EDUCAÇÃO

Fórum Mundial de Educação será propositivo

Ana Esteves / Publicado em 25 de dezembro de 2002

Educação e Transformação. Esse será o tema do Fórum Mundial de Educação (FME) 2003, que acontece de 19 a 22 de janeiro, em Porto Alegre. Depois de se debruçar sobre o tema da Educação e Globalização, proposto em 2001, o FME dirige-se neste ano para uma tendência mais propositiva. “O tema do primeiro Fórum que trouxe muitos diagnósticos, agora, sob o argumento da Educação e Transformação, tende a ser mais propositivo, no sentido de indicar caminhos em defesa da educação pública e de qualidade”, declara o Coordenador Geral do evento e Secretário Municipal da Educação de Porto Alegre, Eliezer Pacheco. O tema da segunda edição do Fórum se desdobrará em três conferências, nove debates temáticos, sete especiais e 38 da programação simultânea (confira quadro).

Para Moacir Gadotti, diretor do Instituto Paulo Freire (IPF), uma das entidades que integram o Comitê de Organização do Fórum, ele tem importância muito grande em nível organizativo. “Através dele, a luta dos educadores perpassa as trincheiras da escola pública, da educação popular, do sindicato, das igrejas, dos partidos, dos movimentos sociais populares, para que os educadores fortaleçam a unidade e o empoderamento das lutas”. Gadotti, que também é o professor titular da Universidade de São Paulo (USP), considera que o Fórum tem caráter reflexivo, com o aprofundamento da teoria. “Ele trabalha com a noção de que a educação é maior do que os educadores, pois congrega pessoas: não só docentes, mas pais, crianças, jovens, a comunidade escolar como um todo”.

Citando o tema deste ano, Gadotti afirma que a transformação não se dá só pela ação, mas pela ação atrelada à teoria transformadora: “Não há prática sem teoria transformadora, com a perspectiva da utopia, da esperança, que é o que joga a gente para o que não foi feito ainda”, concluiu.

Ao estabelecer uma comparação entre o Fórum 2001 e o 2003, Eliezer Pacheco aponta um significativo crescimento: “Em 2001 participaram 15 mil pessoas, educadores oriundos de 60 países. Neste ano, já temos cinco mil inscritos e esperamos receber cerca de 20 mil pessoas. Já temos a confirmação de 156 participantes de 32 países”, declara. Em relação às especulações sobre o apoio, ou não, do governador eleito Germano Rigotto às edições futuras do FME, Pacheco foi categórico: “Não temos perspectiva de como será com a próxima gestão, mas, se o apoio vier será bem vindo, afinal trata-se de um encontro plural e não de esquerda”. Em contrapartida, ele acredita que o Fórum 2003 tem grande identidade com a linha de governo do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva, “podendo inclusive trazer boas contribuições ao governo Lula”, expõe.

A diretora do Sinpro/RS, Cecília Bujes, destaca a relevância do Fórum com “a sua grande amplitude de tendências dentro da educação”. Ela lembra que o Sinpro/RS, uma das instituições que formam o Comitê de Organização do FME, trabalhou bastante para que o Fórum Mundial de Educação acontecesse imediatamente antes do Fórum Social Mundial, que se realizará de 23 a 28 de janeiro em Porto Alegre. “Para facilitar a participação das pessoas em ambos os eventos”. Ela diz ainda que o Sindicato disponibiliza no seu portal (www.sinpro-rs.org.br) informações e a programação completa do Fórum de Educação. “Além disso estamos orientando os professores sócios sobre como fazer as inscrições”, completa Cecília.

O Fórum acontecerá em dos pólos centrais: no Ginásio Gigantinho, no bairro Menino Deus (Av. Padre Cacique, 1800) e nos armazéns do Cais do Porto, na Av. Mauá, no Centro de Porto Alegre.

DEPOIMENTOS
Esquecer-se da educação pública como um direito, um pacto coletivo, um princípio do bem-estar e uma base para o crescimento das sociedades, não fará outra coisa que transformar a educação em uma mercadoria.”
Marina Subirats, doutora em Filosofia pela universidade de Barcelona e presidente da Comissão de Educação e Cultura na Prefeitura de Barcelona

“A Educação como Direito Humano Básico tem sido suplantada pela violência econômica e cultural e hoje percebemos, com preocupação, que os modelos da sociedade encontram-se em um processo de desintegração e reconstrução contínua frente à norma redutora da ocidentalização compulsiva que, forçosamente, se quer impor aos povos.”
Ronald Lárez, doutor em Ciências Econômicas e Empresariais pela Universidade Autônoma de Barcelona e presidente internacional da Associação de Educadores da América Latina e Caribe (AELAC)

“A única forma de universalizar a educação pública é através de políticas de Estado.”
Roberto Leher, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ex- presidente do Sindicato Nacional dos Docentes e Instituição de Ensino Superior (ANDES- Sindicato)

“Em muitos países, e sob a pressão dos planos de ajuste estrutural do FMI e do Banco Mundial, o Estado se desobriga das tarefas educativas.”
Régine Tassi, membro do Instituto de Pesquisas Históricas, Econômicas, Sociais e Culturais (IRHESC), da Federação Sindical Unitária (FSU), em Paris

“Uma das principais finalidades e razões de ser da educação é seu rol preventivo. A prevenção assumida em todas as suas significações, como a prevenção da violência, da discriminação, da destruição e dos desastres ambientais , da pobreza, das drogas, da desigualdade social, da corrupção”.
Ramón Moncada Cardona, diretor do programa Corporación Región Medellín, Colombia

“A educação deve ser tratada como um direito, um bem público.”
Rick Clugston, diretor executivo do Centro para o Respeito pela Vida e pelo Ambiente, colunista e editor da Ética da Terra e editor do Jornal Internacional de Sustentabilidade na Educação Superior (MCB University Publications)

“A educação é a chave do motor do desenvolvimento humano, na sua dimensão individual, coletiva e ecológica.”
Agostinho dos Reis Monteiro, doutor pela Universidade de Paris e pela Universidade de Lisboa.

“A escola é ao mesmo tempo lugar de descoberta da autonomia e lugar de socialização.”
Jean-Marc Nollet, Ministro da Infância da comunidade Francesa na Bélgica., Licenciado em Ciências Políticas, pela Universidade Católica de Louvain, Bélgica.

“A única saída para que se tenha a Educação como direito é a superação desta sociedade.”
Aluizio Lins Leal, especialista em Consultoria Industrial e em Avaliação de Impactos Ambientais

“O papel da educação é ambíguo no sentido de que pode contribuir na multiplicação desta síndrome de intolerância e fundamentalismo ou pode, pelo contrário, ter um papel importante na gestação de personalidades flexíveis”’.
Ricardo Cetrulo, do Uruguai, diretor do Centro de Reflexão Alternativa, do departamento da Fundação Instituto do Homem e supervisor da Universidade Popular, filial do Instituto do Homem, na cidade de Maldonado

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