MOVIMENTO

Posse com festa popular

Festa para comemorar posse de Olívio Dutra ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul reunirá milhares de pessoas na virada do ano em Porto Alegre
Por Marcia Camarano / Publicado em 29 de dezembro de 1998


Reveillón de 1988. Porto Alegre é surpreendida por uma festa inusitada no Gigantinho, com milhares de pessoas comemorando a entrada no novo ano e a posse de Olívio Dutra prefeito no dia seguinte, o primeiro representante das forças de esquerda e populares a assumir a Prefeitura. Exatamente dez anos depois, outra festa para comemorar uma posse de Olívio Dutra, desta vez para o Governo do Estado.

Mas até a festividade terá um caráter diferente. Será uma festa popular, em Frente ao Palácio Piratini, que acontecerá, faça chuva ou faça sol, a partir das 17 horas do dia 1º de janeiro, tão logo se encerrem as solenidades – 15 horas na Assembleia Legislativa e 16 horas, transmissão de cargos no Palácio Piratini.

A Rua Duque de Caxias será fechada para abrigar as mais de 20 mil pessoas esperadas e um palco por onde passarão músicos e políticos de todo o Brasil e estrangeiros.

“Cerca de 60 artistas foram contatados ou nos contataram, querendo participar de forma gratuita”, revela Jairo Carneiro, da executiva regional do PT que, junto com o secretário de Comunicação do Governo Olívio Dutra, Guaracy Cunha, e quatro relações públicas, finaliza os preparativos para a posse do novo governador.

Até o momento, não está definido se Antônio Britto passará o cargo para Olívio Dutra. “Eles mudaram o centro das tensões da transição para a transmissão”, denuncia Guaracy Cunha. Segundo ele, os representantes do governo que sai alegam que não vão expor Britto numa festa dos adversários em frente ao Palácio.

Transmissão do cargo a Olívio

Alegando constrangimento, Antônio Britto decidiu romper com a tradição e se recusa a comparecer à cerimônia oficial de transmissão de cargo para Olívio Dutra.

“Eles querem fazer uma festa no mesmo lugar para despedida do Britto. Então, ficou acordado entre os comandantes da Brigada Militar dos dois governos que fiscalizem as duas torcidas porque, se eles querem uma festa, que façam”, observa Guaracy.

Ele acredita que a estratégia do grupo que sai é levar a dúvida sobre a participação de Britto até o último momento, que é a posse no dia 1º de janeiro.

Outra má notícia é que, ao contrário do esperado, Chico Buarque não comparecerá, devido a compromissos previamente assumidos. Mas a equipe está em tratativas com Paulinho da Viola e Martinho da Vila.

E, já que um galo missioneiro assumirá o governo, nada mais natural que a parte artística dedique um bloco inteiro para músicas nativistas, onde se apresentarão Leonardo, Pedro Ortaça, entre outros.

Quem gosta de música clássica terá sua vez com a participação da Orquestra e Coral Amigos do Olívio, que já deu uma canja no último comício do então candidato ao governo. Rubens Santos não sente o peso de seus 89 anos recém completados e faz questão de se apresentar na festa, ao lado de Lourdes Rodrigues, outro grande nome da música gaúcha.

Luís Inácio Lula da Silva

“Será uma grande confraternização e quem vier participará de uma posse realmente popular”, diz Carneiro.

Junto às apresentações artísticas, as pessoas vão acompanhar as manifestações dos líderes nacionais do PT, Luís Inácio Lula da Silva, e do PDT, Leonel Brizola. Pela manhã, Lula e Brizola participarão da transmissão de cargo no Rio de Janeiro, onde Anthony Garotinho (PDT) tomará posse, juntamente com sua vice, Benedita da Silva (PT).

Entre as representações estrangeiras, estarão a Frente Ampla, do Uruguai, além de deputados daquele país e da Argentina; o prefeito de Montevidéu, Mariano Arana, e o intendente da Cidade do México, Guauthémoc Cárdenas.

Também virão integrantes do grupo Mães da Praça de Mayo.

Pilcha

Outra atração será a participação de 150 gaúchos pilchados que deixarão o Parque da Harmonia a cavalo e chegarão ao Palácio Piratini para entregar uma bandeira do Rio Grande do Sul para o governador empossado.

Enquanto acontece a festa, todos os secretários tomarão posse às 20h30min, numa única solenidade, no Centro Administrativo, ato decidido há bem pouco tempo com os representantes do governo que sai.

“Está muito difícil trabalhar as solenidades de posse com os atuais inquilinos do Piratini. Por exemplo, os convites estão prontos há vários dias e, até hoje não nos passaram, só vão nos enviar na semana das atividades”, reclama Carneiro.

Guaracy Cunha informa que sua equipe confeccionou, por conta própria, 450 convites. Isso quer dizer que, se a equipe de Britto não fornecer os convites em tempo hábil, os relações públicas de Olívio enviarão os seus próprios.

O grupo do novo governador só conseguiu se reunir com a equipe de Antônio Britto para discutir os detalhes da transmissão de cargos no dia 18 de dezembro, quando houve a primeira reunião conjunta.

“Nós tivemos que pressionar bastante para que houvesse uma reunião a fim de acertarmos os detalhes”, conta.

Porém, no final das contas, o dirigente petista promete uma festa inovadora, significativa não só em termos do número de participantes, mas quanto ao caráter popular que será dado a uma posse para governador.

“Semelhante a isso, que eu me lembre, só quando Alceu Collares assumiu, em 1990, quando estiveram presentes cerca de mil pessoas, mas nada parecido com as cerca de 20 mil pessoas que estamos esperando”.

O caráter popular, garante Carneiro, não será dado somente pelas pessoas que espontaneamente, participarão da festa. Mas pelas entidades organizadas – sindicatos, movimentos populares – que os organizadores pretendem que dêem a posse informal a Olívio Dutra.

No fechamento desta edição o impasse ainda continuava e os assessores de Britto mandaram imprimir outro convite, com um texto genérico, sem explicitar se o atual governador transmitirá pessoalmente ou não o cargo a Olívio Dutra.

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