CULTURA

Cinema sim, extravagâncias não

César Fraga / Publicado em 25 de junho de 1999

Com apenas três produções brasileiras e seis estrangeiras , o mais glamuroso evento cinematográfico do país resiste à falta de dinheiro. O último Festival de Cinema de Gramado do século, por isso mesmo, está mais sóbri e enxuto

Com pouco dinheiro e ênfase nas produções latinas, o 27? Festival de Gramado – Cinema Latino e Brasileiro, sobrevive à virada do século apresentando a partir de 9 de agosto seis longas estrangeiros e três películas brasileiras. A fórmula é a mesma dos últimos três anos. “Estamos formatando o Festival de acordo com a situação econômica que o país está vivendo, sempre priorizando a qualidade e não a quantidade. Sabemos que algumas pessoas preferem um festival mais no ‘oba-oba’, mas a nossa proposta é outra”, diz o coordenador geral do evento, Esdras Cardoso Rubim. Segundo ele, o Festival, além de uma festa para o público, será uma oportunidade para que produtores, cineastas e exibidores possam aprofundar discussões para a viabilização do cinema nacional e latino em um mercado competitivo.

Entre as produções em 35mm de língua espanhola já confirmadas estão Diário para um cuento (Argentina), El dia que murió el Silêncio (Bolívia), La vida es silbar (Cuba), La primera noche (México) e Amanecio de golpe (Venezuela). Portugal estará representado pelo filme À sombra dos abutres e a Espanha também deve participar, com uma obra ainda a ser definida.

“Embora países como Itália e França também sejam latinos, não há filmes desse países porque eles já possuem festivais de cinema fortes”, explica o coordenador. Os filmes brasileiros de longa metragem que farão parte da competição só serão definidos no final de junho. Por enquanto, o que se sabe é que são dez os inscritos.

Já estão confirmadas pelo menos três premiéres nacionais durante o Festival: o filme argentino La Nube, do diretor Fernando Solanas; o francês A vida sonhada dos anjos, de Erick Zonca (Cesar de Melhor Filme de 1999) e o britânico The Hi Lo Country, de Stephen Frears. Para a sessão de encerramento do Festival, no dia 14 de agosto, haverá a estréia mundial do mais novo produto do clã dos Barreto, Miss Simpson/Bossa Nova, de Bruno Barreto. Também é forte a possibilidade de exibição do último filme de Stanley Kubrick, De olhos bem fechados. Kubrick, autor de clássicos do cinema mundial como Glória feita de sangue e 2001, morreu em março deste ano.

A programação paralela do Festival também conta com as Oficinas de Cinema coordenadas por Flávia Seligman, da Coordenadoria de Cinema da PUC (Pontifícia Universidade Católica) e com o lançamento de livros numa mini feira de publicações sobre cinema, além do projeto Cinema nos Bairros, promoção que faz parte do sistema de descentralização do evento.

A competição de curtas e médias metragens contará com 14 filmes em 35mm e outros 14 em 16mm, além de quatro médias em 16 mm. Os filmes em 16mm serão exibidos no Centro de Convenções do Hotel Serrano. Os curtas em 35mm, no Palácio dos Festivais. Os filmes gaúchos inscritos, que concorrem ainda ao Prêmio Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, serão exibidos no dia 14, às 14h, no Centro de convenções do Hotel Serrano.

Para a composição do júri de longas já estão confirmadas as presenças do cineasta argentino Manuel Antin, que também é reitor e diretor da Universidade de Cinema de Buenos Aires; do cineasta brasileiro Helvécio Ratton; do escritor e jornalista gaúcho Eduardo “Peninha” Bueno; e do diretor do Festival de Huelva/Espanha, Francisco Paco.

Super 8, Oscarito e Homenagens

A mostra competitiva da bitola Super 8 ocorrerá nos dias 10 e 11 de agosto no Salão de Convenções do Hotel Serrano. O evento, o único da categoria em um grande festival no Brasil, continua voltado para a produção do sul do país, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, incluindo pelo menos uma dezena de produções.

Este ano, o troféu Oscarito, em sua 10º edição, irá homenagear os produtores Lucy e Luiz Carlos Barreto, pelo trabalho e contribuição para o desenvolvimento do cinema nacional. O prêmio já foi concedido anteriormente para Grande Otelo, Walter Hugo Khouri, Anselmo Duarte, Alberto Rushel, Carlos Manga, José Lewgoy, Nelson Pereira dos Santos, à Cinemateca do MAM/Rio de Janeiro e Cinédia.

A homenagem especial deste ano será para o realizador argentino Fernando Solanas, além de lembrar figuras importantes da história cinematográfica gaúcha como Mílton Barragan (diretor dos filmes de Teixeirinha) e Denoy de Oliveira. Também serão destacados por suas contribuições ao cinema os 50 anos da Cinedistri, o dramaturgo Dias Gomes (morto no final de maio) e Alfred Hitchcock, que completaria 100 anos no próximo dia 13 de agosto.

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