CULTURA

Um príncipe defende a água

Keli Boop / Publicado em 13 de março de 2002
Uma fábula infantil de aproximadamente 12 minutos propõe o debate para uma das questões ambientais mais polêmicas nas últimas décadas: a preservação e o tratamento da água no planeta. Não esqueçamos que o dia 22 deste mês é o Dia Mundial da Água.

Foto:Claudius Ribeiro Ramos

Uma fábula infantil de aproximadamente 12 minutos propõe o debate para uma das questões ambientais mais polêmicas nas últimas décadas: a preservação e o tratamento da água no planeta. Não esqueçamos que o dia 22 deste mês é o Dia Mundial da Água.

Foto:Claudius Ribeiro Ramos

O fio condutor do enredo é simples e conta a experiência de um menino que vive em um lixão perto de um arroio. O garoto descobre no rio uma passagem para um lugar onde a natureza está intocada e as águas são cristalinas. É ali que ele vê, pela primeira vez, um peixe vivo. Começa, então, a história O Príncipe das Águas, curta-metragem em 35mm, com roteiro de Werner Schünemann em parceria com David Simões Pires. O filme chega às telas de cinema até o final do mês de maio e a previsão é que participe do próximo Festival de Gramado.

O Príncipe das Águas faz parte de um projeto educativo da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), idealizadora e patrocinadora do projeto, resultado de um investimento de R$ 100.000,00. Além do patrocínio da Corsan, o filme recebeu ainda o apoio da Prefeitura de Novo Hamburgo e de dois hotéis (Vivendas e Cabanas do Sul), de São Lourenço do Sul.

“Eu já tinha um rascunho da história e, em uma conversa com o Dieter Wartchow (diretor-presidente da Corsan), durante as filmagens de Mar Doce, (a Companhia foi quem pagou o cachê do ator Carlos Alberto Riccelli), descobrimos que havia um interesse mútuo em levantarmos a discussão da água e a preservação ambiental. Aí, como eu já tinha a história…”, relata Werner.

Com uma mistura de didática e lirismo resultou um filme que pretende proporcionar ao espectador não só a denúncia e revelação da depredação, mas também mostrar a existência de um ambiente livre da poluição. “A água é um bem da vida e precisa ser preservado para garantir o futuro da humanidade e se constitui num direito de cada ser humano. O acesso para todos somente será garantido a partir de uma compreensão educacional e cultural que hoje inexiste na sociedade brasileira e mundial. Educação e cultura serão instrumentos chave para compreender a água como elemento vital à vida”, explica o diretor-presidente da Corsan, Dieter Wartchow.
Segundo ele, a Corsan pretende veicular o filme em escolas, cinemas e TVs. O diretor Werner Schünemann, por sua vez, está otimista com a receptividade que O Príncipe das Águas terá entre os espectadores. Ele acredita que o curta-metragem tem chances de percorrer o mundo, pois a temática é atual e universal. “A história é sobre a criação de uma consciência ambiental em um menino. É um rito de passagem. É quase surrealista”, entusiasma-se.

O fabulista da trama é o ator Carlos Alberto Riccelli (ele também participa de Mar Doce) e a narração foi realizada em um estúdio de Los Angeles. No elenco, a participação especial do ator Zé Victor Castiel que, segundo Werner, interpreta “o ogro mais feio da história do cinema brasileiro”, do garoto Rodrigo Bianchi, morador da Ilha da Pintada, e do pescador de Tramandaí, há 32 anos, José Joelson Góes. O diretor explica que os atores foram escolhidos entre gente comum, a partir de um trabalho de pesquisa da produção que percorreu o Estado em busca de pessoas que pudessem incorporar os personagens. Segundo ele, Rodrigo é um ator intuitivo e foi selecionado não só por ser nativo da ilha, como também por sua rara sensibilidade.

O Príncipe das Águas, que teve locações nos arroios Grande e Caraha, em São Lourenço do Sul e no Aterro Sanitário de Novo Hamburgo. recebeu apoio da Prefeitura de Novo Hamburgo e de dois hotéis (Vivendas e Cabanas do Sul), de São Lourenço do Sul.

