CULTURA

Feira do Livro o ano todo

Da redação / Publicado em 12 de outubro de 2002

“Não há talvez dias da nossa infância que tenhamos tão intensamente vivido como aqueles que julgávamos passar sem tê-los vivido, aqueles que passamos com um livro preferido”. A partir dessa citação do livro O Prazer na Leitura, de Marcel Proust fica clara a importância que a leitura deveria ter na formação de cada um. A Feira do Livro, este ano em sua 48ª edição, alia leitura à atividades culturais e conta com uma programação que dura o ano inteiro. O objetivo principal das atividades promovidas antes e depois da feira é não só aumentar a quantidade de público leitor como também a qualidade deste leitor.

Na verdade a Feira do Livro não é composta somente por um período pré-determinado. Há uma outra feira que acontece além da que estará à disposição do público de 1º a 17 de novembro na Praça da Alfêndega. Esta outra feira que ocorre antes e depois do evento em si e de forma mais intensa e freqüente fala ao público infantil e para quem intervém na leitura, através de atividades prévias e posteriores ao evento. Os objetivos da feira são a popularização do livro e a promoção da leitura. Os dias da Feira do Livro representam o ápice de todo o processo do evento, além do espaço para a divulgação cultural e por consequência a venda de livros a preços mais camaradas. Atualmente, a Feira do Livro de Porto Alegre está entre as dez mais importantes da América Latina e da Península Ibérica em termos de projeção.

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Foto: René Cabrales

A Feira do Livro na Praça da Alfândega é o ápice de um processo que dura o ano todo

Foto: René Cabrales

Segundo a coordenadora da programação infantil e para jovens da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), Sônia Zanchetta, todas as atividades da Câmara são direcionadas para a feira. “Desde o ano de 1999, os trabalhos prévio e posterior crescem. Há escolas que se reúnem para comprar livros e já sabem antecipadamente o que querem comprar”, conta. Quanto ao retorno do público, o infantil está entre os mais participativos. A partir dessa situação, vale verificar quem está por trás da formação de novos leitores. “Os mediadores da leitura devem reparar que, na literatura, é preciso um trabalho de sedução junto às crianças”, observa. A missão dos mediadores é fixar o livro no imaginário e explorar o potencial da obra junto ao dia-a-dia da criança. Para auxiliar os mediadores, a CRL tem um trabalho de assessoria que tem por objetivo qualificar e fortalecer os projetos, auxiliando na captação de recursos.

Também há uma programação para melhorar as condições de leitura do público adulto que consiste em oficinas, círculos de leitura, encontros e cursos. “Há grupos de leitura que trabalham até com públicos específicos. A intenção é aproximar esses grupos e fortalecê-los para que se tornem permanentes”, diz Jussara Rodrigues, coordenadora da programação adulta da CRL. Aspectos como a leitura, a criação textual, como colocar o livro no mercado e a percepção de que a literatura está em tudo são discutidos.

“Em primeiro lugar, é necessário gostar de ler. Para isso não é regra que o professor mais indicado seja o de português”, aponta a produtora cultural da CRL, Nóia Kern. Já quanto ao baixo índice de leitura dos brasileiros, Nóia alerta que a cada mudança de governo não se tem a intenção de dar continuidade aos projetos do anterior e isso acaba interferindo na construção de uma política de incentivo à leitura de longo prazo. O mesmo vale para as escolas. Conforme Nóia, se as instituições contarem com um planejamento escolar eficiente, isto é, uma proposta político-pedagógica fundamentada, torna-se mais fácil veicular a formação de novos leitores. “A feira une boas idéias para formar um bom projeto”, completa. Ao perceber a realidade de alguns professores e dos espaços culturais do Brasil, é possível perceber que muitos desconhecem os livros mais interessantes e as bibliotecas aparecem deficientes e nada convidativas. “O professor precisa passar por uma espécie de “re”formação para reavaliar aptidões, conceitos e conhecimento”, defende.

Por outro lado, o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro com maior índice de leitura, cerca de 2,3 livros por pessoa ao ano, que conforme as pesquisas da Câmara Brasileira do Livro (CBL) equivalem ao dobro do restante do país. Esse número é baixo se comparado aos países europeus e asiáticos, onde se lê até 30 livros ao ano. Para o vice-presidente da CRL e coordenador de programação da feira, Vitor Hugo Knob, o livro é um produto nobre e, dessa forma, qualquer empresa gosta de apoiar as atividades da feira. Mas sabe-se que o preço de um livro é diretamente proporcional à tiragem, por isso é caro.

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