direitos dos trabalhadores em todos os níveis.

* Elvino Bohn Gass é deputado estadual do PT.

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