Embora ainda não exista uma previsão de data para o lançamento do filme em formato de vídeo, a Corsan deverá iniciar a distribuição até no primeiro semestre. As escolas interessadas devem fazer contato com a Corsan pelos telefones (51) 3215 5690 / 3215 5691.

Bate-papo com o diretor

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Foto: Claudius Ribeiro Ramos

Foto: Claudius Ribeiro Ramos

Extra Classe – Você foi premiado com o Candango, em Brasília, um dos principais prêmios do cinema brasileiro, concorrendo com um jovem-ator-promissor-global, que é o Selton Mello, que atuou no aclamado Lavoura Arcaica, de Luis Fernando Carvalho. Qual foi a sua sensação ao receber o prêmio?
Werner – Ganhei vários prêmios como diretor e roteirista, mas essa foi a primeira vez como ator. Achei muito mais emocionante porque o ator está muito exposto. A gente se sente um pouco despido. O diretor é um personagem um pouco mais oculto. Realmente fiquei muito emocionado, foi um momento de felicidade eufórica, porque apostei todas as fichas o que não significa que eu não tenha críticas enquanto um processo de aperfeiçoamento de um trabalho.

EC – Qual a importância do prêmio para a sua carreira de 21 anos dedicados ao cinema?
Werner – O prêmio é importante para a carreira enquanto confirmação formal de um trabalho já reconhecido pelo público. Percebo na rua, nos autógrafos a admiração do expectador que foi assistir ao Netto.

EC – De 1980 a 1983 você foi professor de História. Como foi essa experiência?
Werner – Era um garoto quando lecionei História na Fundação Evangélica da Igreja Luterana de Novo Hamburgo. Foi uma experiência um pouco pesada. A escola, por ser um agrupamento de um grande número de pessoas, quando não tem noção de diciplina vira uma balburdia. Entretanto, as questões diciplinares se sobrepõem a outras questões e a escola tem no professor mais um reformador do que um professor. Eu era muito cobrado pelos colegas por um certo liberalismo excessivo.
A gente associa educação à escola e a escola à educação. Mas não é bem assim. Nem a educação aponta para a necessidade de uma escola e nem a escola aponta necessariamente para a educação. Gosto muito de ensinar, mas concordo com Piaget e Foucault que diziam que as grandes prisões humanas são a fábrica, a cadeia, o hospital, o hospício e a escola. Dos 21 aos 24 lecionei e percebi que estava contribuindo mais para criar seres obedientes do que seres pensantes. A diciplina escolar é tão cruel que acaba se sobrepondo às virtudes do aprender. A minha decepção não foi com o ato de ensinar, não foi com o aluno, mas com o sistema, o conceito de escola que está errado.

EC – Você é reconhecido também por seu trabalho político no meio cinematográfico. Foi um dos fundadores e comandou a APTC (Associação de Produtores e Técnicos Cinematográficos do RS). Foi também um dos criadores e o primeiro diretor Fundacine (Fundação de Cinema do Rio Grande do Sul) e é o representante da classe no Conselho Municipal de Cultura de Porto Alegre. De que forma você analisa o problema da captação de recursos para o cinema?
Werner – O processo de captação de recursos é lento porque o interesse da empresa é muito esporádico. A solução para o cinema não são os miseráveis prêmios do Ministério da Cultura, mas as várias formas de financiamento que devem ser melhor aproveitadas como linhas de crédito, investimento a fundo perdido, por exemplo. Nos EUA a captação de recursos data de 1932, estamos muito distantes dessa realidade e temos muito caminho ainda a percorrer.

EC – Qual o seu próximo trabalho como ator?
Werner – Provavelmente em março comece a atuar, ao lado de Betty Faria, em Beijos Confiscados, do diretor Carlos Reichenbach. As filmagens serão no Rio de Janeiro e em Cidreira. Serei o antagonista da Betty. Interpretarei um vilão abjeto, um homem sem caráter. Um papel que qualquer ator gostaria de interpretar. O roteiro é ótimo.

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