OPINIÃO

Imagine 2

Publicado em 20 de novembro de 2001

O atentado acertou em cheio o quesito modernidade do inimigo, num estilo artesanal. Vamos admitir, é muito moderno e sofisticado fazer gasolina virar bomba e velocidade de avião virar míssil.

Reflito, às vezes dói tanto meu peito que quero beijar essa nação que não é querida por proezas metafísicas nem admirada por sua humanidade. Ao contrário, é uma sociedade repelida e antipatizada pelo seu sentido egóico, que literalmente caga para o bem-estar de outros povos. E aí, meu sentimento solidário mundial fica dividido no fundo de cada “que pena”, de cada “I´m sorry”. No fundo ouve-se dentro de mim: “bem-feito, fuck you, fuck you”. Aí, acordo e me arrependo: Não ! Vou mandar uma mensagem de conforto para esse povo. São mães e pais perdendo filhos. Alguém cochilou no Pentágono e são amigos perdendo seus irmãos, amores perdendo seus portadores, gente linda que sonhava com um mundo melhor, morreu no ar no meio da tripulação, no chão indo às compras, fazendo ginástica em algum lugar do WTC, um militar que era liberal, que sonhava imprimir uma democracia dentro do Pentágono, um outro de direita, mas que era um excelente avô para o seu neto. Não, essa gente morreu porque um louco sem antídoto, que saiu de casa vestido para morrer, reuniu seus amigos, Kamikazes de doer, e foram brincar do irreversível, numa operação onde seus autores nem ficam para aplaudir os resultados. Soldado de guerra santa!? E onde já se viu um adjetivo tão antônimo? Não, isso não vai ficar assim, vou mandar um telegrama para eles: “Meus amigos americanos, apesar das tragédias, fiquem tranqüilos, Deus os ama Bin Laden”

Juro que no começo era sincero, mas não resisti. Perco o inimigo, mas não perco a piada.

De qualquer modo, a dor da humanidade diante da guerra é real. A guerra, seja em qualquer assunto, conjugal, amigável, profissional, nacional, familiar ou internacional, não tem escrúpulos e sua lógica oscila entre o pequeno e o grande tabuleiro, de princípios e diferenças, de brancas e pretas peças, que é onde começa “eu” e aonde termina “você”. Sartre preconizava isso quando disse: “o inferno são os outros”. A guerra é a maior expressão da loucura humana, nada deve justificá-la e não é tempo de revidar, não é tempo de negar a doença, é tempo de tratar dela.

Não é consenso do mundo atacar o inimigo do país do Ondéquistão. Ninguém quer mais criancinha morrendo só porque, uma nação não acredita que a vida não pode ser diferente dos seus filmes de ação. Queria que tudo se resolvesse em paz, mas acabo de ver o nome da resposta americana: justiça infinita. Não adianta meu Deus, eles ainda estão pensando que é filme. Help me John Lennon!

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