OPINIÃO

Estão falando de nós!

Veríssimo / Publicado em 29 de outubro de 1998

A grande queixa de brasileiros que chegavam do exterior era: não falam de nós. Se não fosse pelo futebol, a música ou a eventual chacina, o nome do Brasil jamais apareceria na imprensa mundial. Pois, Gustavo Franco seja louvado, estão falando de nós todos os dias. No noticiário econômico, então, só dá Brasil. A nossa situação terrível, as nossas perspectivas sombrias e suas possíveis conseqüências catastróficas… Chega a dar um calor bom na barriga. Finalmente, estão nos levando a sério.

Eu confesso que, em Paris, cheguei a pensar em aproveitar meu novo status para subjugar os nativos. Garçons prepotentes seriam avisados de que mais uma cara feia e eu desestabilizaria os mercados financeiros internacionais para sempre. Turistas americanos atravancando meu caminho ouviriam a ameaça: sou brasileiro, saiam da minha frente ou eu quebro todos os seus fundos, um a um e ainda danço em cima. Pensando o quê?

Os chilenos na Europa também tinham razão para se orgulhar, se desprezassem alguns detalhes. Nunca se falou tanto no Chile como agora, com a detenção do Pinochet na Inglaterra, onde a maioria da população antes nem sabia pronunciar seu nome. Os horrores da sua ditadura estão sendo lembrados diariamente, há debates e documentários a respeito – enfim, o Chile, como o Brasil, é um dos sucessos do outono europeu!

Mas esta nova notoriedade sul-americana tem seus riscos. Quando fiquei sabendo dos cortes na verba para a saúde pública – inclusive com a denúncia do Serra do desvio do dinheiro da CPMF, na primeira confissão pública de um crime da União feita por um ministério de que se tem notícia – torci para que entre os mortos certos com o encurtamento do dinheiro para a Saúde do Brasil não haja nenhum cidadão espanhol. Senão na sua próxima visita à Europa, prendem o Éfe Agá por genocídio e lá se vai o nosso orgulho.

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