EDUCAÇÃO

O que há entre o aceitar e o receitar?

Simone Ourique de Avila / Publicado em 8 de dezembro de 2000

Nos espaços escolares, falas inúmeras demonstram a preocupação dos educadores sobre o que fazer quando as coisas não estão correndo como o esperado. Esta criança não aprende pois … Ou, esta criança aprende mas … é agitada, apática, agressiva, distraída, desinteressada, imatura … Seria por um problema seu? Da família? Do professor? Ao procurar respostas, os professores podem cair numa armadilha muito atrativa e muito perversa: fórmulas e receitas que apresentam uma solução rápida e longe de sua influência e que, facilmente, possam desconsiderar a importância de sua intervenção no processo educativo.

Muitas situações pedem investigações específicas e devem ser realizadas por profissionais especializados. Esta é uma realidade que deve ser reconhecida e devidamente considerada. Mas mesmo que alunos sejam encaminhados para uma avaliação diagnóstica, este possível encaminhamento não deve implicar num desestímulo no investimento do professor em seu próprio potencial como educador, nem em buscar através dele a confirmação de um prévio diagnóstico baseado em pré-conceitos. Seu papel continua sendo fundamental.

Então, o que é possível ser feito a respeito disso ainda dentro do espaço escolar?

Os professores podem investir no espaço-tempo que lhes pertence, utilizando-se das ferramentas que possuem, conquistadas através de sua formação específica, apostando na relação aluno-professor e nas possibilidades de ensinar-aprender fruto desta relação. Colocado assim, a complexidade que envolve o tema nem sempre é percebida pois está imersa num contexto político-social que tenta culpabilizar o professor pelos graves e sérios problemas do sistema educacional brasileiro. Numa auto-defesa do seu trabalho, o professor pode ser levado a uma explicação acusatória do outro. Ao tentar escapar deste emaranhado que o enreda, atrapalhando-o principalmente dentro de sua função específica, ele pode deixar de investir no âmbito que lhe compete.

Se não partirmos de imediato patologizando a complexa problemática do mundo escolar e não buscarmos apressadamente tratar ou medicalizar, o que pode ser feito pelo processo ensino-aprendizagem? Que tipo de ação os professores ainda usariam como recurso? Que questionamentos, críticas e transformações proporiam às instituições em que trabalham? Em quais ações coletivas se engajariam para questionar o atual sistema de ensino?

O desafio está em poder autorizar-se a pensar, questionar, sensibilizar-se e criar sem cair nas malhas fáceis e atrativas da “solução está lá fora” e, também, poder buscar auxílio em outros profissionais sempre que for necessário sem que isto possa significar aceitar ser desvalorizado e descaracterizado em seu papel de ensinante.

*Socióloga, especialista em educação e psicopedagoga institucional.

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