GERAL

O mestre-inventor

Renato Hoffman / Publicado em 6 de abril de 1998

Um homem está trancado no laboratório quando, de repente, “heureca!” Até hoje esta imagem está associada aos inventores. O exemplo mais óbvio disso é o personagem do professor Pardal das histórias em quadrinhos de Walt Disney. O simpático cientista vive cercado de engenhocas e seus achados são anunciados pela lâmpada acesa sobre a cabeça – uma das mais de mil invenções de Thomas Edison. Para a maioria dos inventores, a realidade é muito diferente. Em geral, eles não vivem profissionalmente das suas criações. E os poucos que conseguem isto, nem sempre negociam bem seus direitos autorais.

O professor e sociólogo Alcir Brito, da Urcamp de Bagé, dedica-se à inventiva há mais de 30 anos e acredita que está na hora de começar o que ele chama de “despardalização”, ou seja, mudar a imagem do inventor alienado, que não se importa com o mercado consumidor. Filho e neto de inventores, Brito aprendeu ainda criança um dos segredos da atividade: “não ter medo de criar coisas simples”. Na carpintaria do pai, usava a criatividade para produzir peças cada vez mais práticas e baratas. Não é por acaso que esta é a primeira das 12 dicas que ele selecionou para incentivar jovens inventores.

“Inventar, às vezes, é uma questão de seguir a intuição”, ensina este geminiano nascido em Tapes, há 55 anos. Outra regra básica para o criador, diz, “é ver as coisas com um olhar crítico e questionar sempre.” Para isto, o professor recomenda aos jovens que não tenham receio de “meter o nariz” em áreas dos outros. “Os grandes avanços do setor ferroviário foram obtidos por pessoas que não eram do ramo”, exemplifica.

Em suas aulas, Brito costuma distribuir aos alunos as folhas amarelas das listas telefônicas e propor um desafio. “Digo a eles que inventem qualquer coisa nova e o resultado é que sempre aparece alguma idéia criativa”, conta. “Em pesquisa, o verbo mais importante é centuplicar”, adverte. “O investimento em pesquisa no Brasil é 250 vezes menor que nos Estados Unidos”, compara. “Nossas indústrias e universidades estão pedindo socorro.”

Formado em Ciências Sociais e mestrando em Sociologia (UFRGS), Brito leciona Geografia numa escola estadual e Sociologia na Urcamp. Para ele, a sala de aula é uma fonte permanente de inspiração. Algumas de suas criações mais conhecidas surgiram da observação atenta dos problemas comuns do cotidiano escolar. O marcador alfanumérico, por exemplo, é um sistema de codificação que combina letras e algarismos e agiliza as consultas aos livros. É de Brito também a idéia de usar um lápis bicolor, azul e vermelho, para destacar as perguntas e as respostas contidas num texto. Preocupado com a durabilidade dos materiais didáticos, o professor-inventor desenvolveu um livro com páginas de plástico que, riscadas com canetas especiais, podem ser apagadas e reutilizadas.

Para ele, a melhor opção dos inventores é comercializar seus inventos, mantendo os direitos aos royalties. Aconselha aos estreantes procurarem a assessoria de administradores, arquitetos e engenheiros. “Eles são importantes na hora de resolver questões técnicas”, explica. Também não dispensa a ajuda dos advogados, especialmente para o licenciamento dos produtos patenteados. “Nosso currículo suscita mais respeitabilidade pelo número de inventivas comercializadas do que inventadas”, reconhece.

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