CULTURA

A TV, quem diria, faz 50 anos

Isabela Junqueira / Publicado em 22 de abril de 2000

Digna representante do jeitinho brasileiro, televisão se transforma no meio de comunicação mais influente da cultura nacional

A comemoração dos 50 anos da televisão no Brasil é marcada por histórias que confirmam a autenticidade do jeitinho brasileiro. Para viabilizar a primeira transmissão da TV Tupi de São Paulo, em 18 de setembro de 1950, o empresário Assis Chateaubriand mandou trazer 200 aparelhos – contrabandeados -para o país. Metade deles foi distribuída em vitrinas de lojas. O restante foi dado de presente a personalidades e empresários que financiaram a implantação da televisão. Um dos presenteados, o jornalista Roberto Marinho, hoje é o diretor-presidente das Organizações Globo, a maior rede de televisão do Brasil. A situação mudou drasticamente desde aquele ano: o número de aparelhos de TV saltou dos 200 primeiros para os 30 milhões atuais.

Chateaubriand – ou simplesmente Chatô, como ficou mais conhecido – comprou cerca de 30 toneladas da aparelhagem necessária para montar sua emissora da norte-americana RCA Victor. No dia da transmissão, uma das três câmeras queimou e, como todas estavam conectadas entre si, seria preciso uma nova ligação para fazer funcionar as outras duas. Tudo estava preparado para ser transmitido com três câmeras, mas o ensaio teve que ser esquecido por ordem de Cassiano Gabus Mendes. Ele comandou com sucesso a transmissão no improviso.

A improvisação foi umas principais características dos primeiros anos da televisão brasileira, pois grande parte dos profissionais vinha do rádio. Nem todos conseguiram manter o sucesso. O gaúcho Ary Rego era um dos mais famosos galãs de radionovela na Farroupilha, mas não gostou de seu desempenho nas produções da TV. “Cismei com minha imagem”, revela. O teleteatro ocupava a programação com atrações tipo o “TV de Vanguarda”, que levou ao ar peças teatrais e adaptações como Macbeth e Hamlet, de Shakespeare. O “Grande Teatro Tupi”, por sua vez, congregava os melhores artistas teatrais, entre eles Procópio Ferreira e Cacilda Becker.

Os programas infantis começaram a ganhar espaço em 1952, com a adaptação das histórias do “Sítio do Pica-pau Amarelo” de Monteiro Lobato. O público era restrito aos que tinham dinheiro para comprar um receptor. Esse período ficou conhecido como “televizinho”, porque era comum a vizinhança acomodar cadeiras para assistir da janela à televisão do mais abonado da rua. O número de aparelhos produzidos na indústria nacional cresceu para acompanhar o aumento nas vendas, chegando a 85 mil televisores comercializados em 1955. Nesse período, as emissoras expandiram a transmissão para outras cidades.

A equipe gaúcha da TV Piratini passou seis meses no Rio de Janeiro em 1959 tendo um curso de televisão. “Tivemos essas aulas para conhecer a linguagem do veículo”, afirma ênio Rockenbach, vice-presidente da Associação Rio-grandense de Imprensa e um dos participantes da expedição. No final daquele ano, quando o grupo voltou a Porto Alegre, foi inaugurada a TV Piratini. A produção local perdeu fôlego com o advento do videoteipe, que representou não só um avanço tecnológico, mas também a redução dos custos para retransmissão de programas do Rio de Janeiro e São Paulo nos outros estados.

Para o jornalista Sérgio Reis, que também foi um dos pioneiros na TV Piratini, a grande virada não foi com o video-tape porque o processo de edição era muito trabalhoso. Ele acredita que a criação da Embratel unificou o país com o sistema de microondas. A estatal foi criada na década de 70, dentro do processo de expansão e modernização do sistema produtivo do Brasil, quando foi instalado um gigantesco sistema nacional de comunicações, composto por uma avançada infra-estrutura de serviços de telecomunicações e por dezenas de emissoras de televisão.

O aumento do público telespectador obrigou a televisão a popularizar sua programação. Nessa época, surgiram ídolos como Chacrinha, Silvio Santos, Hebe Camargo, Flávio Cavalcanti… Os festivais de música promovidos pelas redes televisivas levaram para o vídeo estrelas da música brasileira. Entre 1964 e 1975, a televisão tornou- se um veículo profissional e implantou um esquema empresarial estruturado. A TV Gaúcha, embrião da RBS TV, começou a operar em 1962. A Rede Globo, fundada em 1965 com o apoio financeiro do grupo americano Time/Life, terminou a década detendo grande audiência. No dia 1¼ de março de 1969, a emissora colocou no ar a primeira edição do Jornal Nacional. Nessa fase, a telenovela estava consolidada na programação das grandes redes e a produção era centralizada. A novela “Selva de Pedra” (1968) chegou a ter 100% de audiência com a trama protagonizada por Francisco Cuoco e Regina Duarte.

O avanço tecnológico na televisão brasileira proporcionou a primeira transmissão em cores, no dia 31 de março de 1972, durante a Festa da Uva, em Caxias do Sul, pela TV Difusora. Coincidência ou não, a televisão brasileira expandiu bruscamente durante a ditadura militar. Junto com os avanços tecnológicos proporcionados pelo regime, a TV sofria com a censura. O presidente Médici chegou a declarar, em março de 1973: “Sinto-me feliz, todas as noites, quando ligo a televisão para assistir ao jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. é como se tomasse um tranqüilizante após um dia de trabalho”.

Na década de 80, a abertura política iniciada pelo presidente Figueiredo termina com a censura oficial ao telejornalismo. No mesmo ano, sai do ar a TV Tupi, primeira a ser inaugurada no país. Nesse período da televisão, a Constituição de 1988 regulamentou a concessão de canais de televisão. Nos anos 90, o grande agente das mudanças na TV brasileira é a sociedade civil, através dos movimentos pela democratização da programação.

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