OPINIÃO

Olha o tamanho do minguinho

Publicado em 20 de março de 2003

Que maravilha ser pai, descubro. Chegou minha vez, já meio pra vovô, de escutar um “toma que o filho é teu”. São mesmo indescritíveis as emoções do parto e dos primeiros momentos de um ser humano fora da barriga da mãe. A gente sempre ouve dizerem coisas assim, mas talvez sem dar o devido crédito ou atenção, até que se vê ali, flutuando, com aquele bichinho nos braços. Fantástico. Ainda mais que, contrariando as expectativas, as primeiras semanas foram de absoluta calma, mamar de quatro em quatro horas e dormir, quase nenhum choro. É bem possível que… ôpa, peraí que eu vou lá ver porque tá chorando.

Gases. O de sempre. Até dar um arrotinho, chora um pouco, nada que incomode. Às vezes mama mais um pouquinho e passa. Onde é que eu estava mesmo? Não importa. É uma sensação incrível, ser pai. E certamente ainda mais incrível, intangível para os homens, é a experiência da maternidade, de estar grávida, de parir, de amamentar. Não há um fio de cabelo da curiosidade paterna que consiga penetrar na relação entre a mãe e o bebê na hora da amamentação. Morram de inveja, pais, apertem suas tetas pra ver se sai um leitinho, e não conseguirão mais do que girar em volta daquela simbiose e intimidade absolutamente… é, tá chorando de novo, deve ter mamado mais um pouco. Vou lá ver.

Um doce, a Maria Clara. Dá essas choradinhas, mas não chega a incomodar. Em seguida passa e a gente retoma. Eu ia escrever “absolutamente” o quê? Não importa. O certo é que a gente fica sem nenhum outro assunto na vida, óbvio, e é um tal de “olha o tamanho do minguinho e o cabelinho loirinho com redemoinho”, inhazinha-bi-bilu-babá que não tem fim. Como não tem fim o périplo de vovós e madrinhas que vêm abençoar e dar conselhos, de vez em quando se aproveita um. Peraí que eu vou abrir a porta.

Uma prima. A segunda, hoje. Conseguiu acordar a criança. E olha que não dormiu bem a noite. Mas a gente evita dar funchicória ou luftal, esses troços cheios de sacarose. Maria Clara vai ser militante do Greenpeace, como é que eu vou explicar que dava açúcar pra ela quando era bebê? Não, deixa que o papai entra em ação enquanto a mamãe toma banho. Embalo o carrinho com a esquerda, ainda me sobra a direita pra escrever. Nada que atrapalhe o trabalho. Onde é que eu estava, mesmo?

No Greenpeace, era isso, eu acho. Melhor usar frases curtas, agora. Entre uma embaladinha e outra. Ainda chora um pouquinho. Mas nada que atrapalhe muito. Quem sabe trocando de posição. Ou tapando melhor. O bico, não, não quer o bico. Melhor pegar no colo. Coisa mais linda do mundo. Faz uma carinha de Mr. Magoo. Eu ia falar de algum outro assunto, mas já não lembro. Coisa mais linda. Não tem igual nesse mundo. E não vai deixar o papai trabalhar de jeito nenhum. Peraí que eu vou no greenpeace da esquina comprar um luftal, mês que vem eu volto.

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